ADÃO RIBEIRO
Recentemente dois fatores dominaram os noticiários da política brasileira. São tão distintos e ao mesmo tempo tão parecidos. Ambos dizem respeito ao futuro do Brasil. Pensando no longo prazo, a facada que cortou 90% (R$ 600 milhões) do orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia pegou a todos de surpresa, incluindo o ministro Marcos Pontes (isso que é novidade!). A segunda, pensando para já e para um futuro ainda mais longevo, também é surpreendente, pois de tão elementar, ninguém imaginou que haveria veto. Sim, o presidente vetou o projeto que prevê distribuição de absorventes íntimos para estudantes e outras mulheres em situação de vulnerabilidade social.
O argumento para o segundo corte é que falta recurso, algo perto dos R$ 100 milhões ao ano. Portanto, o presidente perdeu a chance de acabar com a chamada pobreza menstrual, uma expressão ruim por si só e pela realidade, mas que para além do termo, carrega tabus e preconceitos. Meninos, precisamos falar de menstruação, faz parte do crescimento como humanidade e cidadania. Não vale o argumento que presidentes anteriores não fizeram. Eles são o passado, enquanto a demanda está aqui, no presente.
Detalhando a nossa reflexão, a falta de dinheiro no ministério tira do horizonte a perspectiva de um país inserido no mundo atual. Sem desenvolvimento, ficamos eternamente na condição de importador de bens de capital, pouco transformador de matéria-prima e orgulhoso de ser agroexportador com baixo valor agregado na maioria dos itens (justiça seja feita, o agro tem sido a nossa tábua de salvação). A proposta é simples: devolvam o dinheiro da ciência e da tecnologia, nossa melhor aposta.
Outra coisa: que o Congresso Nacional reverta a decisão presidencial, derrubando o veto e buscando alternativas que garantam a dignidade de mulher brasileira. Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco prometeu impor com os seus pares uma medida nesse sentido, buscando recursos ao repensar a distribuição do orçamento.
As jovens não podem perder aulas e a dignidade por falta de absorventes. Também quem está em situação de rua merece ter acesso ao mínimo de higiene. Além do absorvente penso ser importante inserir sabonete, desodorante etc. Essas meninas merecem a chance de mover a roda da ciência e da tecnologia no futuro (Percebeu que os assuntos caminham juntos?). Para tal, precisam de absorvente agora, todos os meses.
E, se preciso for, escrevamos MESTRUAÇÃO E ABSORVENTE com letras maiúsculas para que ninguém se omita. No Ceará existe uma política nesse sentido. Em Paranavaí começamos. Há uma campanha para voluntários, liderada pela vereadora Fernanda Zanatta, em parceria com entidades e empresas. Recorrendo ao hino do município, também neste quesito desejo que sejamos “Cidade que não pode mais parar.”
(Os artigos são de responsabilidade dos seus autores e não representam, necessariamente, a opinião da editora)
*Adão Ribeiro é editor do DN, historiador pela Unespar