DANIELE MADUREIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Lorrane Andrade, 25, queria trabalhar com moda desde pequena. Quando se casou, a professora de Educação Infantil convenceu o marido de que ela deveria primeiro investir em um curso à distância de moda digital, antes mesmo de mobiliar a casa. O mundo da moda parecia bem distante de Marechal Hermes, subúrbio do Rio de Janeiro onde cresceu, e ela estava focada em redirecionar a sua carreira.
Depois do curso, abriu uma página profissional no Instagram e passou a oferecer serviços, como fichas técnicas e desenvolvimento de croquis. Ainda mantinha o emprego como professora, não dava para viver da moda. Em março do ano passado, foi surpreendida com um contato via rede social: a Shein a convidava para participar de um projeto-piloto de incubação de talentos de arte e design de moda.
A proposta era tentadora: a maior varejista on-line mundial de moda oferecia um crédito financeiro de R$ 25 mil e acesso a uma biblioteca de tecidos gigantesca, com apoio técnico do centro de pesquisa e desenvolvimento da multinacional na China, para que ela desenvolvesse uma coleção, de pelo menos duas peças, para alguma das 32 categorias que a Shein trabalha (vestidos, jeans, malhas, conjuntos etc.).
“Eu não acreditei quando eles entraram em contato, era algo bom demais”, disse Lorrane à reportagem. Ela desenhou três modelos dois vestidos (um deles plus size) e um conjunto. Cada um ganhou uma tiragem de 100 peças e foi oferecido na plataforma global da Shein, que atende 150 países.
“Eu fiquei sem palavras quando entrei na minha página na Shein e vi que não tinha mais peças para vender, a coleção estava esgotada”, diz ela, que se emocionou com comentários elogiosos de consumidoras em português, espanhol e francês. “Foi um sonho realizado. Venho de um lugar onde a moda é sinônimo de elite”, afirma Lorrane, que agora, como estilista profissional, prepara a segunda coleção para a Shein.
A gigante asiática lança esta semana a versão brasileira do Shein X, o programa de incubação de talentos da moda, que atende tanto profissionais que fazem arte para estampas, por exemplo, quanto designers de roupas e acessórios.
Não é preciso ter qualquer formação em moda para participar,. O pré-requisito é ser brasileiro e enviar uma ficha de inscrição juntamente com um portfólio detalhado ou obras de arte para avaliação, tudo no formato digital. O cadastramento é feito via plataforma SHEIN X | Empowering Creativity | Collabs with Emerging Designers and Artists | #SHEIN X (discoversheinx.com).
O Shein X foi lançado em 2021 nos Estados Unidos e já está presente em mais de 20 países. Até agora, 41 mil produtos foram desenvolvidos por 4.600 participantes, que têm suas criações vendidas na plataforma global da Shein.
Além do crédito financeiro, eles recebem um percentual (não revelado) sobre as vendas dos produtos, expostos em suas páginas pessoais no site da empresa. De acordo com a varejista, até agora foram pagos em comissões US$ 5 milhões (R$ 24,3 milhões).
A propriedade intelectual das peças é da Shein, sem contrato de exclusividade com os participantes. Designers e artistas são colaboradores freelancers da plataforma, que não abre espaço para contratação fixa.
Os produtos desenvolvidos digitalmente são fabricados na China pela varejista, que tem sede em Singapura e valor de mercado estimado em US$ 100 bilhões (R$ 485,4 bilhões). Este ano, a companhia deve abrir o capital nos Estados Unidos.
“Queremos ajudar a desenvolver os novos talentos para que eles sejam empreendedores”, diz a diretora de marketing da Shein no Brasil, Raquel Arruda. “Eles já começam já expondo na plataforma mundial da Shein, uma oportunidade única para mostrar o seu trabalho”.
O projeto-piloto lançado no ano passado reuniu 225 brasileiros, que lançaram seus produtos no site da varejista. “É um time bastante diverso em gênero, idade e região do país”, afirma a executiva.
A Shein vai oferecer crédito financeiro de R$ 25 mil para os designers de moda e de R$ 5.000 para os artistas. O mínimo de cada coleção são duas peças, mas elas podem chegar a quatro ou cinco, diz Raquel.
Em setembro do ano passado, a Shein anunciou investimentos de US$ 50 milhões (R$ 242,7 milhões) no programa até 2028. Entre 2021 e 2023, o Shein X já havia recebido um aporte de US$ 55 milhões (R$ 267 milhões).
O centro de desenvolvimento e pesquisa da empresa na China, que conta com cerca de 300 profissionais, dá a palavra final sobre as coleções globais, cujo ritmo de lançamento é frenético: cerca de 2.000 produtos novos por dia.
No ano passado, a multinacional fechou um compromisso com o governo brasileiro para investir R$ 750 milhões dentro de três anos no país, com a contratação de 2.000 fábricas locais. “Por enquanto, a produção das peças do programa Shein X Brasil será feita na China”, diz Raquel.
CONCURSO GLOBAL DA PLATAFORMA VAI CONCEDER PRÊMIOS DE R$ 230 MIL
Os recursos do Shein X também serão usados para promover um concurso global de talentos, com prêmios que somam cerca de R$ 230 mil. Com o tema “Radiance”, o Shein X Global Challenge vai selecionar os melhores designers em moda feminina da plataforma. As inscrições já estão abertas e vão até 15 de fevereiro. O anúncio dos vencedores será entre 11 e 15 de março.
O primeiro colocado vai receber 10.000 euros (R$ 53,2 mil). Também serão escolhidos três designers, cada um com um prêmio de 5.000 euros (R$ 26,6 mil). Outros seis finalistas vão receber, cada um, 3.000 euros (R$ 16 mil) como fundos de startup.
“Em março, o time de vencedores vai para Londres conhecer o júri do concurso e participar de uma master class de design”, diz Roberta.
Os dez finalistas também verão suas coleções apresentadas em um desfile exclusivo da Shein, além de lançarem suas peças na plataforma global da varejista.
“Elas estarão disponíveis aos nossos 15 milhões de clientes ao redor do mundo”, diz Roberta, que destaca a força da Shein no país, um dos cinco maiores mercados globais da asiática, atrás apenas de Estados Unidos, Arábia Saudita, França e Inglaterra.
“Nós fomos o terceiro aplicativo mais baixado do Brasil em 2023, com 53 milhões de downloads, só atrás do TikTok e do Instagram”, diz a executiva, citando dados da ferramenta de pesquisas de mercado AppMagic.