Assim que a Unidade Morumbi da Santa Casa de Paranavaí começar a funcionar um dos principais reflexos será a ampliação das cirurgias eletivas, passando das atuais 150 para 400 por mês, ou seja, 170%. A informação é do diretor-geral do hospital, Héracles Alencar Arrais, que está animado com a possibilidade. “Temos recebido a visita de vários prefeitos. E todos reclamam que têm uma grande fila de espera, que se agravou com a pandemia. Mas assim que abrir a Unidade Morumbi vamos pode atender esta demanda reprimida na região”, diz ele.
Quando esteve em visita a Unidade Morumbi, no mês de agosto (dia 3), o governador Ratinho Júnior afirmou que em 90 dias a nova unidade deverá estar funcionando e revelou que agora que a pandemia da Covid-19 foi abrandada, a prioridade do Governo na área de saúde será as cirurgias eletivas. Admitiu, no entanto que, por conta da suspensão destas cirurgias para garantir leitos às vítimas da Covid, a demanda reprimida cresceu muito. “Vamos levar uns dois anos para regularizar esta demanda”, reconheceu o governador.
Já na semana seguinte à visita de Ratinho Júnior ao hospital, uma equipe da Secretaria de Estado de Saúde (SESA) esteve em Paranavaí, manteve uma reunião com prefeitos e depois visitou a Unidade Morumbi. O encontro com os prefeitos foi para buscar alternativas de como os municípios podem contribuir para o financiamento da nova unidade. Isto porque, diferentemente da Unidade Central, a Morumbi será exclusiva para atendimento à pacientes do SUS, cuja tabela de remuneração é deficitária. No caso da Unidade Central este déficit é coberto com as receitas dos atendimentos particulares e de convênios.
“A Unidade Morumbi é importantíssima para Paranavaí e a região. Por isso, o Governo do Estado contribuiu para a conclusão das obras físicas e depois para a aquisição dos equipamentos e mobiliário. E também vamos fazer um aporte para o custeio, já que ele será 100% SUS”, diz o diretor-técnico da FUNEAS, Geraldo Biesek. FUNEAS é a Fundação de Atenção à Saúde do Paraná, está vinculada à SESA e atua junto aos hospitais estaduais. Biesek já atuou no gabinete do secretário Beto Preto, a quem assessorava na área hospitalar e vinha atuando na questão da Santa Casa de Paranavaí. Agora, ele está usando sua experiência para ajudar a colocar a Unidade Morumbi em funcionamento.
Paciente perto da família – Segundo Biesek, a região de Paranavaí tem dois problemas crônicos na assistência hospitalar: a falta de leitos de UTI e o baixo número de cirurgias eletivas. A Unidade Morumbi, com 108 leitos, sendo 10 de UTI, vai minimizar estes problemas.
“O que se gasta com o transporte de pacientes – em ambulâncias, ônibus, micro-ônibus e carros baixos – poderá ser investido no custeio da Unidade Morumbi e deixar o paciente mais próximo da família, o que é importante para a recuperação mais rápida do paciente”, diz o diretor de Gestão em Saúde da SESA, Vinícius Filipack, que também esteve na reunião com os prefeitos.
Para os representantes da SESA é preciso haver uma união de esforços para viabilizar o custeio da Unidade Morumbi. “O Governo do Estado vai entrar com uma parte e os municípios com a outra. A nova Unidade será importante a reduzir esta grande defasagem de leitos de UTI adulto e nas cirurgias eletivas”, aponta Biesek. A participação do Estado e municípios é para cobrir a diferença entre o custo real dos procedimentos e o que o SUS paga.
O diretor da FUNEAS lembra que, se não for possível abrir 100% dos leitos da Unidade Morumbi, que se inicie com pelo menos a metade. No entanto, abrir 55 ou 60 leitos, como se discute, não significa que o custo terá a mesma proporção. Segundo estudos técnicos, para abrir metade dos leitos, o custo é de 70% do valor total e o número de funcionários também é estimado neste índice. Mas em contrapartida, com 50% dos leitos já é possível ampliar o número de cirurgias eletivas em 120% em média, passado dos atuais 150 para algo próximo a 350 procedimentos.
