No documento do Papa Francisco, Fratelli Tutti, apresenta o seu projeto de fraternidade baseado na amizade social e no amor político, tendo o diálogo como caminho necessário para a cultura do encontro.
Nº 16. Mas o que é amizade social? Deixemos que o próprio Papa Francisco nos responda: amizade social é “amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço” (FT, n.1); amizade social é “uma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, independentemente da sua proximidade física” (FT. n.1); amizade social é um amor “desejoso de abraçar a todos” (FT. n.3); amizade social é “Comunicar com a vida o amor de Deus, recusando impor doutrinas por meio de uma guerra dialética” (cf. FT. n.4); amizade social é viver livre “de todo desejo de domínio sobre os outros” (FT, n.4); amizade social é “o amor que se estende para além das fronteiras” (FT,n.99); “para todo ser vivo” (FT.n.59); amizade social é “amor que rompe as cadeias que nos isolam e separam, lançando pontes; o amor que nos permite construir uma grande família na qual todos nós podemos nos sentir em casa (…). Amor que sabe de compaixão e dignidade” (FT, n.62), amizade social é a nossa “vocação para formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros” (FT, n.96); amizade social é “a capacidade diária de alargar o meu círculo chegar àqueles que espontaneamente não sinto como parte do meu mundo de interesses, embora se encontrem perto de mim” (FT, n.97); amizade social é “o amor (que) implica algo mais do que uma série de ações benéficas. As ações derivam de uma união que propende cada vez mais para o outro, considerando-o precioso, digno, aprazível e bom, independentemente das aparências físicas ou morais. O amor ao outro por ser quem é impele-nos a procurar o melhor para a sua vida. Só cultivando essa forma de nos relacionarmos é que tornaremos possível aquela amizade social que não exclui ninguém e a fraternidade aberta a todos” (FT, n.94).
Nº17: Como vimos a amizade social é o amor presente nas relações sociais; é o amor como base da relação entre as pessoas e os povos; é o amor feito cultura. E “o amor coloca-nos em tensão para a comunhão universal. Ninguém amadurece nem alcança a plenitude isolando-se. Por sua própria dinâmica, o amor exige uma progressiva abertura, uma maior capacidade de acolher os outros, em uma aventura sem fim, que faz convergir todas as periferias rumo a um sentido pleno de mútua pertença. Disse-nos Jesus: “Todos vós sois irmãos” (Mt 23,8) (FT,n.95).
Nº18: Conjugando os conceitos de amizade e sociedade, retomando a amizade social aristotélico-tomista, o Papa Francisco quer não apenas apontar a valorização da vida em todas as suas etapas e condições (cf. GEE, n.101) como fundamental para qualquer desenvolvimento social possível, mas também acentuar que a verdadeira valorização da vida se dá quando esta não é compreendida à parte da sociedade (cf. FT, n.111). Tal separação, tão comum ao modelo socioeconômico neoliberal, gera a categoria dos supérfluos, base para que o Papa chama de “Cultura do descarte” (cf. FT, n.18-19). Migrantes, pobres, velhos, pessoas com deficiência, nascituros, desempregados são suas primeiras vítimas. A amizade social é uma convocação a valorizar o direito a vida, o direito ao seu desenvolvimento integral, sobrepondo-se ao individualismo utilitarista, que fecha as pessoas à transcendência de si mesmas, que surge na interação social. A amizade social é, para Francisco, o antídoto contra um ser humano fechado em si mesmo e, consequentemente, contra um mundo fechado aos vulneráveis e “improdutivos”. Para tanto, é absolutamente necessário que o valor recaia na pessoa humana, com a qual se relaciona socialmente, e não no produto dessa relação.
Nº 21: “O amor social se traduz em atos de caridade que criam instituições mais sadias e estruturas mais solidárias. Estruturar a sociedade, por exemplo, ‘de modo que o próximo não venha a se encontrar na miséria’ é um ato de caridade que, segundo o Papa, tem a conotação de “amor político”. A política é o mais alto grau de caridade, afinal dar de comer a um desempregado é expressão de amor, mas assegurar o direito de trabalho a muitos, pela ação política, é expressão intensa de amor, porque os emancipa e os dignifica. Embora a caridade política englobe a todos, ‘o núcleo do autêntico espírito da política’ é o ‘amor preferencial pelos últimos’. Por isso, o Papa Francisco propõe à humanidade, particularmente às lideranças religiosas e políticas, a construção da cultura do diálogo, da reconciliação e da paz, atuando juntos em favor do bem comum e a promoção dos mais pobres. Assim se expressa o Papa, demonstrando a necessidade de toda a humanidade abraçar a causa da fraternidade universal para superar seus perpétuos conflitos culturais, econômicos e políticos, que se manifestam até na forma de ‘guerras fratricidas”