Afastados do núcleo de origem por situações de violação de direitos, menores de idade têm a possibilidade de morar temporariamente em casas de famílias cadastradas
REINALDO SILVA
Da Redação
A lembrança ainda é vívida, pulsante. Há pouco mais de um mês, Maria Aparecida, Edenivaldo e Maria Eduarda se despediram de uma doce menina de 3 anos de idade, que permaneceu na família por aproximadamente dois anos. A saudade às vezes transborda e se transforma em lágrimas, sempre acompanhadas do amor que deixou marcas perpétuas no coração de cada um deles.
Pode até parecer, mas esta não é uma história necessariamente triste. Propomo-nos, aqui, a falar de acolhimento, de entrega, de transformação.
Maria Aparecida da Silva Cambiriba tem 51 anos, mora no Distrito de Sumaré, em Paranavaí, e trabalha como contadora. O marido, Edenivaldo Lopes da Silva, tem 49 anos e é autônomo. A filha do casal, Maria Eduarda Cambiriba da Silva, tem 15 anos e é estudante.
Juntos, os três abraçaram uma missão sublime e desafiadora: participar do serviço chamado de Família Acolhedora, da Secretaria Municipal de Assistência Social. O objetivo é atender a crianças e adolescentes afastados provisória ou permanentemente da família de origem por viverem em situações quaisquer de violação de direitos, sob negligência ou violência psicológica, física ou sexual.
O serviço foi inaugurado em 2020, e o primeiro acolhimento familiar de Paranavaí data de 2021. Atualmente, nove famílias estão aptas a participar, quatro delas com crianças ou adolescentes em casa. A meta do município é chegar a 15.
A coordenadora é a assistente social Isabela Gerez Grolli, que explica se tratar de uma medida protetiva prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
As famílias interessadas precisam cumprir alguns requisitos, por exemplo, residir em Paranavaí há mais de dois anos, ter renda fixa, não estar na fila de adoção, não ter antecedentes criminais e não consumir álcool ou outros tipos de drogas. É preciso que todos os integrantes do núcleo estejam de acordo, mas não há exigências quanto à composição familiar.
Os participantes passam por um período de capacitação, que se estende por um mês e meio, com um encontro por semana. Concluída a preparação, podem receber crianças e adolescentes em casa. A cada acolhimento, assinam o termo de corresponsabilidade e assumem o compromisso de garantir acesso a alimentação, saúde, educação, lazer… Os acolhidos se tornam parte da família e podem permanecer por até 18 meses.
De acordo com a coordenadora do serviço, o município contribui com recursos financeiros para cobrir parte das despesas.
Isabela Gerez Grolli informa que 31 de maio é o Dia Mundial do Acolhimento Familiar. A data foi estipulada para dar visibilidade ao serviço, que garante cuidado, afeto e estabilidade emocional a crianças e adolescentes, enquanto se busca a reintegração à família de origem ou uma solução definitiva, como a adoção.
“A criança [ou adolescente] pode ir para o acolhimento institucional”, diz a coordenadora, referindo-se ao abrigo municipal. “Mas o acolhimento familiar é muito mais benéfico, porque proporciona convivência, vínculo e preparação para a etapa seguinte”, acrescenta, citando as duas possibilidades futuras – reintegração ou adoção.