ADÃO RIBEIRO
Muito além das aparências. Essa é uma boa definição do que é o esporte em Paranavaí, cenário que, em alguma medida, pode ser estendido para todo o País. Atento aos vários aspectos envolvendo a prática de esporte com foco na qualidade de vida, o secretário de Esporte e Lazer, Rafael Octaviano de Souza, 48 anos, visitou a redação do Diário do Noroeste na tarde da última quinta-feira (2). Ele descarta investimentos sem a devida avaliação técnica e faz um resumo da situação das principais praças esportivas da cidade.
O primeiro objeto da explanação do secretário é o Ginásio de Esportes Noroestão, alvo de debates nesta semana por conta da indicação do vereador Roberto Picorelli (Pó Royal), pleiteando a construção de um campo de grama sintética e de uma quadra de tênis na sua estrutura.
Rafael lembra que o Noroestão foi construído em 1972, portanto uma obra antiga e com alguns problemas até para a reforma e manutenção. Recentemente foi investido R$ 1 milhão na tradicional praça. A quadra poliesportiva foi reformada, banheiros e vestiários adequados (inclusive com acessibilidade) e as cabines de imprensa passaram por transformações.
A quadra também recebeu tabela hidráulica de basquete, um item essencial para a prática do esporte de competição. Agora estão sendo investidos R$ 420 mil em iluminação e cobertura. O ginásio já recebeu melhorias na casa dos R$ 2 milhões e ainda será necessário mais R$ 1 milhão para a conclusão.
Sobre a estrutura, Rafael lembra que há melhorias diversas, sempre com foco na maior participação. Uma quadra de tênis, por exemplo, exige grande investimento e há poucos adeptos. Por outro lado, um bom calçamento pode mobilizar um grande público para caminhada. Nesta semana equipes do município estão revitalizando o calçamento no entorno do ginásio, tradicional ponto para atividades físicas por parte da comunidade.
O cenário mudou, as pessoas querem liberdade e o esporte se tornou um etilo de vida, diz o secretário. Por isso, deve ser adequado à nova realidade. Ele cita o ciclismo como um modo atual de praticar exercícios e absolutamente livre. O gestor adverte para a importância de atividades monitoradas, isto é, acompanhadas por um profissional de Educação Física.
Estádio Municipal – Paranavaí tem outros gargalos em relação às praças esportivas. Um dos grandes é o Estádio Municipal Waldemiro Wagner. Inaugurado há 30 anos, o estádio não passou por reformas significativas, recebe apenas pequenas manutenções e é subutilizado. O último jogo oficial do ACP (Atlético Clube Paranavaí) foi em dezembro do ano passado. Por outro lado, também as equipes amadoras evitam jogar no WW por uma série de razões.
Rafael lembra que nestes 30 anos o estádio teve público superior a 10 mil pessoas em apenas seis oportunidades. Neste período soma-se o vice-campeonato estadual da primeira divisão em 2004 e o título de campeão paranaense de 2007.
Por outro lado, uma reforma exigiria investimentos de R$ 6,5 milhões, possibilidade descartada neste momento. Sem contar que o estádio é público, mas vem sendo utilizado pela iniciativa privada, pois, apesar de o ACP ser tradicional, atualmente é gerido por empresários. A manutenção correta do estádio exige investimentos de cerca de R$ 50 mil mês, sem contar a grande reforma.
Pista de atletismo – O debate sobre o estádio leva a outro tema relevante: a falta de uma pista de atletismo oficial em Paranavaí. Na época da construção do estádio foi ventilada a construção de uma pista oficial, como ocorre em grandes praças como o Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro, e com o Estádio Willie Davids, de Maringá. A ideia não prosperou. Hoje há uma pista na campus da Unespar, sem utilização, cuja ideia inicial foi dar suporte ao Curso de Educação Física.
A pista de referência está localizada no Colégio Estadual de Paranavaí e recebe manutenção por parte da Prefeitura. Rafael informa que Paranavaí já pleiteou, sem sucesso, a municipalização, o que permitira mais investimentos. No entanto, o Estado rejeitou a proposta.
A pista não tem medidas regulamentares e por isso não recebe competições oficiais. Soma 392 metros e a medida oficial é de 400 metros. Não significa que seja de pouco valor, pelo contrário. Paranavaí tem uma série de atletas que se destacam usando a estrutura.
Parceria – O município é parceiro dos atletas e equipe de treinadores. Segundo Rafael, desde 2017 foi investido cerca de R$ 1,1 milhão, além do auxílio-transporte para a maioria das competições. Para o ano de 2022 estão previstos R$ 350 mil. O secretário aproveita para sugerir que o atletismo espalhe mentalidade vencedora, ou seja, aproveite os resultados e os investimentos para atrair ainda mais o interesse da iniciativa privada. “O esporte não é coitadinho”, sintetiza. Ele rechaça que seja feita “propaganda” da Prefeitura, mas apenas divulgado que se trata de um programa do município.
Academias – Doutor em educação física e pós-doutorando na área, Rafael Souza pede que as políticas públicas sejam feitas a partir de estudos, indo ao encontro da necessidade da população. Um dos exemplos apontados por ele é o grande número de academias nas praças (chamadas Academias da Terceira Idade – ATIs).
Proporcionalmente, Paranavaí tem mais academias nas praças do que Curitiba, por exemplo. A capital contas com 265 unidades para cerca de 2 milhões de pessoas. Paranavaí tem 30 ATIs para cerca de 90 mil habitantes, proporcionalmente duas vezes e meia mais do que a maior cidade paranaense.
Mas, o problema está na pouca utilização. Dos 300 aparelhos originais, há 222 e destes 193 funcionando. Os aparelhos sofrem com vandalismo e pouco uso. Ele defende a racionalização de tais recursos, restringindo a quantidade e melhorando o atendimento, incluindo os exercícios monitorados, por exemplo.
Há locais totalmente sem uso. As ATIs exigem anualmente R$ 154 mil em manutenção. A meta do secretário é fazer um rigoroso diagnóstico, realocar peças que possam ser aproveitadas. O conceito de ATI nasceu na China como incentivo à qualidade de vida para os idosos.
Piscina – A piscina pública ao lado do Ginásio Noroestão também está desativada. É antiga, tem alto custo de manutenção e não cumpriria o objetivo, cita. Por isso, defende a compra de vagas em piscinas privadas para os munícipes com perfil e que queiram praticar a natação.
O tênis, modalidade de custo elevado para a prática e que necessita de elevados investimentos para um pequeno grupo de participantes, é outro esporte que se mostra inviável para a manutenção pelo poder público.
Resumindo a importante explanação de Rafael Octaviano, ele lembra que é preciso uma avaliação sobre o que o município dispõe e, a partir daí, identificar as reais necessidades. De início, é contra a ideia de construir novos aparelhos sem o devido estudo técnico.
Por outro lado, projetos vitoriosos como o “Meu Campinho”, do Governo do Estado, devem ser posicionados em pontos estratégicos, beneficiando o maior número de pessoas. Rafael Octaviano de Souza faz parte do grupo de estudos sobre a atividade física no Paraná nos segmentos gestores e pesquisadores (chamado G8).