IGOR GIELOW
MOSCOU, RÚSSIA (FOLHAPRESS) – A Rússia decidiu atacar a Ucrânia. Em comunicado pouco antes das 5h (23h no Brasil), o presidente Vladimir Putin disse que anunciou uma operação militar para “proteger a população do Donbass”, a região do leste do vizinho na qual ele reconheceu áreas rebeldes pró-Rússia na segunda (21).
Até aqui, não há sinal de uma invasão total, já que Putin parece estar cumprindo o que havia prometido: enviar tropas para as áreas rebeldes. Mas equipes de TV da rede CNN ouviram explosões à distância na capital ucraniana, Kiev, e na principal cidade próxima do Donbass, Kharkiv.
Tudo indica que os russos estão bombardeando posições na área do leste que está dentro das antigas fronteiras de Donetsk e Lugansk, as províncias que têm hoje menos da metade de seu território dominado pelos aliados de Putin.
Se isso se confirmar, o que seria uma invasão de fato de uma área ocupada há oito anos se torna uma guerra contra forças ucranianas.
Segundo o comunicado, Putin disse que não poderia tolerar mais ameaças do vizinho e que as circunstâncias demandavam uma ação decisiva da Rússia no leste ucraniano. O presidente russo defendeu a opção pela operação para “proteger as pessoas”. De acordo com ele, a intenção não é ocupar o território ucraniano.
Ele exortou soldados do país vizinho a baixarem as armas e irem para casa e disse que a Rússia vai reagir em caso de interferência externa.
A responsabilidade por um eventual derramamento de sangue, segundo ele, “estará na consciência do regime de Kiev”.
O anúncio foi feito exatamente ao mesmo tempo que uma reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU debatia a crise. Na abertura da reunião, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, fez um pedido claro ao líder russo. “Se uma operação está sendo preparada, eu realmente digo do fundo do coração: impeça suas tropas de atacar a Ucrânia. Dê uma chance a paz. Muitas pessoas já morreram”.
Mais cedo nesta quarta, Putin dissera que estava disposto a negociar uma solução diplomática para a crise com o Ocidente, desde que respeitados os “interesses e a segurança” de seu país. Para ele, “inegociáveis”.
Do outro lado da fronteira, o Parlamento da Ucrânia aprovou nesta quarta-feira (23) uma declaração de estado de emergência válida para todo o país, exceto para as duas regiões no leste, onde já há uma medida do tipo em vigor desde 2014.
Nessa situação, o governo pode impor restrições de deslocamento, na distribuição de informações e no que é divulgado na mídia, além de introduzir conferência de documentos de cidadãos. O presidente Volodimir Zelenski propôs a introdução do estado de emergência mais cedo, diante de uma possível ofensiva militar russa de larga escala.
À noite, em pronunciamento de 10 minutos divulgado pelo aplicativo Telegram, disse que a “Rússia aprovou uma ofensiva contra a Ucrânia” e acusou o presidente Vladimir Putin de não responder a seus pedidos por reuniões. “A resposta foi o silêncio”, disse, em tom emocionado, falando em russo.
Segundo Zelenski, seu país está cercado por até 200 mil soldados de Moscou, e o que ele busca não é o conflito. “O povo ucraniano quer paz. O governo da Ucrânia quer paz e está fazendo tudo o que pode para alcançá-la”, afirmou.
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