Uma pesquisa recente conduzida pelo Instituto Opinião revelou que a vacinação é considerada muito importante por 82,7% dos entrevistados, destacando a credibilidade que a imunização tem entre a população brasileira. No entanto, os números apresentados pelo Ministério da Saúde, em relação à cobertura vacinal no país, contam uma história diferente. Desde 2015, o Brasil não alcança o índice de 95% recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com taxas oscilando consistentemente abaixo dos 80%. O pior índice foi registrado em 2016, com apenas 50,44%.
“Considero encorajador verificar que grande parte da população brasileira considera a vacinação importante para que possamos evitar o retorno de doenças preveníveis por vacinação. Para mim, isto é um indicador de que este país pode voltar a se orgulhar de sua história, pela qual retirou do território brasileiro as doenças que tanto provocaram dores, sequelas/defeitos e mortes”, afirma Lurdinha Maia, coordenadora do Departamento de Assuntos Médicos de Bio-Manguinhos e do projeto Pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais (PRCV).
Apesar do apoio público à vacinação, os dados mais recentes do Datasus, no Ministério da Saúde, mostram uma preocupante cobertura vacinal de 47,93% até a última atualização em 2023. Esse é um cenário alarmante para um país que já foi considerado um exemplo global em termos de imunização. “É importante verificarmos agora quais as causas que levam a mais de 80% de brasileiros acreditarem nas vacinas e este número não ter a mesma representatividade nas coberturas vacinais”, diz Lurdinha.
Segundo a coordenadora, o projeto PRCV tem identificado questões básicas dentro dos territórios brasileiros, como horário reduzido das UBSs, alta rotatividade de profissionais de saúde e até quatro sistemas de informação sem a integração dos dados.
Em 2023, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) completa 50 anos. Em recente entrevista à Agência Brasil, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, lembrou que o PNI permitiu ao país enfrentar mais de 20 tipos de doenças. “Erradicamos a varíola, eliminamos a poliomielite, a rubéola, a síndrome da rubéola congênita e o sarampo. Com a queda nas coberturas vacinais nos últimos anos, infelizmente, o sarampo retornou, e temos de fazer de tudo para evitar o retorno da poliomielite”, afirmou Nísia Trindade.
Um fator que parece contribuir para essa disparidade entre a percepção pública e a realidade da cobertura vacinal é a disseminação de desinformação. “Campanhas de desinformação que se espalharam pelas redes sociais têm impactado negativamente a confiança da população nas vacinas. A crise política que teve início em 2013, questionando a legitimidade das instituições do país, e o ambiente de polarização política exacerbado, contribuíram para a erosão da confiança no sistema de saúde e nas vacinas”, afirma Arilton Freres, sociólogo e diretor do Instituto Opinião, que tem sede em Curitiba.
“O papel das redes sociais também é evidente, onde informações não verificadas podem ganhar ampla circulação. A afirmação de que a vacina transformaria os imunizados em ‘jacarés’ é um exemplo notório disso”, lembra Freres.
Lurdinha Maia reconhece o desserviço das redes sociais, mas demonstra otimismo com a cultura vacinal dos brasileiros. “Volto a dizer que esses dados [da pesquisa do Instituto Opinião] são animadores. Apesar das fake news, o brasileiro ainda permanece reconhecendo a importância da vacinação.” O levantamento do Instituto Opinião foi realizado por telefone com 2 mil pessoas com idade acima de 16 anos, entre os dias 16 e 19 de agosto. A margem de erro da pesquisa é de 2% para mais ou para menos e o levantamento tem 95% de confiabilidade para o resultado geral.
As vacinas são vitais na prevenção de doenças e mortes, fortalecendo o sistema imunológico e combatendo vírus e bactérias. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece cerca de 20 imunizantes gratuitamente à população, seguindo as recomendações da OMS. A partir de 2024, a Fiocruz também produzirá a vacina hexavalente, que combina seis vacinas individuais para proteção contra várias doenças: difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenzae B, poliomielite e Hepatite B.
Apesar do apoio da população à vacinação, é essencial superar os desafios da desinformação e da falta de confiança nas instituições de saúde. Em 2022, a cobertura vacinal no país alcançou apenas 67,94%, o que reforça a necessidade de ações eficazes para reverter essa tendência preocupante. A conscientização pública, esforços educacionais e ações governamentais coordenadas são cruciais para reconstruir a confiança nas vacinas e para garantir que as taxas de cobertura vacinal aumentem para níveis que protejam efetivamente a população contra doenças evitáveis.
Seguindo recomendação do Ministério da Saúde, a Fiocruz e suas unidades espalhadas por diversas regiões do país têm focado seus esforços no trabalho de sensibilização à população sobre a importância de manter a vacinação em dia. O Instituto Carlos Chagas (ICC) – Fiocruz Paraná, por exemplo, está iniciando um projeto de divulgação científica junto a cooperativas de trabalhadores que visa estimular a vacinação, apoiado pelo Ministério Público do Trabalho. Outras ações do instituto buscam a sensibilização de educadores e profissionais de saúde no Paraná, Santa Catarina e no Amapá, a convite do PRCV. O instituto também oferece capacitação aos profissionais envolvidos no setor de comunicação das secretarias de saúde para o desenvolvimento de campanhas de incentivo à vacinação e outras estratégias comunicacionais visando o aumento da cobertura vacinal.