Renato Benvindo Frata
Quanto tempo terá uma primavera? A estação do ano tem três meses, mas, se pensarmos na primavera da vida será uma incógnita tão iluminada quanto a maior árvore de natal a resplandecer em nossa mente, e trará consigo o maior ponto de interrogação que se possa imaginar. Quanto tempo dura a primavera da vida? Pergunta que filósofos de todos os tempos se debruçaram e debruçam a explicar, sem o conseguir.
Seu significado serve para uma série tão grande de acontecimentos que se os fosse descrever não caberiam numa simples crônica, mesmo porque quando se trata de vida, a abrangência se abre num leque descomunal, como por exemplo o começo do período reprodutivo de plantas e árvores, a mudança do colorido das folhas, a fecundidade dos animais para o acasalamento, o momento propício para se aguçar a sensibilidade pelos sentidos sensoriais, o primeiro emprego do homem, o primeiro caderno da criança e até a celebração da vida num intento mais religioso. São infinitas as formas de se ver – e de sentir a “primavera da vida.”
Seria ela a felicidade que tanto procuramos? Não sei, apenas que se realmente ela pode ser a “primavera”, poderíamos vivê-la e ser inteiramente felizes por todo o tempo? É possível isso?
Difícil filosofar sabendo não encontrar resposta, mesmo porque a fase em que vivemos é terrivelmente alienada, superficial, digital, consumista e competitiva e a tendência é que nos sintamos infelizes e insatisfeitos por mais bens e riquezas possuamos. Parece que nossos desejos nunca são saciados, talvez porque tenhamos aprendido a trocar o “ser” pelo “ter”.
Não sou quem fala, mas essa compreensão é de antes de Cristo quando o filósofo latino Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.), tascou: “Se não estou satisfeito com o que tenho, mesmo se possuísse o mundo, ainda me sentiria na miséria!”
Claro que ele quis dizer “miséria” no sentido de satisfação pessoal. Então, o que é preciso para ser feliz? Se bem procurarmos, encontraremos um trilhão de opiniões e talvez nenhuma se encaixe na nossa necessidade, o que nos leva de novo a nova indagação: o que fazer?
Transcrevo a fala de “Seijurou Hiko, o Samurai X” dos mangás japoneses: “A primavera tem as cerejeiras da noite. O verão têm as estrelas do céu, que iluminam os olhos. O outono tem a lua cheia refletida na água. O inverno tem a neve, que flui na relva. Para mim bastam essas coisas simples para que o saquê seja delicioso, mas, se mesmo assim, o gosto do saquê não for bom, então quer dizer que há algo de errado dentro de mim”.
Simples assim: cada fase da vida, como a do tempo, tem lá seu brilho e utilidade. E simplicidade de vida seria a resposta, ao meu ver, contra todas as dores que a modernidade nos coloca.