REINALDO SILVA
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Na última quinta-feira (5), o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior, decretou situação de emergência hídrica em todo o Estado. O documento tem validade por 90 dias e autoriza as empresas de saneamento a adotarem medidas que garantam a manutenção do abastecimento público, por exemplo, o rodízio de água, com distribuição alternada entre os bairros da cidade. Por enquanto, não há necessidade de implantar o sistema de restrições em Paranavaí e nos demais municípios da região atendidos pela Sanepar, mas o prolongamento da estiagem pode agravar a situação dos mananciais e comprometer a produção diária de água potável.
O gerente regional da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), Heterley Ubaldo, diz estar preocupado com a situação. A falta de chuva se arrasta desde o verão passado e está interferindo no volume de captação de água em todo o Noroeste do Estado. “Os mananciais perderam 40% de vazão”, estima.
A longa temporada de seca é explicada pelo fenômeno climático chamado de La Niña, que produz resfriamento em grande escala das águas da superfície do Oceano Pacífico e provoca mudanças nos ventos e no regime de chuvas. De acordo com o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), com exceção de janeiro, todos os meses de 2021 tiveram volume de precipitação abaixo da média histórica. Em milímetros, pela ordem cronológica, de janeiro a julho deste ano, foram 341.4, 20.8, 90.2, 17.6, 84.8, 46.4 e 12.4.
A meteorologista Lidia Mota afirma que ainda pode chover ao longo de agosto, mas sem grandes volumes. Por enquanto, só são esperadas precipitações para o dia 21. Na prática, significa que as condições pluviométricas continuarão desfavoráveis e não reduzirão os efeitos da severa estiagem.
Uso racional da água – Os registros anteriores e as previsões até o fim do inverno não são animadores. Por isso, Heterley Ubaldo faz um apelo à população, que adote o consumo racional de água.
As principais orientações são: diminuir o tempo de banho, desligar a torneira na escovação dos dentes e na hora de fazer a barba, ensaboar toda a louça da pia antes de enxaguar, instalar redutores de água nas torneiras, evitar a lavagem de carros e não utilizar mangueira para lavar as calçadas.
Com o fim do inverno se aproximando (a estação teve início em 21 de junho e se estenderá até 22 de setembro), outra preocupação vem à mente do gerente regional da Sanepar. A incidência de temperaturas elevadas, comuns no Noroeste do Paraná a partir de setembro, estimula o uso de piscinas, grandes consumidoras de água.
Consumo elevado – Levantamento feito pela equipe técnica da Sanepar mostra a diferença de volumes distribuídos em outubro do ano passado, quando os termômetros marcaram temperaturas mais elevadas, e julho deste ano, com dias mais amenos.
No dia 15 de outubro, uma quinta-feira, com 23 graus, foram 20.220 metros cúbicos. No dia seguinte, quando os termômetros registraram 28 graus, a distribuição chegou a 19.818 metros cúbicos. Em 17 de outubro, sábado, novamente a temperatura atingiu 28 graus, mas o consumo subiu para 20.206.
Passados nove meses, em dias equivalentes, a Sanepar distribuiu: 18.434 metros cúbicos de água no em 15 de julho, quinta-feira (26 graus); 15.894 metros cúbicos em 16 de julho, sexta-feira (20 graus); e 16.332 metros cúbicos em 17 de julho, sábado (18 graus).
Capacidade ampliada – Para suprir a demanda, a Sanepar fez uma série de investimentos na ampliação da rede de captação e reservação de água em Paranavaí. Foram mais de R$ 9,5 milhões nos reservatórios dos jardins São Jorge, Oásis e Santos Dumont e do Distrito de Sumaré. Além disso, foram mais R$ 27 milhões para a coleta e o tratamento de esgoto, com a ampliação das estações das vilas City e Operária.
Em relação à captação de água nos mananciais, o sistema de outorga permite à Sanepar a retirada de quase 295 mil metros cúbicos de água por mês do Ribeirão Arara e pouco menos de 240 mil metros cúbicos mensais do Ribeirão Floresta, totalizando 533.900 metros cúbicos por mês.
Municipalização dos serviços – A Sanepar divide esforços para resolver duas situações diferentes, mas igualmente complicadas. Ao mesmo tempo em que aplica conhecimento técnico para driblar os efeitos da estiagem e manter o abastecimento regular nas mais 36.600 ligações de água em Paranavaí, lida com a possibilidade de municipalização do saneamento.
Em entrevista concedida ao Diário do Noroeste e publicada no dia 10 de julho, o prefeito de Paranavaí, Carlos Henrique Rossato Gomes (KIQ), foi categórico ao afirmar que a Administração Municipal assumirá os serviços hoje executados pela Sanepar. A decisão está tomada, é definitiva e deverá ser aplicada, na prática, ainda no primeiro trimestre de 2022, estimou.
KIQ argumentou que atualmente 1% do faturamento da Companhia de Saneamento é destinado aos cofres públicos municipais, o que representaria R$ 40 mil mensais, diante da arrecadação de R$ 4 milhões. O novo formato, municipal, permitirá a entrada volume maior de recursos, com aplicação não somente nos serviços propriamente de água e esgoto, mas também em galerias de águas pluviais e no aterro sanitário, em suma, em questões ambientais.
De acordo com o secretário municipal de Comunicação, Américo Pontes de Castro, não há mudanças no cenário e as etapas burocráticas para que a mudança ocorra de fato ainda não avançaram.
A Sanepar não se manifestou oficialmente sobre o assunto. No entanto, sabe-se que a empresa tem se preparado para a disputa judicial pela permanência em Paranavaí. Até agora, cinco municípios da região não são atendidos pela Sanepar: Jardim Olinda, Paranapoema, Santa Isabel do Ivaí, Santa Mônica e Terra Rica.