Todos os anos, a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma das principais preocupações dos estudantes que se preparam para a prova. Afinal, a redação sozinha é responsável por garantir até mil pontos para aqueles que alcançarem a nota máxima. Saber escrever bem é muito importante para conquistar esses pontos, mas não é o único fator para o sucesso. Além de respeitar as normas gramaticais e saber usar corretamente a pontuação, também é necessário ter conhecimentos sobre o tema proposto na prova.
Dentro de todo um universo de assuntos possíveis, alguns se destacam por serem atuais ou estarem muito relacionados ao cotidiano do país. Em 2020, por exemplo, o tema escolhido foi “o estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. No ano anterior, 2019, por sua vez, o tema foi “a democratização do acesso ao cinema no Brasil”. Mas e este ano, quais assuntos podem ser cobrados dos estudantes na redação? Para o professor de História e coordenador editorial do Sistema Positivo de Ensino, Norton Nicolazzi Junior, a principal característica do tema da redação é apresentar um problema da sociedade brasileira e pedir para que o estudante proponha uma solução. “Por isso, é importante saber quais assuntos foram debatidos no país no último ano e ler muito a respeito de cada um deles”. O especialista seleciona alguns pontos sobre os quais é aconselhável se aprofundar para o Enem 2021.
Ensino a distância – A pandemia de covid-19 trouxe uma série de desafios para a educação brasileira. Um dos maiores problemas foi a questão do ensino a distância, necessário para evitar a propagação do coronavírus. Muitas escolas, principalmente da rede pública de ensino, não tinham a infraestrutura necessária para assegurar o aprendizado das crianças e adolescentes. Na outra ponta, boa parte desses estudantes não tinham acesso à internet ou a equipamentos de informática de qualidade para prosseguir com seus estudos. “Mesmo com o avanço da vacinação, esse é um assunto que deve permanecer na pauta da discussão pública por algum tempo. Afinal, não há certeza de que esta seja a última pandemia pela qual passaremos nos próximos anos, de modo que será preciso pensar estratégias positivas de ensino a distância ou ensino híbrido”, comenta Nicolazzi.
Futuro dos monumentos históricos – Não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, estátuas e outros monumentos prestam homenagem às mais diversas figuras históricas. Nos últimos anos, uma parte da sociedade civil passou a questionar algumas dessas homenagens. Muitas delas fazem menção a escravocratas, por exemplo, o que, na visão de muitos pensadores, seria como premiá-los por todo o horror que causaram historicamente. Em São Paulo, a estátua do bandeirante Manuel de Borba Gato foi incendiada em protesto ao papel que essa figura histórica teve na construção do Brasil. O monumento foi inaugurado em 1963 em homenagem ao bandeirante, responsável por tomar terras e escravizar negros e indígenas nos séculos XVII e XVIII. A proposta é substituir esses monumentos por outros, que façam alusão a personagens negros, mulheres e outras figuras importantes para a luta antirracista.
Evasão escolar – Não é de hoje que a evasão escolar é um problema no Brasil. Tampouco ela tem como causa única a pandemia de covid-19. No entanto, as dificuldades que muitos estudantes encontraram para se concentrar durante as aulas on-line e para ter acesso à internet de qualidade potencializaram o processo de evasão. De acordo com o estudo “Enfrentamento da cultura do fracasso escolar, do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para Infância (Unicef), 1,38 milhão de estudantes com idades entre 6 e 17 anos abandonaram os estudos em 2020, o que representa 3,8% do total de jovens brasileiros em idade escolar. “A evasão é um problema antigo, mas que tem estado muito em evidência durante a pandemia. Ainda não há respostas certeiras para essa situação, o que pode levar esse assunto a ser cobrado de quem vai prestar o Enem”, afirma Nicolazzi. Importante saber também a diferença entre evasão e abandono escolar, para não confundir durante a construção do discurso.
Superexposição a meios digitais – Segundo uma pesquisa do App Annie Intelligence, o brasileiro passa, em média, 5,4 horas por dia em frente à tela do celular. O país está em primeiro lugar no ranking mundial, seguido pela Indonésia e pela Índia (2º e 3º lugares, respectivamente). As consequências desse comportamento são inúmeras e vão desde prejuízos à visão até agravamento de transtornos que afetam a saúde mental. Quando se trata de crianças e adolescentes, a problemática é ainda mais séria. E, quanto mais a tecnologia evolui, maior a tendência de permanecer cada vez mais tempo olhando para meios digitais. Por esse motivo, para o especialista, esse também pode ser o tema da redação do Enem 2021.
Democratização do acesso a museus – Em 2019, um levantamento realizado pelo instituto Oi Futuro apontou que as classes A e B são 82% do total de frequentadores dos museus brasileiros. Isso significa que mais de 80% das pessoas que têm acesso às salas cheias de arte, sons e história pertencem ao grupo com rendimento familiar de mais de R$ 9.980,00 por mês. Analisando dessa forma, uma das conclusões a que se pode chegar é que quem tem menos condições financeiras também tem menos acesso a esses espaços culturais. “Esse é um tema bem geral, mas que pode ser cobrado porque o interesse dos brasileiros por museus virtuais, durante a pandemia, cresceu 50%. Ou seja, talvez a solução seja dar condições para que as pessoas conheçam os ambientes de museu”, pondera o especialista.
Crise Hídrica – Falta água e, consequentemente, energia elétrica no Brasil. Embora a crise hídrica esteja sendo mais comentada nos últimos meses, especialistas já alertavam há muito mais tempo que um cenário como esse poderia acontecer. As possíveis causas e as duras consequências desse problema são inúmeras. “Essa é uma reflexão que passa pelas mudanças climáticas, por estratégias dos órgãos públicos e também pela responsabilidade individual. Todos os ingredientes que costumam compor o tema da redação do Enem”, alerta Nicolazzi.