KLAUS RICHMOND
DA FOLHAPRESS
O Santos demitiu na última segunda-feira (20) o preparador de goleiros de seu time feminino, Fabrício de Paula, e o acusou publicamente de tentar subornar a goleira do Red Bull Bragantino, Alice, para favorecer um suposto esquema de apostas. O profissional encontrou a atleta antes da partida entre as equipes, realizada na Vila Belmiro, no fim de semana.
O Bragantino corroborou as acusações. Já a defesa do agora ex-funcionário alvinegro negou a versão apresentada pelos clubes e cobrou provas. Afirmou ainda que um material entregue por Fabrício à quarta árbitra do jogo, em imagem que ganhou repercussão nas redes sociais, era uma capa de chuva.
“Tomaremos diversas medidas judiciais. Pediremos para que todos os envolvidos se expliquem do conteúdo da entrevista do Santos e da nota do Bragantino. Em nenhum momento apresentaram provas ou permitiram que o Fabrício se explicasse. Ele foi julgado pelo Santos e pelas redes sociais sem absolutamente nada”, disse à Folha o advogado do preparador, Higor Marcelo Maffei.
“Não foi feito nada de errado, e não existiu nenhuma tentativa de manipulação de resultado. Foi entregue somente uma capa de chuva, era uma simples capa. Com a goleira não houve nada além de uma conversa para uma possível contratação pelo Santos. As pessoas julgam com base no que acham existir”, acrescentou.
O caso ganhou maior proporção depois de o presidente do Santos, Andres Rueda, convocar uma entrevista coletiva para anunciar a demissão e explicar as razões para isso. Na ocasião, o dirigente informou que encaminharia as provas à CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e ao Ministério Público.
“Talvez seja a cabeça do iceberg do que acontece no nosso futebol. Um funcionário do futebol feminino do Santos se utilizou de um intermediário para [tentar] subornar uma jogadora para um resultado elástico no primeiro tempo para efeito de apostas. Como o Bragantino já estava desclassificado, tentou-se esse suborno”, declarou Rueda.
“A jogadora prontamente recusou a proposta e comunicou a seus superiores, que entraram em contato comigo, apresentando inclusive propostas materiais, com prints de conversas. Tão logo chegou ao nosso conhecimento, junto com o presidente do Bragantino, tomamos algumas providências. De imediato, demitimos por justa causa”, acrescentou.
A explicação da defesa de Fabrício para sua presença no hotel onde estava hospedada a delegação adversária é a de que o profissional conversava com um amigo do futebol. “Ele foi para conversar sobre a situação dela, se havia algum intermediário. Somente isso.”
Sem dar nomes, Rueda também citou a quarta árbitra do jogo, Adeli Maria Monteiro. Segundo o presidente do Santos, ela recebeu diretamente do funcionário “um envelope”. É o material que a defesa diz ser uma capa de chuva.
O momento foi registrado pela transmissão oficial do jogo. A imagem se espalhou na internet, mas não teve registro na súmula da partida. Procuradas, a comissão de arbitragem da CBF e a equipe de arbitragem do jogo não se manifestaram até a publicação deste texto.
“Tem uma passagem inclusive do início do jogo, um negócio no mínimo esquisito, um funcionário dando supostamente um envelope para a quarta árbitra, que tem de ser investigado. Não ficaremos contentes enquanto não apurarmos toda a podridão”, citou Rueda.
“Quem tem que explicar algo são o Santos e o Red Bull Bragantino. Eles falaram que viram um envelope? Terão que provar”, rebateu o advogado do preparador.
O clube de Bragança Paulista se manifestou até o momento somente por nota repetindo as acusações feitas pelo Santos. Disse que a jogadora foi abordada por mensagens com uma proposta de suborno para combinação de resultado e prontamente informou o caso ao diretor-executivo da agremiação, Thiago Scuro.
A CBF afirmou ter recebido a denúncia e encaminhado a demanda ao STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) para apuração. Procurados, os responsáveis pelas competições femininas da entidade não quiseram se manifestar.
A partida entre as equipes terminou empatada por 1 a 1. O Bragantino abriu o placar nos acréscimos do primeiro tempo, com Mylena, e sofreu o empate aos 41 da segunda etapa, com Gi Fernandes.
O empate manteve o Santos na sétima posição, com 19 pontos. O time de Bragança, em 16º e último lugar, com quatro pontos, já está rebaixado.