Cristina Navalon
Aristóteles uma vez disse que o homem é um animal social. Desde sempre, criamos laços e fomentamos todos os tipos de conexões – amorosas, pessoais e profissionais. Se relacionar é o que nos torna humanos. Entretanto, um relacionamento deve oferecer um lugar seguro para nos expressarmos, trazendo conforto e confiança. Mas isso nem sempre acontece, e algumas vezes o que deveria levar alívio acaba deixando cicatrizes invisíveis na alma.
Os relacionamentos abusivos (ou tóxicos, na linguagem moderna) são mais comuns do que imaginamos e, em sua maioria, possuem uma explicação psicológica. Eles surgem através da ideia de desenvolvimento humano a partir da relação mãe-bebê. Na fase inicial da vida, a mãe é responsável pela satisfação das necessidades básicas da criança, o que influencia diretamente na formação da identidade e na sua capacidade de estabelecer relações saudáveis.
Em um relacionamento tóxico, esse processo é distorcido, com o agressor muitas vezes assumindo um papel controlado semelhante ao da figura materna. Outro ponto de análise é a “capacidade de estar a sós”, desenvolvida durante a infância. A criança precisa experimentar momentos em que se sinta segura na solidão para desenvolver autonomia. Isso contribui para evitar que a vítima se torne dependente emocionalmente do agressor.
Enquanto o abusivo age de forma manipuladora, tornando-se, paradoxalmente, uma fonte de conforto e ameaça, a vítima se vê forçada a desviar de sua verdadeira identidade para agradar o agressor, resultando em uma perda da própria essência. Também é preciso se atentar a quebra do ambiente facilitador, representado pela relação materna, que pode levar a uma falha na capacidade de confiar, contribuindo para o ciclo de controle e violência.
Ao explorar a influência das primeiras relações na formação da identidade e na capacidade de estabelecer laços saudáveis, podemos compreender melhor os mecanismos ocultos que fomentam os relacionamos abusivos, e dessa forma evita-los.