No grande quintal, foram construídas duas casas geminadas. As frentes eram iguais e invertidas, como são essas casas. Bragança era o inquilino e Augusta, sua mulher. Nos fundos, a divisão era interessante: o poço, os tanques de roupa e a privada ficavam na justaposição da divisa para que utilizássemos nossa metade e eles, a deles. A cerca de tábuas de um metro de altura dividia o todo e, próximo à parede, o poço, cujo sarilho marcava o meio. Usava-se o balde, alternadamente.
Ao lado, dois tanques de lavar com as bocas ligadas uma de frente para a outra, minha mãe e dona Augusta conversavam lidando com as roupas e vidas. Papo longo, até que os varais de lá e de cá fossem cheios. A cerca continuava até às privadas de buraco.
Tudo rústico, mas de grande utilidade. Os assentos também eram contíguos e separados apenas pela parede (costa a costa), de sorte que ao usá-los para nossas necessidades, poderíamos encontrar um dos vizinhos ocupando a privada deles. E aí acontecia a sessão-vergonha. De lá e de cá, na maior mudez, segurando o vento para que ele não fiufasse… Chamávamos de “fiúfo” o barulho dos gases… saídos do fiofó e, tem horas que isso se torna o maior sufoco. O silêncio marcava o pacto mudo. Um crucial silêncio…
Meu pai dizia que nossa privada era a extensão da masmorra, tanto suplício se passava ali, sabendo que o lado de lá pudesse, a qualquer momento, ser ocupado; e as mata-juntas aniquiladoras de frestas, bem fixadas, não nos permitiam ver por elas. Fresta nenhuma encontrei, por mais que procurasse.
O bom da história é que dona Augusta não usava sutiã. Nem minha mãe e, vira-e-mexe, estrategicamente colocado próximo da nossa boca de tanque, meus olhos, espichados, caçavam com desespero os seios dela que, no balanço do corpo, ao surrar uma roupa, deixava-os à mostra.
A diferença do moleque para o diabo está apenas no tridente, e eu, claro, não saía do quintal. No meu ponto escolhido, brincava de búricas, bola, carrinho, peteca e o que mais pudesse, sem dali arredar o pé. Chovesse ou fizesse sol. Os seios dela tinham a cor rosa, o formato de porunga e ali balançavam silentes, precisos, alternando-se para cima e para baixo, à esquerda e direita como cavaleiro em galope. Seus bicos inchados, diferentes, e o centro da aréola cor de ameixa, me assanhavam o espírito de moleque arreliado. Não havia nisso, claro, uma sem-vergonhice, mas encantamento.
Meus olhos pidonhos se esticavam até eles com a necessidade de lhes sentir o perfume, e nunca me foram ofertados. Até que num dia ela percebeu que eu os olhava, se levantou, fechou a blusa, fez bico de insatisfação. O atrevimento sufoca!
Depois, mediu com o olhar a minha altura de pouco mais de um metro, e minha cara de pidão. Ato contínuo, fez um gesto, talvez lembrando do marido que bebia muito, dormia na cadeira e vomitava pela casa e, discretamente, estendendo-me um leve abrir de lábios, a desabotoou.
A isso, hoje, eu chamaria de saliências, que olhos anônimos captam e, diante da falta de amor, a solidão, essa megera, consegue produzir.