ANGELA PINHO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O segundo dia do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) seguiu a tradição de pautar alguns temas da atualidade, como energia e meio ambiente, mas não abordou em nenhuma questão a pandemia de coronavírus.
A ausência da Covid era esperada em alguns cursinhos devido à necessidade de as questões da prova serem elaboradas com antecedência para serem pré-testadas e à falta de atualização do banco de itens que compõem a avaliação.
Gabryel Real, gerente de processos avaliativos do SAS Educação, acrescenta outro motivo para a doença estar fora da prova: as descobertas são muito recentes, e o conhecimento sobre o vírus está em rápida e constante atualização.
Já Guilherme Francisco, professor do curso e colégio Objetivo, considerou surpreendente a ausência da pandemia no exame.
Em sua avaliação, o perfil das questões de biologia mudou muito, com menos perguntas que antes sobre ecologia e muitas sobre botânica, tema pouco presente em edições anteriores.
Para ele, a prova na área foi de nível médio para difícil.
A escassez de questões para compor o banco de itens do Enem é uma das principais fragilidades do exame.
Para entrar na avaliação, cada pergunta elaborada tem que ser pré-testada com grupos menores de estudantes para que se possa aferir se ela é adequada para discriminar candidatos com melhor e pior desempenho.
O processo leva tempo e demanda recursos, e não há produção de novas questões desde 2019, o que explica a ausência da pandemia entre os enunciados.
Se a fragilidade do chamado banco de itens barra ameaças de interferência do governo Bolsonaro no conteúdo da prova, é também apontada por servidores do Inep como uma ameaça para a realização do exame em 2022. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, nega que exista esse risco.
Divergências à parte, Real, do SAS Educação, avalia que as provas de forma geral refletiram a característica do Enem de priorizar habilidades em detrimento de conteúdo.
Dessa forma, foram valorizadas também neste segundo dia do exame interpretação de texto, assim como de gráficos e tabelas.
As questões tinham como objeto temas como dengue, extinção de espécies no Pantanal, carros elétricos e biocombustíveis.
Professores de colégios e cursinhos viram problemas em duas questões de matemática.
Para Marcelo da Silva Melo, do Objetivo, a que usava uma tabela da Copa do Brasil no enunciado não tem resposta, e outra sobre aplicativos de serviços de hospedagem pode gerar confusão entre duas alternativas.
De forma geral, o professor Marco Antonio Capri, do SEB Dom Bosco, considerou a prova de matemática parecida com a de anos anteriores. “O aluno que já tinha treinado com edições anteriores não encontrou surpresa.”
A edição 2021 do Enem, terceira sob o governo Bolsonaro, foi marcada por uma série de percalços e controvérsias.
Após meses de escolas fechadas, e com novas regras de dispensa da taxa de iscrição, o número de inscritos na prova despencou.
Às vésperas da aplicação, dezenas de servidores do Inep pediram demissão de seus cargos de confiança, descontentes com a gestão do presidente da autarquia, Danilo Dupas, a quem acusam de assédio moral e de fragilidade técnica e administrativa.
Soma-se à debandada a ameaça constante de Bolsonaro de interferência ideológica nas questões.
Como revelou a Folha, ele chegou a pedir ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, que o golpe militar de 1964 fosse chamado revolução na prova. O pedido não foi atendido, mas o tema sumiu do exame desde o início do mandato do presidente.
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