*Leandro Sobrinho
O sonho de muito empreendedor é começar um negócio em outro país, menos burocrático, e os Estados Unidos é uma das opções preferidas, principalmente depois da reabertura das fronteiras, o que aumenta ainda mais a dose de otimismo, afinal estamos falando de uma demanda reprimida causada pelo fechamento das fronteiras durante a pandemia.
Não bastasse a grande demanda turística que está por vir, temos também a retomada de planos de empresas e empreendedores que desejam internacionalizar os negócios. Muito importante ter em mente que o sucesso em terras norte-americanas ou igualmente em outros países depende de uma adaptação cultural de consumo e na relação corporativa e se isso não ficar claro, o caminho a ser percorrido será complicado. Essa foi a base do nosso estudo para montar uma estratégia de gestão após compreender todos os passos e peculiaridades do mercado americano, que foi onde decidimos apostar todas as fichas depois de mais de 25 operações no Brasil, em diferentes segmentos como restaurantes, moda, franquias e escola profissionalizante.
Pensando como empreendedor, a inquietude pelo novo e o desafio de criar são o combustível para novos desafios que, se atrelados aos conceitos de gestão, não mudam de um país para o outro. A diferença está na humildade de saber que culturalmente exige-se uma adaptação desses formatos, inclusive trabalhistas. Por exemplo, não se pode pensar no formato de retenção de talentos que funciona para o Brasil, nos EUA.
Muito se escuta que nos Estados Unidos o trabalhador não tem férias — de fato, regulamentado por legislação não há obrigatoriedade —, mas a relação empregador-empregado é negociada entre as partes e regida por um contrato entre elas, e em boa parte dessas negociações aspectos como férias, bônus, ajuda de custo e outros benefícios fazem parte do acordo. Se o empreendedor não entender isso e for com o pensamento de que lá o funcionário não tem férias, terá dificuldade em compor e reter uma boa equipe.
Não é porque uma grande rede de restaurantes faz sucesso no Brasil, que esse fato vai se repetir em outros lugares. Tivemos recentemente diversas redes que expandiram para solo americano e rapidamente fecharam suas portas, em especial pelo choque cultural dos gestores. Mas a realidade é outra, a experiência de consumo é totalmente diferente.
Empreender em outro país exige humildade de começar do zero, de entender que quem tem que se adaptar à cultura local é o empreendedor e não o contrário. Desde 2017, meu negócio principal nos EUA é investimento em construção de imóveis residenciais. Eu não posso trazer os princípios dos métodos construtivos do Brasil para cá. Não adianta fazer um projeto que atende ao público brasileiro aqui. Eu tive que entender o que o consumidor americano deseja, pois ele é o meu cliente, então preciso agradar quem compra.
Além do desafio de conhecer os hábitos de consumo do novo público, o entendimento cultural para posicionar corretamente produto x demanda é importante. Por exemplo, façamos o caminho inverso: se um americano for construir uma casa no Brasil e fizer com paredes externas em madeira e internas com drywall (gesso), sem passar os fios por condutores, apenas fixando no interior do gesso, será que o brasileiro compraria? Provavelmente não. Por isso é fundamental conhecer o mercado e os hábitos de consumo do seu novo público consumidor.