Depois de recuar em 2022, a produção de fécula de mandioca cresceu com certa força em 2023, atingindo o maior volume em oito anos. Esses dados são resultados de levantamento anual realizado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a Abam (Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca), que mapeia e caracteriza a indústria e mensura a produção de fécula e sucedâneos no Brasil.
O levantamento do Cepea/Abam mostra que foram produzidas no Brasil 676,7 mil toneladas de fécula de mandioca em 2023, aumento de 29% frente ao ano anterior. Trata-se do maior volume desde 2015. Segundo pesquisadores do Cepea/Abam, essa recuperação na quantidade de fécula se deve ao maior volume de esmagamento e, sobretudo, à elevação no teor médio de amido, que influenciou a alta no rendimento industrial.
Para atingir esta produção, foram processadas 2,63 milhões de toneladas de mandioca em 2023, elevação de 2,9% em relação ao ano anterior – o avanço na produção foi verificado em todos os estados acompanhados. O rendimento industrial, por sua vez, aumentou 11,3%.
A maior produção pressionou as cotações da mandioca e dos derivados. No caso da fécula, a desvalorização nominal foi de 11,6% entre 2022 e 2023, segundo dados do Cepea. Ressalta-se, no entanto, que, como a produção foi 29% maior, houve crescimento de 13,8% do Valor Bruto da Produção (VBP) da indústria, que somou R$ 2,83 bilhões. Em valores reais (deflacionamento pelo IGP-DI), a elevação do preço no ano é de 18,1%.
Observou-se que, em 2023, os segmentos mais voltados ao consumo alimentício foram os principais destinos da produção, ao passo que os volumes enviados à indústria (não alimentícia) recuaram. Ao segmento de massas, biscoito e panificação, foram destinados 28,6% do total de fécula produzido no ano passado, seguido pelo atacadista (com 11,7% do total), varejistas (6%), papel e papelão (5,9%), outras fecularias (4,7%), frigoríficos (5,6%), tapioca semipronta (4,9%) e indústrias químicas (1%). Setores não identificados foram destino de 31,6% da fécula. Os dados indicam ainda que 19,3% das fecularias exportaram em 2023, totalizando 19,3 mil toneladas – esse volume, por sua vez, corresponde a 82% do apontado pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior) como escoado pelo Brasil no ano passado.
E o crescimento na produção de 2023 se deu em um cenário de demanda arrefecida, o que fez com que os estoques de passagem das fecularias aumentassem em 26%. Assim, o volume estocado no final do período representou 11,4% da produção total, sendo levemente menor que o de 2022.
O levantamento do Cepea/Abam apontou que a produção de amidos modificados somou 94,9 mil toneladas em 2023; a de polvilho azedo, 70,3 mil toneladas; a de tapioca, 32,5 mil toneladas; a de misturas para pão de queijo, 30,6 mil toneladas; e a de polvilho doce, 16,5 mil toneladas. E o destaque em 2023 foi a produção de misturas para pão de queijo, que cresceu 5,8 vezes frente ao ano anterior. Já as produções de polvilho doce, tapioca e amidos modificados recuaram 13,1%, 9,3% e 3,7%, respectivamente.
EXPECTATIVAS
Agentes do setor consultados pelo Cepea/Abam acreditam em novo avanço na produção de fécula em 2024 – a estimativa é de alta de 17,5%, alcançando 794,9 mil toneladas. Vale destacar que, no acumulado do primeiro trimestre deste ano, o volume de fécula produzido já passa das 185 mil toneladas, sendo 18% acima da registrada no mesmo período de 2023.
DADOS
Para levantar informações sobre a produção de fécula no Brasil, o Cepea e a Abam tiveram acesso a dados repassados por quase 90 fecularias espalhadas em 60 municípios do País, dos estados do Paraná, de Mato Grosso do Sul, de São Paulo, de Santa Catarina, da Bahia, de Alagoas e de Pernambuco.