MONIQUE MANGANARO
Da Redação
A evolução da medicina tem permitido que os pacientes possam percorrer o caminho do tratamento da doença com perspectivas mais otimistas
Entre os inúmeros obstáculos que permeiam um tratamento de câncer está a dificuldade em visualizar a retomada de uma “vida normal” quando o processo estiver finalizado. No caso de mulheres diagnosticadas com câncer de mama, essa condição pode ser ainda mais complicada quando envolve a retirada de um seio ou de parte dele. Na teoria, voltar a ser quem se era antes é o ideal. Na prática, talvez esse caminho não seja tão natural.
Apesar dos desafios, a evolução da medicina tem permitido que os pacientes possam percorrer o caminho do tratamento da doença com perspectivas mais otimistas em relação a reconhecer o próprio “eu”. Para mulheres na luta contra o câncer de mama, a reconstrução mamária se apresenta como uma das saídas para novas perspectivas, ocupando o lugar de tentar minimizar os efeitos visíveis da doença no corpo e preservar a autoestima.
A moradora de Paranavaí Andreia Maria Costa, de 50 anos, foi uma das milhares de mulheres diagnosticadas com câncer de mama no Brasil no ano passado e que passaram pelo procedimento.
O diagnóstico da doença para ela surgiu em setembro de 2023, durante a realização de exames de rotina. Ela diz que desde os 18 anos fazia o acompanhamento de cistos nas mamas, mas nunca havia obtido resultados preocupantes. No entanto, no ano passado, um dos nódulos foi considerado maligno.
Superado o choque inicial do diagnóstico, Andreia iniciou o tratamento rapidamente e logo descobriu a necessidade de uma cirurgia para retirada do tumor. “Eu fui preparada para retirar toda a minha mama. Mas quando a médica falou que eu poderia passar pela mamoplastia com a reconstrução do seio, eu fiquei muito feliz. Para mim, a reconstrução foi muito importante. Eu entrei na cirurgia como se eu fosse fazer um procedimento estético, não foquei no câncer”, relata.
Devolver à paciente a esperança de preservar o visual do próprio corpo é uma das mais importantes missões do procedimento, reforça a médica mastologista Maria Emília Costa, especialista em reconstrução de mama. De acordo com ela, aconselha-se que a cirurgia de recuperação mamária seja feita já no momento de retirada o tumor, quando as condições clínicas permitirem.
“Eu peguei o processo de quando o único tratamento era ressecar a mama completa ou parcialmente. Eu consigo ver essa diferença do momento em que você aborda dizendo: ‘Vou precisar retirar a sua mama, mas eu vou reconstruir’. A abordagem é completamente diferente. Hoje, poder oferecer esse tratamento é muito interessante, e a reconstrução, sempre que possível, deve ser oferecida à paciente”, avalia.
Segundo a especialista, o surgimento da técnica permitiu aos médicos oferecer a recuperação da saúde da mulher, retirando as células cancerígenas do corpo, sem abrir mão do lado estético, questão tão relevante para grande parte do público em tratamento.
Para Andreia Costa, considerar a necessidade em preservar a aparência da mulher faz total diferença para quem já está enfrentando tantos obstáculos. “O tratamento já é muito doloroso. Por isso acho tão importante procedimentos como esse, que podem tornar a vida da mulher mais próxima do que era antes.”
Prevenção ainda é a melhor saída
A mastologista Maria Emília Costa reforça a necessidade da prevenção ao câncer de mama e o papel fundamental da campanha Outubro Rosa nesse objetivo. Conforme a especialista, além dos exames preventivos, a população ainda precisa se atentar à prevenção primária, com a promoção da saúde em geral.
“A prevenção começa lá atrás, com o cuidado com a saúde como um todo: alimentação, dieta saudável, atividade física regular. Os estudos mostram que a gente consegue reduzir o risco de câncer de mama em torno de 30% a 35% apenas com atividade física”, destaca.
Dentro dos consultórios médicos, a prevenção se dá com a realização de exames, como a mamografia – obrigatória para mulheres a partir dos 40 anos – e o autoexame. “Qualquer mulher que perceber uma alteração deve procurar seu médico, ginecologista, mastologista”.
Maria Emília ressalta que, hoje, o Brasil ainda convive com alta taxa de diagnósticos do câncer de mama em estadiamento avançado, realidade que dificulta a recuperação da paciente.
Hoje recuperada, Andreia Costa faz questão de mencionar a necessidade de se buscar um diagnóstico precoce, fator determinante para o bem-estar atual dela. “O sucesso da minha recuperação foi ter buscado ajuda cedo”, acrescenta.
SERVIÇO
Atualmente, a cirurgia de reconstrução mamária é garantida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No ano passado, um projeto apresentado pela senadora Margareth Buzetti (PSD-MT) generalizou para todas as situações o direito à cirurgia de reparação das mamas.
“O PL 2291/2023 explicita que as mulheres que sofrerem mutilação parcial ou total em qualquer mama, independentemente da razão, terão direito à cirurgia plástica. Também fica assegurado, desde o diagnóstico do problema, o acompanhamento psicológico e multidisciplinar especializado”, informou a Agência Senado após a aprovação do projeto, em setembro de 2023.