REINALDO SILVA
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Em dias de altas temperaturas, o solo arenoso tende a reter calor e superaquecer. Uma das consequências imediatas é a redução da umidade, fator que compromete o desenvolvimento de lavouras e pastagens.
No caso do Noroeste do Paraná, onde o solo arenoso predomina, os efeitos da onda de calor que se estende desde a semana passada podem ser percebidos nas principais culturas, caso da mandioca, da laranja e da pecuária bovina.
Profissionais da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) e do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) conversaram sobre o assunto com o Diário do Noroeste.
Técnico do Departamento de Economia Rural (Deral) da Seab, Ênio Luiz Debarba informa que os primeiros sinais aparecem nas hortaliças, especialmente as folhosas, mais sensíveis ao calor intenso. Ficam visualmente comprometidas, o que diminui a oferta e traz perspectivas de elevação de preços nos próximos dias.
Culturas de ciclos mais longos, caso da mandioca, conseguem se recuperar, mas também não saem ilesas. As lavouras recém-plantadas têm menor percentual de germinação; aquelas que se encontram no estágio de 20 a 25 centímetros precisam de umidade para se alongar; nas lavouras em fase de colheita, há riscos de perdas de raízes em razão do solo seco.
As altas temperaturas também podem interferir nos resultados da citricultura, importante atividade para o Noroeste do Paraná. O técnico do Deral explica que a baixa umidade dificulta o processo de absorção da água, reduzindo o teor de líquido dos frutos. Isso torna necessário aumentar o volume ofertado para as indústrias e interfere no abastecimento para consumo doméstico.
Em relação à pecuária bovina, tanto de corte quanto de leite, Debarba informa que o calor e a falta de chuva atrasam a produção de nutrientes nas pastagens e os produtores precisam manter a suplementação alimentar dos rebanhos, o que encarece o processo.
Mas não é o único problema: com as altas temperaturas o gado perde líquido, emagrece e se estressa. “Os rebanhos sofrem muito”, diz o técnico do Deral.
Orientações – De acordo com a agrometeorologista do IDR-PR Heverly Moraes, as previsões para a primavera acendem o sinal alerta no campo. A estação terá temperaturas acima da média climatológica e volumes intensos de chuva, características do fenômeno El Niño, que deverá perdurar até o primeiro semestre de 2024.
Ela aposta: as chances de haver déficit hídrico são menores na comparação com o período em que o Paraná esteve sob influência de outro fenômeno meteorológico, La Niña. Para recordar, a estiagem severa se instaurou a partir de segundo semestre de 2019 e durou até 2022, com alguns intervalos mais chuvosos, porém insuficientes para resolver o problema.
À época, o Governo do Estado chegou a decretar estado de emergência em função da crise hídrica.
Com a mudança de cenário, agora com precipitações mais frequentes e temperaturas elevadas, a orientação para os produtores rurais é proteger as plantações e os animais.
Em áreas de menor extensão, a irrigação com nebulização se mostra eficiente e garante a hidratação das lavouras. “Ameniza bastante os efeitos da baixa umidade relativa do ar e do calor”, afirma Heverly Moraes.
A irrigação por gotejamento é uma opção favorável para cultivos mais extensos e se aplica também no caso do café, do tomate e de árvores frutíferas recém-plantadas, só para citar alguns exemplos.
Os artifícios em favor dos produtores diminuem na proporção em que o tamanho das lavouras aumenta. “Há pouco o que fazer”, lamenta a agrometeorologista do IDR-PR.
Paranavaí alcança recordes consecutivos de temperatura
Nos últimos dias, Paranavaí alcançou recordes consecutivos de temperatura. Depois de 37,5° na sexta-feira e 37,3° no sábado, os registros do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) apontaram máxima de 38,1°C no domingo. Ontem os termômetros registraram o maior valor do ano, 38,4°C.
Cabe retificar uma informação repassada anteriormente pelo Simepar e divulgada na semana passada pelo DN: a temperatura mais alta já alcançada em Paranavaí não é de 2023, mas de outubro de 2020, quando os termômetros chegaram a 42,3°C.
As previsões do Simepar indicam que esta terça-feira (26) será quase tão quente quanto em outubro de 2020 e Paranavaí poderá chegar aos 42°C. A partir de quarta-feira (27) o calor diminui e a máxima pode chegar a 33°C.
Cresce número de atendimentos médicos em função do calor
A Secretaria de Saúde de Paranavaí registrou aumento na procura por cuidados médicos em função do calor. A constatação leva em conta os serviços da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e da UBS Centro, que é o ponto de apoio da UPA.
Na última semana, período compreendido entre 17 e 23 de setembro, foram 2.100 pacientes. São 5,74% a mais do que no recorte anterior, de 10 a 16 de setembro, quando 1.986 pessoas passaram pelas duas unidades de referência.
Dentro desse percentual a maioria é de crianças com sintomas de viroses e casos suspeitos de escarlatina, doença infecciosa e contagiosa comum durante a primavera. É transmitida pela mesma bactéria que causa amidalite, artrite e pneumonia. Cerca de 10% dos pacientes desenvolvem manchas vermelhas na pele.