STÉFANIE RIGAMONTI
DA FOLHAPRESS
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira (7) que os ruídos que têm impactado as expectativas do mercado para a inflação devem ser atenuados ou até mesmo revertidos ao longo do tempo.
Segundo o chefe da autoridade monetária, é preciso entender por que há uma desancoragem nas projeções, enquanto a inflação corrente está em processo de convergência no Brasil.
“A gente não questiona o que está acontecendo com a desancoragem. A gente tenta entender a desancoragem, a gente precisa explicar e endereçar, ser realista e comunicar o mercado que independentemente da causa da desancoragem, a gente precisa combater”, afirmou durante evento da corretora Monte Bravo em São Paulo.
Nesta semana, pela quarta vez consecutiva, economistas consultados pelo Banco Central aumentaram a projeção para inflação deste ano. Segundo relatório publicado pela autarquia na segunda-feira (3), a expectativa é que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) feche 2024 em 3,88% aumento de 0,02 ponto percentual desde a última semana.
Segundo Campos Neto, há uma influência das expectativas do mercado sobre a política monetária e, justamente por isso, a autarquia resolveu suprimir o forward guidance (estimativas de juros) nos últimos comunicados do Copom (Comitê de Política Monetária) e deixar em aberto as próximas decisões.
“A gente tomou a decisão de deixar as opções mais abertas, exatamente porque a gente entendia que esse tempo era muito relevante para entender o que estava acontecendo lá fora em termos de economia global e economia americana, e o que estava acontecendo aqui dentro em termos de por que tem essa dicotomia tão grande entre inflação corrente e a expectativa de inflação”, afirmou.
O presidente do BC disse que sempre há um esforço de procurar os possíveis riscos à frente, mas afirmou que não há nada que ele consiga identificar que justifique um repasse forte nos preços, por isso chamou de “atípica” a desancoragem das projeções do mercado.
Campos Neto chamou atenção para o fato de os títulos de dívida do Tesouro indexados à inflação de longo prazo estar pagando uma taxa alta, de 6%.
Além das dúvidas em relação a quando os EUA vão começar a baixar juros em meio a uma cautela com a inflação de serviços diante de um mercado de trabalho forte, os investidores estão incertos sobre a capacidade do governo brasileiro de organizar as contas públicas após mudanças na meta de resultado primário para 2025.
Há também um temor sobre uma possível interferência do governo sobre o BC após a saída de Campos Neto da presidência da autarquia no fim do ano e a chegada de um novo presidente indicado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Esse temor se materializou em reações do mercado quando, na última decisão de juros, os diretores indicados pela atual gestão divergiram dos votos dos demais membros do Copom em relação ao ritmo de corte da taxa básica Selic.
Para Campos Neto, contudo, o governo atual fez um esforço enorme em relação ao novo arcabouço fiscal para poder organizar as contas públicas, e ele disse que a equipe econômica tem tentado endereçar as inconsistências das novas regras e seu impacto sobre o resultado primário.
Sobre a inflação de serviços, Campos Neto disse que não há uma relação mecânica entre o mercado de trabalho aquecido nos EUA e os juros no Brasil, já que, segundo ele, ainda é preciso verificar se, de fato, há uma influência direta da taxa de emprego alta e a inflação de serviços, que tem sido acompanhada de perto pelos BCs.
Ele citou como exemplo um estudo nos EUA que mostra que não tem havido relação direta entre as duas coisas.
Campos Neto disse que o mundo tem se adaptado a uma taxa de juros mais alta, e uma prova disso é o desempenho das Bolsas americanas, mesmo com o patamar atual das chamadas Fed Funds.