REINALDO SILVA
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O desafio da Santa Casa de Paranavaí é o mesmo que enfrentam hospitais filantrópicos de todo o Brasil: encontrar maneiras de equilibrar as contas para não ser preciso adotar medidas drásticas que comprometam os atendimentos. A diretoria já fala em redução de serviços e se preocupa com a possibilidade de suspender as atividades.
O Diário do Noroeste apurou que algumas categorias de profissionais estão com salários atrasados e há defasagem nos valores pagos aos médicos, em razão da falta de reajuste na tabela do Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com o diretor-geral da Santa Casa de Paranavaí, Héracles Alencar Arrais, as federações e a Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB) estão buscando junto aos governos estaduais e federal a ampliação dos repasses mensais, sem os quais não será possível suprir os déficits financeiros.
As dificuldades se arrastam há meses. “Em anos anteriores, andamos bem, mas em 2021 as contas desequilibraram.”
Arrais explicou que parte do problema foi resultado da pandemia de Covid-19. Durante o período mais severo crise sanitária, ficou determinada a suspensão das cirurgias eletivas, aquelas que podem ser agendadas com antecedência por não haver caráter de urgência – os procedimentos garantem grande parte da receita mensal do hospital.
Medicamentos e insumos também pesaram nessa conta. Os preços tiveram elevação considerável desde 2020 e a oferta de uma série de produtos diminuiu. Passou a ficar cada vez mais difícil acessar itens básicos, caso do soro: uma ampola de 100ml subiu de R$ 3 para R$ 8, em valores aproximados.
Antes era possível comprar soro para até dois meses, mas, diante da situação financeira, as aquisições da Santa Casa são suficientes para uma semana. A equipe trabalha no limite e precisa readequar algumas cirurgias que requerem grande quantidade do produto, por exemplo, as de urologia.
Em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, o Governo Federal repassou R$ 3 milhões para a Santa Casa de Paranavaí, recurso específico para o enfrentamento da crise sanitária. Os recursos extras não vieram em 2021, tampouco em 2022. A expectativa é que haja repasse da União neste segundo semestre, a fim de restaurar as finanças.
Há mais uma situação que preocupa a diretoria, o reajuste salarial dos profissionais de enfermagem, aprovado em âmbito federal. O tema foi levado pelo próprio Arrais à reunião da diretoria da Associação Comercial e Empresarial de Paranavaí (Aciap), no início desta semana. O diretor-geral da Santa Casa reconheceu a importância dos profissionais e considerou a medida necessária, mas questionou: quais serão as fontes para esse aumento na folha de pagamento? Os cálculos indicam aproximadamente R$ 1 milhão por mês.
A Santa Casa de Paranavaí reúne aproximadamente 700 funcionários e atende moradores de todo o Noroeste do Paraná. Segundo Arrais, quase 80% dos atendimentos são para pacientes do SUS. O fechamento do hospital, caso fosse necessário, provocaria prejuízos incalculáveis para a população.