Lideranças empresariais são uma das principais barreiras ao desenvolvimento da segurança psicológica nas empresas. É o que revela a primeira pesquisa brasileira sobre o tema, conduzida no ano passado pelo Instituto Internacional em Segurança Psicológica (IISP). Segundo o estudo, uma certa desconfiança dos líderes aparece como empecilho à adoção da segurança psicológica em quase 9% das respostas da amostra total: 360 executivos sêniores e profissionais de RH do Brasil inteiro. “Este é um dado relevante, na medida em que sabemos que a segurança psicológica não vai para frente sem que o líder abrace a ideia e esteja aberto a aprender e a se transformar”, diz Veruska S.Galvão, psicóloga organizacional, mentora executiva e cofundadora do IISP, único autorizado no Brasil e em todos os demais países de língua portuguesa a aplicar o método de certificação internacional em Segurança Psicológica de times.
A segurança psicológica é um conceito da década de 90, criado a partir dos estudos da Dra Amy Edmonson, professora da Harvard Business School, nos EUA, sobre a causa de erros médicos em clínicas e hospitais. Ao se debruçar sobre a gestão de pessoas neste ambiente, onde errar pode ser fatal, Amy definiu o conceito da segurança psicológica como a crença compartilhada pelos membros de uma equipe de que aquele time configura um lugar seguro para se tomar riscos interpessoais. Ou seja, um ambiente psicologicamente seguro é aquele onde as pessoas se sentem à vontade para comunicar ideias, erros, desconfortos, sentimentos, expectativas, desconhecimentos, sempre que necessário for e sem o receio de serem julgadas ou sofrerem humilhação ou represálias por isso. “Acontece que, segundo os estudos, e também de acordo com a prática do IISP na capacitação de profissionais e implementação da segurança psicológica em empresas de todo o país, isso só se dá quando há a atuação e envolvimento direto do líder a quem chamamos de socialmente inteligente”, explica Patricia Ansarah, também psicóloga organizacional, mentora executiva e cofundadora do Instituto.
E quem é esta liderança? Para o IISP, o líder socialmente inteligente, capaz de fomentar ambientes seguros, é o profissional que trabalha para estabelecer relações saudáveis com seus liderados e para criar conexões entre as pessoas. “Isso envolve habilidades como não ter medo de se mostrar vulnerável, saber ler cenários e expressões, isto é, perceber para além das palavras; incentivar o diálogo, não apenas em momentos de feedback, mas praticando a escuta e checando se compreendeu mesmo o que foi falado; saber estimular conflitos produtivos, utilizar outras inteligências e expressar compaixão”, diz Veruska.
Para ela, qualquer líder pode desenvolver essas habilidades, com exceção de um: aquele que acha que já sabe tudo. “Pois, como Amy Edmondson afirma em suas pesquisas, o maior desafio do ser humano é aprender quando acha que já sabe.”