De repente, um rato no corredor do apartamento no terceiro andar. Que surpresa, que indignação, que desaforo deste dentuço no corredor olhando com maior descaramento como se fosse dono da casa.
A exclamação minha e da Lourdes : Vixe veja o rato nos olhando e desafiando a tranquilidade de nossa casa, esse invasor que não sei de onde surgiu ou saiu, está ali a nos dizer :”Vim plantar o terror por uns dias por aqui”, e mexeu a cabeça para os dois lados como escolhendo um lugar para ficar escondido ou emboscado. Levantei-me e lhe disse: Sai daqui seu “Fela da Panela”, volta para o teu espaço, sai daqui, seu corno. Ele, apressado, deu-me as costas e refugiou-se em lugar que não consegui encontra-lo.
Foi um dia de tensão a procurar o dentuço, viramos tudo. O esperto veio mesmo tocar terror. A noite chegando, procurei o zelador e lhe pedi ajuda e nada de encontrarmos o “Fela da Panela”. O zelador me aconselhou deixar a porta do apartamento aberta durante a noite. Ele acreditava que o invasor sairia na boa pela porta aberta.
Dormimos com a porta aberta e com receio de o dentuço à noite roer meus pés ou outras coisas. Sono leve e tenso, o caos estava em casa. No amanhecer, acreditei que o “extraterrestre” tivesse encontrado a porta aberta e sumido. Mas não. Ouvi barulho no banheiro e, em lá chegando, o dito estava na bacia da pia, de modo escancarado, desafiando a mim e a força tarefa que chamei para expulsar e exterminar o intruso. De vassoura armado fui para cima do bicho e, sem êxito, o rato sumiu e fiquei de espreita para quebrar sua carcaça e nada. Não o vi mais. Isso durante o dia.
Nesse corre-corre, lembrei- me do livro “crepúsculos outonais”, de Renato Frata, que nos mostra no conto “Os cajados do tempo e o amor”, pensei ser o meu invasor o mesmo do conto: roedor de cajados dos irmãos khònos, kairòs e aiôn, amantes das coisas corretas. Mas aquele é filósofo e rato, mas se diz que não é. Esse aqui do meu apartamento é um rato mesmo, intruso e vagabundo, mamifero roedor pertencente à família “Muridae”. São conhecidos por sua capacidade de se adaptar a diferentes ambientes, seus dentes incisivos crescem e precisam ser desgastados pela mastigação. São onívoros, preferem grãos, frutas e insetos. Não sabia, mas li que eles são animais de estimação nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Japão. Nos Estados Unidos são chamados de “mouse”, na frança “souris”, em italiano “topo”, espanhol “raton”, em alemão “ratte”, em japones “nezumii.
Fui pedi penico ao zelador, pois o perebento resolveu entrar no quarto e instalou-se no colchão, Coloquei veneno nele, deu um chiado quase me dizendo: “Estou pebado”. Enquanto fui chamar o zelador, lembrei que no Crato, minha cidade natal, tinha os “mata-ratos”, uma trapa de funcionários do “Dneru”, Departamento Nacional de Endemias Rurais. Eles visitavam as casas e combatiam os ratos, estes considerados pragas em áreas urbanas e rurais, causando danos a propriedades e a transmitir doenças. Os mata-ratos usavam uniformes na cor caqui com uma mochila contendo produtos para combater ratos, mosquitos e outros insetos nocivos à comunidade.
O apoio chegou e fomos a caça do gabirú. Levantamos o colchão, estava lá o bicho. Lhe disse: “Vai encher o saco do cão com reza”, O zelador, rindo e armado com vassoura, disse estar pronto para abater o rato. O roedor estava assustado e eis que entra um morador do prédio, com uma caixa de sapato, cortada uma janela na parte frontal e com tampa. Colocou essa armadilha na frente do canelau e ele mais que depressa entrou. O vizinho fechou a janela e levou o invasor, soltando-o em uma data vazia próxima. Assim, terminou a sacanagem do invasor na minha casa. Não esqueça: o morador caçador é japonês, fez uma mágica com a caixa-armadilha, um exemplo de defensor dos ratos, dos gatos, dos cachorros, da natureza. Mas que esse rato deu terror deu. Isso deu.



