A relação ‘tempo e vento’ é tão automática como a visão do quintal florido, observado pela janela que se escancara ao sol.
Para a física e a meteorologia, isso tem menos importância: uma janela que se abre pelo vento em razão da elevação da temperatura que movimenta o ar, e só.
O dentro ou o fora para elas não têm importância. Para a literatura também: um abrir de janela pela força do vento, ato comum e passageiro a quem não tranca a janela, é uma simples assertiva.
No entanto, para o poeta, a visão nascida do abrir em relação ao lá fora coberto de sol, pode sugerir mil visões a darem aos seus olhos a emoção sentida.
Para uns, nada, para ele, o tudo!
O poeta fará escorrer das mãos ao teclado, em texto corrido ou rimado, a sensação que vislumbra, assim como faria o pintor com pincéis e tintas, se tivesse visto da janela e, também, captado o esplendor do sol de permeio, como elemento revelador da beleza.
Para ambos, nem se fale que o movimento de ar tenha se dado por mera diferença de pressão e temperatura, como diz a física, mas a representação da passagem do tempo com o vento pela janela e fora dela, que proporcionaram o avivamento dos olhos e, por consequência, da memória, simbolismo a ser gravado pelo poema ou pintura.
Fernando Pessoa assim definiu o momento, quiçá sentido, quando observava um simples ventar sobre si: “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.” Difícil entender o coração, especialmente quando demonstra ter dentro de si quantidade excedente de amor, caso do poeta lusitano.
Esse passar de tempo, com ou sem vento a ser observado ou sentido, é outra sensação que nos leva a sentir que ora as horas passam muito depressa em relação às tarefas a concluir, caso em que sentimos que o dia se encurtou e que as elas se esvaíram em no máximo trinta minutos cada.
Ou quando se dá o contrário: ao sentirmos a passagem lenta e arrastada das horas, como se cada uma tivesse noventa minutos, sinal de que estamos em meio a um excesso de nada a fazer, como depois do almoço de domingo, ao nos esticarmos em um sofá… o que nos leva a não nos preocuparmos se o clarão do sol, ou o passar do vento, estão a se fazer presentes.
Nossas sensações, nesse instante, viajamos até a profundidade mais profunda do Érebo, além dos portões do sol nascente em que Hipnos, com sua gentileza, permite e dá a Morfeu o direito de nos conceder o sonho…