REINALDO SILVA
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“Eu sou da enfermagem, com muito orgulho, com muito amor. Mas, quero avisar, se for preciso, vamos parar”. A frase entoada por aproximadamente 300 pessoas na manhã de sábado (10) em Paranavaí ecoou por grupos de mensagens e nas redes sociais e os profissionais sinalizam a possibilidade de paralisar as atividades por 24 horas, caso a suspensão temporária do piso salarial seja mantida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Trabalhadores e apoiadores de toda a região participaram da manifestação que ganhou ruas da região central de Paranavaí. Saíram da Praça da Xícara por volta das 10h30, ergueram faixas e cartazes que pediam valorização – não somente com aplausos e palavras de reconhecimento ao esforço da classe, mas também com a aplicação do salário mínimo estipulado por lei.
Uma das organizadoras do protesto, a enfermeira Jane Aparecida Camargo disse que é preciso chamar a atenção da sociedade sobre a importância dos profissionais da saúde em hospitais, consultórios, clínicas e unidades de saúde. Antes mesmo da pandemia de Covid-19, estavam desgastados pelas longas jornadas de trabalho com remuneração incompatível. Há quem precise de dois, três empregos para conseguir renda mensal digna.
A situação foi agravada com a crise sanitária que chegou ao Brasil em 2020. As equipes de enfermagem se posicionaram na linha de frente no combate à Covid-19, expostas aos riscos de contágio, agravamento dos sintomas e morte.
A enfermeira Samira Silva também esteve entre as organizadoras da passeata do último sábado. Chamou a atenção para o fato de a classe esperar pelo piso salarial há 30 anos, mas nunca ter se unido como agora para clamar por valorização. “Estamos vendo isso acontecer em todo o País.”
Na opinião da enfermeira Thayse Fernanda Colombo Cambiriba, de São João do Caiuá, a categoria está se sentindo desvalorizada e invisível. “Depois de tudo o que passamos na pandemia, criamos uma grande expectativa com a aprovação do projeto de lei [sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro em agosto].” A suspensão do pagamento do piso salarial por 60 dias, imposta pelo ministro Luís Roberto Barroso, foi recebida com espanto e indignação.
Na sexta-feira (9), portanto um dia antes da manifestação em Paranavaí, os ministros do STF começaram a votação em plenário virtual, a fim de sustentar ou retirar a decisão de Barroso. Até agora, a maioria seguiu o entendimento. O resultado final poderá levar até uma semana para ser conhecido.
Segundo o ministro Luís Roberto Barroso, antes de aplicar o piso salarial, é necessário que municípios, estados e União apontem os impactos financeiros dos novos valores, indicando, inclusive, a fonte de recursos para o pagamento.
A lei do piso da enfermagem prevê que enfermeiros contratados em regime de Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) receberam, no mínimo, R$ 4.750 mensais. Já o piso de técnicos de enfermagem será de R$ 3.325 e o de auxiliares e de parteiros, R$ 2.375.
Paralisação – Sobre a possibilidade de paralisação por 24 horas, o Diário do Noroeste não conseguiu contato com o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde. As informações extraoficiais indicam que parte dos profissionais suspenderia os trabalhos, mantendo o mínimo necessário previsto em lei, de 30%.