Por dom Anuar Battisti*
Encerramos o tempo do Natal com a celebração, nesta segunda-feira, dia 8 de janeiro de 2024, da Festa do Batismo do Senhor. A liturgia do Batismo de Jesus evoca o momento em que Jesus, ungido pelo Espírito Santo e apresentado aos homens como “Filho Amado” de Deus, abraçou a missão que o Pai lhe entregou: recriar o mundo, fazer nascer um Homem Novo. E propõe-nos, a todos nós que fomos batizados em Cristo, que tiremos desse facto as consequências que se impõem.
A primeira leitura – Is 42,1-4.6-7 – anuncia um misterioso “Servo”, escolhido por Deus e enviado aos homens para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim… Investido do Espírito de Deus, ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder, à imposição, à prepotência, pois esses esquemas não são os de Deus.
No Evangelho – Mc 1,7-11 – , aparece-nos a concretização da promessa profética da primeira leitura: Jesus é o Filho/”Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito e cuja missão é realizar a libertação dos homens. Obedecendo ao Pai, Ele tornou-Se pessoa, identificou-Se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de os promover e de os levar à Vida em plenitude.
O Evangelho apresenta a identidade de Jesus que, pela força do Espírito Santo e pelo testemunho da voz celeste é que o Mestre Jesus se apresenta como o Redentor.
Deus Pai ungiu Jesus com o Espírito Santo para promover o “julgamento das nações”. Julgamento no sentido de que os seres humanos terão a oportunidade, diante da pessoa e da pregação de Jesus, de se decidirem favorável ou contrariamente ao Reino de Deus.
Jesus é o Filho amado e o Messias Servo, obediente e cumpridor da vontade do Pai. Com esta Festa Jesus é investido oficialmente como o “Ungido”. A Filiação divina e o messianismo de Jesus são apresentados a partir de um testemunho fidedigno.
A segunda leitura – At 10, 34-38 – reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo para concretizar um projeto de salvação em favor dos homens; por isso, Ele “passou pelo mundo fazendo o bem” e libertando todos os que eram oprimidos. É este o testemunho que os discípulos devem dar, para que a salvação que Deus oferece chegue a todos os povos da terra.
Hoje – ao recordar o nosso batismo – agradecendo nossos pais pelo tesouro da fé católica devemos nos questionar: será que eu vivo a minha identidade cristã? Será que eu tenho consciência da graça e da missão que recebi no meu batismo?
A voz do Pai profere uma palavra de ternura: “Tu és o meu Filho bem-amado, em ti pus todo o meu amor”. Como se o Filho tivesse necessidade de ouvir dizer que era amado pelo seu Pai… A efusão é do Espírito para que o sopro de vida e de libertação que o Filho veio espalhar sobre a terra seja o sopro do Espírito, um sopro que não guardará para si, pois no Pentecostes derramará sobre os apóstolos. A solidariedade é a do Filho para manifestar a sua humanidade. Ele é verdadeiramente homem, homem no meio dos homens, partilhando toda a condição humana, exceto o pecado.
Um tempo novo abre-se diante de nós: Jesus vai seguir, com toda a liberdade, o caminho de Jerusalém e nós iremos acompanhar, ao longo do ano litúrgico, o seu ensino e redescobrir os sinais que Ele realiza. Fazendo memória dos batismos que a Igreja celebra e do nosso próprio Batismo, somos convidados a seguir os passos de Cristo. Que Ele nos envolva no seu seguimento e nos leve a viver juntos como irmãos.
*Dom Anuar Battisti é arcebispo Emérito de Maringá. (Artigo publicado no site da CNBB – cnbb.org.br)