REINALDO SILVA
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“Vivemos em um país racista. Basta ver as condições em que se encontram as pessoas com mais melanina na pele: a população negra está, na sua maioria, nas periferias das cidades, dos empregos mais bem remunerados, dos espaços de comunicação e de poder. O racismo é estrutural, institucional, ambiental.”
Esta semana, o professor Celso José dos Santos, presidente da Associação Negritude de Promoção da Igualdade Racial (Anpir), usou a tribuna da Câmara de Vereadores de Paranavaí para falar sobre o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro.
O discurso foi pontual. “Queremos superar o racismo.” Citou a professora, filósofa e escritora estadunidense Angela Davis, defensora dos direitos da população negra e das mulheres: “Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”.
Em entrevista ao Diário do Noroeste, o presidente da Anpir disse que o processo é permanente. “Educar para transformar a consciência é um evento de uma vida. Todos os dias, estamos reafirmando que racismo é crime.”
A avaliação é que houve avanços importantes, mas o cenário ideal ainda está muito distante, especialmente porque nos últimos anos “vimos recrudescer o racismo, o ódio, a xenofobia, a misoginia. Essas práticas foram exacerbadas de tal maneira que as pessoas passaram a naturalizar a violência”.
Nesse sentido, é preciso estabelecer ações nas escolas, nas comunidades, nos meios de comunicação, nos espaços de poder. O Mês da Consciência Negra tem papel preponderante, porque volta a atenção da sociedade para o conjunto de lutas do povo negro, desde a época da escravidão até os dias atuais.
Desde o começo de novembro, a Anpir e entidades parceiras promoveram atividades de exaltação à cultura afro-brasileira. Houve apresentações artísticas, rodas de conversa, palestras em escolas municipais e estaduais e exposições.
A professora Ana Cristina de Oliveira, do Colégio Estadual Cívico-Militar Silvio Vidal, no Jardim São Jorge, preparou uma programação que se estendeu de segunda a sexta-feira (20 a 24). Os alunos participaram de mostras de trabalhos, desfiles, danças, rodas de capoeira, palestras e debates.
A elaboração das atividades, disse ao DN, representa valorização do povo afro-brasileiro. “Esse olhar sobre a temática tem oportunizado momentos significativos para os professores trabalharem sobre diversos temas no espaço escolar, tais como racismo, desigualdade e preconceito.”
Além disso, responde a exigências definidas pelas leis federais 10.639/03 e 11.645/08, que tratam da educação para as relações étnico-raciais e o ensino de história das culturas indígena, afro-brasileira e africana.
“Ao refletir sobre esses aspectos, percebemos a necessidade de integrar um movimento coletivo no ambiente escolar. Não devemos supor que seja tarefa de um ou de outro componente curricular, mas deve envolver toda a comunidade, trabalhando a interdisciplinaridade de maneira pedagógica, com questões latentes no cotidiano escolar como a discriminação racial e também o ocultamento da diversidade étnico-racial presente em nossa sociedade”, declarou a professora Ana Cristina de Oliveira.
Homenagens – A Semana da Consciência Negra teve homenagens a personalidades que participam ativamente da história de Paranavaí. Na segunda-feira, a Câmara de Vereadores entregou o Diploma Negritude de Promoção de Igualdade Racial a Agnaldo Souza dos Santos e Osvandir de Brito Cunha.
Agnaldo Souza dos Santos nasceu em Borrazópolis, no interior do Paraná, em 1968. Quatro anos depois se mudou com a família para Paranavaí, onde cresceu e estudou. Participou de competições internacionais de atletismo, é formado em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e tem mestrado, doutorado e pós-doutorado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
É treinador da equipe de atletismo de Paranavaí e já foi convocado inúmeras vezes para dirigir a seleção paranaense. Também esteve à frente da seleção brasileira em 10 competições.
Osvandir de Brito Cunha nasceu em Paranavaí em 1956. Trabalhou em lavouras de café no município de Planaltina do Paraná, depois foi para São Pedro do Paraná e atuou na cultura do bicho da seda. Voltou à cidade natal e em 1995 foi contratado pela Secretaria de Estado da Educação como agente educacional, cargo que confirmou ao ser aprovado em concurso público e soma 28 anos de profissão. É formado em Gestão de Recursos Humanos pela Universidade Paranaense (Unipar) – campus de Paranavaí.
Para o presidente da Anpir, prestar essa homenagem é importante porque garante reconhecimento à população negra. “É uma política de ação afirmativa”, disse Celso José dos Santos.
Ao falar na Câmara de Vereadores, lembrou que nas primeiras discussões sobre a entrega de homenagens a pessoas negras, questionavam: “Não temos que fazer também para o povo italiano, o povo japonês, o povo alemão? Nós da Anpir não temos problema que se faça homenagem a outros povos que contribuíram com a cidade de Paranavaí, com o Estado do Paraná, com o Brasil, mas queremos ser lembrados”.
A opinião de Celso José dos Santos, uma luz começa a brilhar sobre a invisibilidade das pessoas negras. O caminho para mudar a realidade de preconceito e violência ainda é longo, mas a esperança ilumina os passos de quem luta pela igualdade e pela paz.