REINALDO SILVA
Da Redação
Tosse por mais de três semanas, febre vespertina, sudorese noturna, emagrecimento sem causa aparente e cansaço excessivo são manifestações da tuberculose. Identificar esses sintomas e indicar acompanhamento profissional fazem parte das atribuições de quem atua na atenção primária à saúde, estratégia que estampa os planos nacional e estadual de erradicação da doença infecciosa que mais mata no mundo.
A preocupação percorre todo o Brasil e ganha ares ainda mais sérios em algumas regiões, como no Noroeste do Paraná, onde a incidência de casos é considerada alta. Em 2023, a proporção chegou a 31,1 registros para cada grupo de 100 mil habitantes. A título de comparação, em 2018 eram 23,8.
Enfermeira e técnica responsável pelo Agravo de Tuberculose na Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Juliana Taques Pessoa avalia: “[A região de] Paranavaí tem fronteiras, então temos que analisar essa questão de pessoas indo e vindo, trazendo, transmitindo. É importante conhecer o território para poder agir especificamente nessa população”.
Fatores socioeconômicos também são levados em conta. De acordo com o médico infectologista Francisco Beraldi de Magalhães, referência técnica para tuberculose e HIV na Divisão de Doenças Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis da Sesa, pessoas em condições de vulnerabilidade se tornam mais suscetíveis à doença e tendem a responder de maneira mais lenta ao tratamento.
Nesse sentido, os planos de erradicação da tuberculose propõem o trabalho intersetorial, unindo saúde, educação e assistência social em uma rede de apoio aos pacientes e familiares. Da mesma forma, é essencial investir em saneamento básico e criar programas que garantam moradia adequada à população.
Diagnóstico
O médico infectologista da Sesa fala da necessidade de fazer o diagnóstico precoce, que permite iniciar o tratamento de forma rápida e eficiente, bloqueando a cadeia de transmissão e evitando mortes por tuberculose.
“A gente tem hoje, através do Ministério da Saúde, uma capacidade diagnóstica muito bem instalada no estado, o tratamento é o melhor possível, o mais cômodo para o paciente. Quando a gente consegue juntar todas essas pontas, de ter o ponto de apoio do paciente, o diagnóstico precoce, o tratamento completo, o apoio social necessário, seja com cesta básica, seja com aluguel social, e programas de transferência de renda como Bolsa Família, isso acaba ajudando num desfecho favorável.”
Em relação aos resultados do diagnóstico precoce, Francisco Beraldi de Magalhães afirma que os impactos não são apenas clínicos, mas também financeiros. “O tratamento de tuberculose é barato [para o Sistema Único de Saúde] se for diagnosticado precocemente e feito no tempo oportuno.” O atraso aumenta o risco de internamentos prolongados, com ocupação de leitos hospitalares, e o uso de medicações mais caras.
Capacitação
Diante do avanço da tuberculose, os planos nacional e estadual de controle incluem a capacitação dos profissionais de saúde, como a que ocorreu nesta quinta-feira (12) em Paranavaí. Representantes de diferentes municípios da macrorregião Noroeste se reuniram para conversar com Francisco Beraldi de Magalhães e Juliana Taques Pessoa sobre o tema.
As atividades são voltadas para médicos, equipes de manejo clínico e profissionais que estão na ponta do atendimento à população. “A gente está sensibilizando porque a tuberculose ainda existe. A gente quer que as pessoas tenham a oportunidade de fazer o diagnóstico precoce e o tratamento oportuno”, diz a enfermeira.
Noroeste
Técnica responsável pela Tuberculose na 14ª Regional de Saúde, Maria da Penha Francisco afirma que alguns municípios do Noroeste do Paraná adotaram medidas eficazes de atendimento aos pacientes, aliando políticas de assistência social, por exemplo.
A atuação das equipes dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e dos Centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) tem sido determinante nesse sentido. “Se a gente continuar fazendo tudo do mesmo jeito, a gente vai ter sempre os mesmos resultados, então a gente precisa lançar mão de estratégias diferentes.”