Plataforma de caronas deixa de operar após decisão judicial; usuários relatam dificuldades e impactos no dia a dia
Cibele Chacon – da redação
A BlaBlaCar, uma das principais plataformas de caronas do Brasil, teve seus serviços suspensos em todo o Paraná a partir desta segunda-feira (30), após uma decisão liminar do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJ-PR). Com isso, todas as ofertas de caronas com origem ou destino no estado foram interrompidas.
A medida foi determinada pela juíza Carolina Delduque Sennes Basso, da 1ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba, atendendo a um pedido da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros dos Estados do Paraná e Santa Catarina (Fepasc) e do Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário Intermunicipal do Estado do Paraná (Rodopar). As entidades alegam que a BlaBlaCar promove o transporte intermunicipal de passageiros de maneira ilegal.
Com a suspensão, a empresa está proibida de prestar, divulgar ou oferecer serviços de carona no estado. O descumprimento da decisão pode acarretar multa diária de R$ 50 mil. A BlaBlaCar informou que recorrerá da decisão, afirmando que seguirá todos os trâmites legais.
Em Paranavaí e região, muitos usuários relatam estar sentindo os impactos da medida. Para Vânia Jacó da Silva, 56 anos, a suspensão representa uma grande dificuldade. “Uso muito para ir a Londrina. No BlaBlaCar, o pessoal que se desloca oferece caronas o dia todo e o tempo de percurso é bem menor, em média duas horas e meia. Se eu for de ônibus com a empresa que faz a linha, levarei de seis a sete horas até o destino. Só tem dois horários e o valor é mais alto também”, explica.
A insegurança também preocupa. Segundo Vânia, alternativas como grupos de carona no WhatsApp e Facebook são menos confiáveis. “No BlaBlaCar, a gente se sente seguro porque tem avaliações dos passageiros e motoristas. Nos grupos de carona, ficamos mais vulneráveis a assaltos, e também vai ser ruim depender de algumas pessoas que não têm comprometimento nenhum e cancelam viagem na última hora”, lamenta.
O jornalista Elton Telles, 34 anos, que se mudou de Maringá para São Paulo, também sente os impactos. “Era prático, intuitivo, e a gente tinha todas as informações necessárias no aplicativo. Era mais barato do que ônibus ou avião”, relembra. Ele lamenta que não poderá mais usar o aplicativo para visitar os familiares no Paraná.
Anderson Junior, 22 anos, bombeiro militar que mora em Londrina e trabalha em Paranavaí, destaca que o aplicativo era essencial para seu deslocamento frequente. “Mudará drasticamente meu cotidiano. Não é viável fazer essa viagem sem dividir custos. Obrigatoriamente será necessário mudar de cidade”, afirma. Ele já ofereceu 135 caronas pela plataforma, utilizando-a três vezes por semana.
O professor e militar Lucas Ewandyr, de 30 anos, utilizava a BlaBlaCar desde 2019. Ele ressalta a praticidade da plataforma e os benefícios financeiros. “Era mais barato e prático do que ônibus. A segurança também era um diferencial, com avaliações que garantiam maior confiança”, explica. Para ele, a suspensão impacta principalmente as classes BC e D, que viam no aplicativo uma forma acessível de viajar ou complementar renda.
Lucas também critica a falta de alternativas. “O Estado é insuficiente em fornecer recursos para deslocamento. A gasolina e outras tarifas são muito elevadas no Brasil. Muitas pessoas usavam o BlaBlaCar para complementar os gastos de trabalho ou como fonte de renda principal”, pontua.
Com a suspensão do serviço, muitos usuários de Paranavaí e região já começam a buscar alternativas, como grupos em redes sociais. Mas a ausência de mecanismos de avaliação e a falta de regulamentação aumentam a insegurança.
A decisão judicial gera debates sobre a regulamentação de plataformas digitais e o impacto no transporte intermunicipal. Para os usuários, a BlaBlaCar oferecia uma solução prática, econômica e segura, que agora deixa uma lacuna difícil de preencher.
O futuro da plataforma no Paraná dependerá do desdobramento judicial e da possibilidade de um diálogo entre as empresas de transporte e as plataformas digitais. Enquanto isso, os usuários seguem buscando alternativas, mesmo que elas estejam longe de oferecer a mesma confiabilidade.