Falta à comunidade o entendimento de que não basta ter médico e equipamentos para um hospital funcionar. “Só quem trabalha e faz gestão de um hospital sabe efetivamente o que precisa”, diz Biesek, apontando como exemplo, que, além de médicos, trabalham no hospital enfermeiras, auxiliares, técnicos de radiologia, farmacêuticos, biomédicos, fisioterapeutas, nutricionistas, assistente social, além da equipe de apoio, como pessoal da cozinha, limpeza, lavanderia, administrativo etc. “E não basta fazer a cirurgia. O paciente precisa se recuperar numa cama e esta cama se chama leito. Além disso o hospital precisa de insumos e medicamentos. Isto tem custo, tem que contratar, tem que comprar”, reforça.
A SESA aguarda uma definição para alterar ou fazer uma nova contratualização com a Santa Casa definindo a quantidade de cirurgias/mês a ser realizada pelo hospital e remunerada pelo poder público. “Precisamos definir a nova estrutura que vai entrar em funcionamento”, aponta Filipack. “Estamos costurando isso com o Consórcio Intermunicipal de Saúde”, acrescenta Biesek.
Esta definição é importante, porque os hospitais filantrópicos, como é o caso da Santa Casa de Paranavaí, não podem fazer planejamento em cima de promoções. “Os hospitais beneficentes sempre fazem suas promoções e é importante a comunidade ajudar. Mas não dá para pensar, por exemplo, que vai garantir a folha de pagamento com base em promoções. Isto não é possível”, diz o dirigente da SESA, que já foi gestor de hospital filantrópico.
O início das atividades da Unidade Morumbi também é importante porque não há nenhuma previsão de desativar a Ala Covid da Santa Casa. Para viabilizar esta ala, foram desativados na Unidade Central 40 leitos de hospital geral, que são usados para tratamentos clínicos e pacientes convalescentes de cirurgias. “Podemos eventualmente até reduzir o número de leitos, mas, pelo menos este ano a desativação não acontece”, diz Biesek.
A questão é que uma redução de leitos da Ala Covid não significa necessariamente o retorno dos leitos gerais. Isto porque, normalmente é destinada toda uma ala para estes leitos isolados, inclusive para a equipe de profissionais de saúde. Assim, pelo menos este ano, a Unidade Central não terá como retornar à sua capacidade de realizar as cirurgias eletivas.
ANÁLISE
No período pré-pandemia, Santa Casa
realizava média de 460 cirurgias/mês
Dados do DATASUS apontam que a Santa Casa de Paranavaí realizava, no período pré-pandemia, uma média de 460 cirurgias por mês, sendo 162 de eletivas e 299 de urgência. Em 2020, quando começou a pandemia da Covid-19 no Brasil, esta média caiu para 347 – uma redução de 25%. Mas a redução mais robusta foi nas eletivas, mais de 75% – nas de urgência a redução foi de apenas 8%.
As cirurgias eletivas são agendadas por ondem cronológica depois de autorizadas pela 14ª Regional de Saúde. As eletivas são aquelas planejadas com antecedência, diferente das de urgência/emergência, que são realizadas imediatamente para afastar o risco de morte e/ou dor profunda. As eletivas mais comuns na Santa Casa são as gerais (aparelho digestivo), urológicas, de otorrinolaringologia e ortopédicas. Nas urgências, os procedimentos mais comuns são parto cesariano, apendicite e vascular.
A Santa Casa de Paranavaí tem contrato com a SESA para realização de 150 cirurgias eletivas mês. No entanto, explica a administração do hospital, para cumprir sua meta, é preciso agendar entre 170 e 180 pacientes, porque alguns deles desistem e outros, por recomendação médica (caso de uma gripe, por exemplo) têm suas cirurgias adiadas. Se não cumprir a meta, é pago apenas pelo procedimento realizado. Se passar a meta, o excedente é glosado na fatura, ou seja, não é pago.
Os dados apontam ainda que no período pré-pandemia 45% dos pacientes que realizaram cirurgia eletiva na Santa Casa eram de Paranavaí. Mesma média considerando todos os procedimentos realizados na Santa Casa. Já Jardim Olinda, menor município da região e do Paraná, a média no mesmo período foi de 5 cirurgias eletivas ao ano. Em 2020, a participação de Paranavaí nas cirurgias eletivas caiu para 39%.
Já nas cirurgias de urgência, antes da pandemia, Paranavaí respondia por 44% dos procedimentos e teve uma redução para 40% em 2020. Logo após Paranavaí os municípios de Alto Paraná, Loanda, Terra Rica, Nova Londrina e Paraíso do Norte se revezam nas posições até o sexto lugar. Jardim Olinda, Paranapoema, Inajá, São Pedro do Paraná, Mirador e Guairaçá revezam na parte debaixo do ranking.