REINALDO SILVA
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No primeiro semestre de 2023, o consumo de energia elétrica no Noroeste do Paraná cresceu 2,4% em relação a igual período de 2022. A diferença é pequena e não compromete a capacidade energética. “Nosso sistema tem potência instalada de mais que o dobro da demanda”, garante Paulo Bubniak, superintendente de Operação da Copel.
Apesar disso, o setor produtivo tem sofrido perdas significativas com interrupções no fornecimento. Os registros se tornaram frequentes ao longo dos últimos meses e há relatos de prejuízos milionários em indústrias da região.
O Diário do Noroeste abordou o tema em publicação no dia 31 de janeiro deste ano, sob o título “Entidades cobram solução para picos e quedas de energia no Noroeste do Paraná”.
Na ocasião falaram ao DN: presidente do Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná (Simp), João Eduardo Pasquini; presidente da Associação dos Produtores de Arroz Irrigado do Paraná (Apai-PR), Kleber Hudson Canassa; e presidente da Sociedade Civil Organizada do Paraná (Socipar), Demerval Silvestre.
Diante dos questionamentos apresentados pelas lideranças, o superintendente de Operação da Copel concedeu entrevista exclusiva ao Diário do Noroeste e explicou que diversos fatores podem causar as interrupções no fornecimento de energia elétrica.
Citou alguns exemplos: uma casca de eucalipto lançada na rede pelo vento, danos causados em um poste atingido por um veículo, animais em contato com a rede e, principalmente, vendavais. “De setembro do ano passado para cá, temos vivido uma situação climática nunca antes vista. No mês de janeiro, começamos com temporais quase diariamente em alguma região do Paraná.”
Segundo Bubniak, com o intuito de amenizar os problemas provocados pela vegetação, a Copel investe em programas de manejo voltados para os centros urbanos, inclusive apontando a importância de não plantar árvores que cresçam até alcançar a rede.
Na área rural, a companhia promove a troca da rede nua pela protegida, cobrindo os cabos para deixá-los menos suscetíveis à vegetação e às descargas elétricas.
Além disso, a Copel trabalha com equipamentos de redundância, que consistem em outra fonte de alimentação para manobrar o fornecimento de energia e atender os clientes temporariamente até que a rede principal seja recuperada.
Indústrias – Para além das intercorrências externas, Bubniak destacou que a capacidade dos maquinários utilizados pelas indústrias também interfere diretamente na constância do fornecimento de energia elétrica.
Ilustrou a situação: “Uma indústria com equipamento importando, italiano, exige 99,95% do nível de tensão de fornecimento. Esse equipamento instalado em uma rede com porte menor, uma rede rural, o produtor passa a ter problemas. Às vezes um simples ajuste resolve. Depois de uma verificação, acha-se a solução”.
Grandes indústrias, com produção muito sensível, precisam subir o nível de tensão – quanto maior o nível de tensão, menos oscilações o consumidor enfrenta. “Tem indústrias que migram para o sistema de 138 kV e resolvem os problemas com perdas de produção”, disse o superintendente de Operação da Copel. “Há regras regulatórias. Não é qualquer indústria que pode entrar no sistema de alta tensão, mas as de grande porte.”
Seguiu: “A gente vê indústrias com 4, 5, 6 megawatts ligadas em uma rede rural de 3.8. Vão ter maior instabilidade. Essas indústrias já têm porte para entrar na alta tensão. Claro, requer investimento alto, quanto maior a tensão, maior o investimento de infraestrutura”.
De acordo com Bubniak, 6 megawatts são suficientes para abastecer uma cidade de aproximadamente 10 mil habitantes.
Rede subterrânea – O superintendente de Operação da Copel afirmou que a mudança da rede aérea para a subterrânea traria melhorias na qualidade do fornecimento de energia. Nos grandes centros, a substituição avança pouco e de forma pontual.
“A questão é que é uma rede muito mais cara para construir e isso é rateado na tarifa de energia entre todos os consumidores. Se decidisse colocar em Curitiba, a conta do maringaense aumentaria. O paranaense estaria disposto a pagar oito vezes mais na fatura para evitar ter falta de energia?”
O modelo de redes no Brasil é predominantemente aéreo e pode levar anos para que seja completamente subterrâneo. “É uma questão muito mais de regulação tarifária do que técnica. A solução existe, mas é cara.”
Energia solar – Sobre o uso de energia solar com alternativa para reduzir picos e quedas, Bubniak disse que na maioria dos casos o sistema funciona de forma paralela. “Quando interrompe a rede da Copel, interrompe também a energia solar.” Poucos clientes utilizam de forma independente, com operação ilhada ou bateria.
Antes da pandemia de Covid-19, a companhia lançou um projeto-piloto em São Miguel do Iguaçu, no Oeste do Estado, utilizando microrrede que atua de forma direta. Com o advento da crise sanitária, não houve novas adesões pelo Paraná.
Investimentos – O superintendente de Operação da Copel ressaltou que os setores de planejamento verificam continuamente a demanda, inclusive prospectando crescimento da população, dos municípios e das regiões.
Os números permitem fazer investimentos para melhorar e ampliar a rede. Em 2024 a companhia iniciará obras que superam a marca de R$ 2 bilhões, sendo R$ 270 milhões destinados ao Noroeste do Paraná.