O IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná) e a Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR) elaboram um projeto de pesquisa em São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, para desenvolver um sistema de irrigação inteligente, capaz de evitar o desperdício de água no cultivo de hortaliças. O sistema deve assegurar o fornecimento de água para as plantas na hora em que elas mais precisam e na quantidade exata.
Segundo o extensionista Thiago Hachmann, o IDR-Paraná já orienta produtores do município sobre o uso de tecnologia que gerencia o funcionamento dos sistemas de irrigação, através de sensores de umidade e temperatura do solo. Ele diz que esta solução racionaliza o uso da água, mas pode ainda ser aperfeiçoada.
“É este o propósito da pesquisa iniciada. Além destes instrumentos vamos usar informações das estações de monitoramento do tempo – mantidas pelo Simepar e IDR-Paraná em todo o Estado – e a inteligência artificial para uma irrigação planejada nas culturas”, destaca.
Thiago conta que a iniciativa é inédita no País e detalha de que forma ela representa avanço em relação ao que é praticado atualmente. “Os sensores instalados no solo acionam a operação do sistema de irrigação levando em conta os índices de umidade e temperatura do solo no momento, mas podem fazer isso na véspera de chegada de uma frente fria”, disse. “Desta forma, com a previsão de chuva, a água aplicada poderia ser poupada, além de evitar prejuízo para a cultura, considerando que água em excesso no solo também pode comprometer o desenvolvimento da planta”, explica.
Na avaliação do técnico, atualmente cerca de 30% da água utilizada na irrigação das hortaliças, plantadas em São José do Pinhais, é desperdiçada. “Levando em conta que temos 4 mil hectares cultivados e que, durante um ciclo de mais ou menos três meses, o produtor precisa utilizar cerca de 120 mil litros de água para irrigar um hectare cultivado com hortaliças, chegamos a uma perda de 144 mil metros cúbicos, em apenas um cultivo, como o de repolho ou couve-flor, por exemplo. Como durante o ano são realizados mais do que um ciclo de cultivo, este número cresce ainda mais”.
O projeto, intitulado “Irrigação de Baixo Impacto Ambiental”, será aplicado na Bacia Hidrográfica do Miringuava, região que é grande polo de produção de hortaliças na Região Metropolitana de Curitiba. O trabalho será realizado em três anos, com aplicação de R$ 1,1 milhão que será repassado pela Finep, Financiadora de Estudos e Projeto, órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, por meio de uma chamada pública do CT-Hidro
O professor Douglas Renaux, coordenador do Laboratório de Inovação e Tecnologia em Sistemas Embarcados e Energia, da UTFPR-Curitiba, conta que o propósito é fazer uma irrigação mais tecnológica possível. “Para isso, vamos fazer uso de inteligência artificial rodando na nuvem. Ou seja, não será um computador instalado na propriedade do agricultor, mas operando fora”, explica. “Máquina de grande porte, que coleta informação de sensores do solo, sensores de condições meteorológicas, serviço de previsão do tempo, informação sobre a cultura, seu estágio de desenvolvimento. Então, a partir de toda essa informação esse processamento na nuvem, usando técnicas de inteligência artificial, vai indicar se é necessário ou não fazer a irrigação num determinado momento”.
Para ele, existe hoje no ambiente vários fatores contribuindo para que a iniciativa seja um sucesso. Entre eles, a complementariedade das competências do IDR-Paraná e a UTFPR. “Além disso, com a colaboração de diversas organizações, com o IDR-Paraná trabalhando há algum tempo na conscientização sobre o uso racional da água, mais a Sanepar, e também o fomento do governo federal para o projeto, é o momento tecnológico apropriado para conseguirmos uma boa solução”, acrescentou.
PLANTIO DIRETO – O trabalho se soma a outra iniciativa tecnológica já colocada em prática no município de São José dos Pinhais e que também contribui para a preservação da água: o Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH), que permite a redução do escorrimento superficial em situação de chuva mais forte.
Segundo o técnico, este sistema utiliza a palhada – obtida com o plantio de plantas de coberturas, como a aveia. Esta palhada fica na superfície da área cultivada e, além de matéria seca, produz raízes que, após processo de decomposição, formam pequenos túneis no solo, deixando-o mais permeável à água da chuva. “Água que fica ali, para atender a necessidade da cultura, também infiltra para aumentar a reserva dos mananciais”, diz Tiago.
Outros benefícios do SPDH na palha é a redução do uso de herbicidas para o controle de plantas invasoras e, consequentemente, diminuição dos riscos de contaminação dos mananciais pelos transporte do agrotóxico com as chuvas. Além de preservar a saúde da família do produtor e seus colaboradores que ficam menos expostos à ação nociva desses agroquímicos.
Atualmente, o município tem cerca de 40 agricultores que adotam o sistema, aplicando a tecnologia numa área de aproximadamente 200 hectares.
A Bacia do Miringuava, onde é realizada toda esta ação, é utilizada para captação de água pela Sanepar. Ela abastece atualmente cerca de 500 mil pessoas e, após a conclusão de uma nova barragem, em construção, tem previsão de atender aproximadamente 800 mil pessoas. A água captada é inserida no SAIC (Sistema de Abastecimento Integrado de Curitiba e Região Metropolitana).
Fonte: AEN