Aumento de 50% na alíquota para produtos brasileiros preocupa o setor produtivo, que espera solução rápida e diplomática para a guerra tarifária
REINALDO SILVA
Da Redação
Paranavaí é responsável por 12% da produção brasileira de suco de laranja para exportação. Em 2024, as vendas para o exterior alcançaram a marca de USD 127 milhões, dos quais USD 10,9 milhões resultaram das negociações com os Estados Unidos.
No ranking nacional, o município está entre os 60 com maior volume de comercialização internacional, e 81% do total produzido em Paranavaí tem origem na indústria de transformação da laranja. Outros 10% são óleos essenciais, também provenientes da citricultura.
Diante da grandeza da cadeia produtiva citrícola para a economia local, e considerando também os outros segmentos, os novos rumos da relação comercial entre Brasil e Estados Unidos se mostram perigosos.

Foto: Agência Estadual de Notícias
O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Carlos Henrique Scarabelli, manifestou preocupação com o anúncio feito pelo presidente norte-americano, Donald Trump, de aplicar taxação adicional de 50% sobre os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.
“Estamos acompanhando os desdobramentos dessa negociação internacional, porque vai afetar de forma direta a indústria de Paranavaí. Esperamos que seja o menos impactante possível, que não interfira e não prejudique a economia de Paranavaí.”
Na justificativa para o aumento da alíquota, Donald Trump mencionou o processo judicial que investiga o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Apesar do discurso incisivo, ele disse estar disposto a negociar futuramente com o governo brasileiro.
Em entrevista ao Jornal Nacional (TV Globo), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que está pronto para buscar soluções diplomáticas que sejam menos danosas para os dois países, mas reforçou que não aceitará a interferência dos Estados Unidos sobre as decisões que dizem respeito apenas às instituições brasileiras. Lula também ameaçou taxar igualmente os produtos estadunidenses.
Entidades
Diante da guerra comercial que se desenha, a inquietação da indústria nacional e dos demais setores produtivos pode ser sintetizada nas palavras da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). Em nota, a entidade afirmou:
“Essa preocupação se deve à relevância do volume de negócios com frutas entre o Brasil e os EUA, que gerou, em 2024, o expressivo valor de USD 148 milhões para o setor e para a economia brasileira, com tendência de um desempenho ainda melhor em 2025.”
O número nacional demonstra que os EUA têm sido um parceiro importante para a fruticultura brasileira, e que as relações comerciais entre exportadores brasileiros e importadores norte-americanos são pautadas por respeito mútuo, equilíbrio e elevado nível de profissionalismo.
A Federação das Indústrias do Estado do Paraná publicou: “Diante da perplexidade gerada pelo anúncio da taxação de 50% sobre produtos brasileiros que será imposta pelos Estados Unidos a partir de 1º de agosto, a Fiep avalia quais serão os possíveis impactos para diferentes segmentos do setor industrial paranaense”.
A entidade disse que aguarda o posicionamento do governo brasileiro, “esperando que sejam abertos canais de diálogo efetivos para se buscar a anulação dessa taxação, evitando-se assim prejuízos imensuráveis para a economia nacional”.
Exemplo local
A indústria Zanoni Equipamentos, de Paranavaí, fabrica produtos em aço inoxidável para aeronaves internacionais e nacionais. 80% dos componentes são para aviões agrícolas e 20% para máquinas de pulverização terrestre.
As exportações representam 20% do volume de produção, sendo metade desse percentual destinada aos Estados Unidos, país com o qual mantém parcerias comerciais desde 2017. A estimativa é que 95% dos aviões agrícolas de lá tenham alguma parte do sistema da Zanoni Equipamentos.

Foto: Ivan Fuquini
O gerente comercial da empresa, Juliano Mastella da Silva, avaliou que a taxação de 50% sobre os produtos brasileiros terá impacto negativo nas vendas para os Estados Unidos. Para ele, a guerra tarifária teria “consequências muito pesadas” não só para o setor em que atua, mas para a economia de forma geral. Para a empresa, especificamente, uma das possibilidades seria a interrupção do projeto de expansão em território norte-americano.

Foto: Ivan Fuquini
O gerente de negócios internacionais, Lucas Cabral Zanoni, disse que não espera reflexos sobre o volume de produção, já que 80% abastecem o mercado nacional, sendo os principais compradores os estados de Mato Grosso do Sul e Bahia. Nessa perspectiva, também não haveria necessidade de demitir funcionários; hoje são 85 pessoas.
Se o anúncio de Donald Trump se concretizar, a empresa terá como alternativas encontrar um país com taxas mais baixas que intermedeie as vendas ou estabelecer uma sede operacional dentro dos Estados Unidos – essa opção, pouco vantajosa financeiramente.
Zanoni e Silva contaram que o as maiores vendas para clientes estadunidenses são concretizadas no início do ano. A de 2025, portanto, não teve a incidência da nova alíquota. A de 2026 já teria. De maneira imediata, as negociações em andamento com duas empresas do setor – Air Tractor e Thrush – devem sofrer atrasos.

Foto: Ivan Fuquini
Expectativa
Apesar da apreensão, o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Paranavaí demonstrou ter esperança na solução do problema. “A gente acredita que até agosto o governo federal [brasileiro] e o governo dos Estados Unidos possam chegar a um acordo viável, para que a economia de Paranavaí e a do Brasil não sejam prejudicadas. Estamos aguardando ansiosos para que seja feito o melhor possível.”