LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O volume do setor de serviços, maior empregador do país, recuou 0,1% em janeiro, frente a dezembro, informou nesta quarta-feira (16) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado ficou abaixo das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam avanço de 0,3%.
A retração veio após o segmento acumular ganho de 4,7% nos dois últimos meses do ano passado.
Mesmo com o recuo na largada de 2022, o setor de serviços continua em nível superior ao registrado no pré-pandemia. Está 7% acima de fevereiro de 2020, antes da crise sanitária. Também está no maior patamar desde agosto de 2015, diz o IBGE.
O segmento envolve uma grande variedade de negócios: de bares e restaurantes a instituições financeiras, de tecnologia e de ensino.
“Nesse processo de recuperação que o setor de serviços vem apresentando desde junho de 2020, há um predomínio absoluto de taxas positivas: são 15 positivas contra cinco negativas, ou seja, uma larga base de comparação, o que faz com que, vez ou outra, o setor mostre algum tipo de acomodação”, ponderou Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do IBGE.
A baixa de 0,1% em janeiro foi acompanhada por três das cinco atividades investigadas. O destaque veio das perdas dos serviços de informação e comunicação (-4,7%), que recuaram pelo segundo mês consecutivo.
A base de comparação forte ajuda a explicar a queda em janeiro, segundo Lobo. Com o isolamento social, esse ramo teve crescimento durante a pandemia. A atividade de informação e comunicação está 7,3% acima do pré-coronavírus.
As demais baixas em janeiro vieram dos serviços prestados às famílias (-1,4%) e de outros serviços (-1,1%). O primeiro interrompeu nove taxas positivas seguidas, com 60% de crescimento no período. O segundo eliminou uma pequena parte do avanço registrado nos dois últimos meses de 2021 (5,7%).
Os serviços prestados às famílias foram os mais afetados pela Covid-19, porque reúnem empresas que dependem da circulação de pessoas e do contato direto com clientes. Bares, restaurantes e hotéis fazem parte da lista de negócios.
Com a reabertura da economia e o avanço da vacinação, os serviços prestados às famílias tiveram melhora no país, mas ainda estão 13,2% abaixo do pré-crise.
Em janeiro deste ano, o Brasil teve aumento de casos de coronavírus com o impacto da variante ômicron. Contudo, não houve restrições tão fortes à circulação de pessoas, lembrou Lobo.
Por isso, o pesquisador entende que o recuo dos serviços prestados às famílias pode estar mais associado a fatores conjunturais, como a escalada da inflação e a renda fragilizada.
“Tendo a crer que tenha sido algo mais conjuntural, mais relacionado a aumento de preços ou menor renda disponível”, avaliou Lobo.
O ramo de outros serviços, a exemplo dos prestados às famílias, também segue abaixo do pré-crise. Está em nível 0,6% inferior ao de fevereiro de 2020.
De acordo com o IBGE, os ramos de transportes (1,4%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (0,6%) foram os únicos que cresceram em janeiro de 2022.
Ambos registraram a terceira taxa positiva em sequência. Nesse período, avançaram 6,6% e 5,3%, respectivamente.
Os transportes estão 13,1% acima do pré-pandemia. Já os serviços profissionais e administrativos superam em 1,4% o nível pré-crise.
Na visão do economista Luca Mercadante, da Rio Bravo Investimentos, o recuo de 0,1% do setor como um todo, em janeiro, reforça as projeções de perda de fôlego da atividade econômica no começo de 2022.
Mercadante associa a baixa de serviços a questões como a perda de renda dos brasileiros. O avanço da ômicron também pode ter impactado o resultado de janeiro, conforme o economista, já que parte da população teve de passar por período de isolamento, o que impediu o consumo de serviços presenciais.
“A queda da renda deve continuar como a grande vilã nos próximos meses. Os efeitos da guerra na Ucrânia ainda estão um pouco incertos, mas a possibilidade de mais inflação com o conflito pode prejudicar ainda mais”, projeta Mercadante.
ALTA DE 9,5% ANTE JANEIRO DE 2021
Na série sem ajuste sazonal, no confronto com janeiro de 2021, o volume do setor de serviços assinalou a 11ª taxa positiva consecutiva, indicou o IBGE. O avanço foi de 9,5% no primeiro mês de 2022.
Analistas do mercado projetavam alta menor, de 9,3%, conforme a agência Bloomberg.
No acumulado de 12 meses, o volume de serviços registrou crescimento de 12,2% até janeiro. É a maior taxa da série histórica, iniciada em 2011. Conforme o IBGE, a base de comparação fragilizada pela Covid-19 ajuda a explicar o avanço robusto.
Antes de divulgar o desempenho de serviços, o instituto apresentou outros dois indicadores setoriais de janeiro de 2022. A produção industrial caiu 2,4% frente a dezembro, enquanto as vendas do varejo subiram 0,8%.
Tanto a produção das fábricas quanto o comércio continuam abaixo do patamar pré-pandemia. Ou seja, ainda não recuperaram todas as perdas registradas na crise sanitária.
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