LUCIANO TRINDADE
DA FOLHAPRESS
Não parecia, mas Rayssa Leal estava nervosa. Entre uma volta e outra de sua apresentação na decisão do skate street nos Jogos de Tóquio, a maranhense dançava como se estivesse brincando.
Os passos de dança que viralizaram foram o jeito que ela encontrou, no entanto, para aliviar a tensão naquele momento.
Com 15 anos recém-completados, quase dois após a histórica medalha de prata na estreia da modalidade em uma Olimpíada, a Fadinha amadureceu, conheceu novas formas de lidar com suas emoções e passou, também, a encarar as competições de uma forma diferente.
O esporte, para ela, deixou de ser apenas uma brincadeira. “Em todos os campeonatos, a gente compete querendo o primeiro lugar. Mas, antes das Olimpíadas, esse não era o meu foco. Eu só queria me divertir. Agora, eu quero me divertir com o primeiro lugar na mão”, diz a skatista à reportagem.
A mudança de mentalidade reflete a transição pela qual ela passa neste momento. Da menina que ficou famosa por andar de skate vestida de fada para a adolescente que sonha em brilhar nos Jogos de Paris, em 2024.
Como as manobras que ela costuma fazer com o skate, esse processo acabou acelerado. Coisas simples, como sair para passear, por exemplo, mudaram da noite para o dia.
“Às vezes, eu queria sair e ficava muito tumulto em cima de mim, com gente querendo tirar fotos. Isso me deixava meio perdida porque até hoje ainda não caiu a ficha do que eu estou me tornando, das coisas que eu já fiz no skate”, conta a mais jovem medalhista olímpica do Brasil –ela tinha 13 anos quando ganhou a prata no Japão.
Para lidar com esse assédio ao mesmo tempo em que tenta preservar sua juventude e continuar fazendo as coisas que tem vontade, a jovem passou a ter o acompanhamento de Gissele Serra Angeliéri, psicóloga esportiva especialista em performance cognitiva.
“Eu e a Gi conversamos muito sobre tudo isso, sobre minha vida pessoal, profissional e escolar também. Ela me deixa mais tranquila para os campeonatos”, destaca Rayssa. “Antes, eu ficava muito nervosa. Não parecia, mas aquela dacinha era por isso, para relaxar.”
Mesmo assim ela reconhece que nem sempre é possível ter uma vida considerada normal para sua idade. A garota se perde ao tentar contar nos dedos os países para os quais viajou para competir.
“Eu sempre faço as coisas que uma garota de 15 anos faz, porém eu ando de skate, eu viajo… Na verdade, não é toda menina que viaja para andar de skate [risos], mas para mim é muito tranquilo”, diz.
Dos lugares para os quais ela já foi, os Estados Unidos, destino de sua primeira viagem internacional para competir, e o Japão, palco da última Olimpíada, são os países que a jovem mais gosta, embora a culinária japonesa lhe cause um pouco de estranheza.
“A comida de lá é meio doida. Não é como do Brasil, arroz, feijão e frango, a nossa comida de todo dia. Lá tem sushi, lula, polvo… [risos]”, lembra Rayssa.
Nesta semana, ela está novamente longe de casa. Atual campeã da SLS (Street League Skateboarding) de forma invicta, a jovem será a única representante brasileira na disputa feminina da etapa de Chicago, nos EUA, marcada para o próximo sábado (29).
No feminino, seis atletas disputam as finais de cada etapa. Na temporada, as skatistas disputaram três etapas e o Super Crown, conhecido como o evento que define os campeões mundiais do torneio.
Ainda não existe uma confirmação de local para as finais, mas além de Chicago, a competição vai passar por Tóquio (12 de agosto) e Sydney (7 de outubro).