Filme de Walter Salles concorre em três categorias importantes, incluindo Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz para Fernanda Torres
Cibele Chacon
Da redação
O Brasil pode finalmente conquistar sua primeira estatueta do Oscar neste domingo (2), quando acontece a cerimônia mais prestigiada do cinema mundial. Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, chega à premiação concorrendo em três categorias de peso: Melhor Filme Internacional, Melhor Atriz para Fernanda Torres e, surpreendentemente, Melhor Filme – a principal categoria da premiação. Com isso, o longa entra para um seleto grupo de produções de língua não inglesa que conseguiram romper a barreira da categoria internacional e disputar o prêmio máximo da noite.
A maior aposta brasileira está na categoria de Melhor Filme Internacional, onde Ainda Estou Aqui viu suas chances aumentarem após polêmicas envolvendo Emilia Pérez, produção francesa que antes era considerada a favorita. O filme estrelado por Karla Sofía Gascón gerou polêmica por conta de tweets preconceituosos publicados pela atriz em anos anteriores e controvérsias pela forma como o filme representa a cultura mexicana. Com a repercussão negativa, a disputa ficou mais aberta, beneficiando a produção brasileira, que teve recepção calorosa em festivais como Cannes e vem ganhando ainda mais força após estreia oficial em salas de cinema dos Estados Unidos e Europa.
A indicação na categoria principal, Melhor Filme, é um feito inédito para o Brasil e representa o reconhecimento definitivo da Academia ao cinema nacional. Mas a vitória é improvável. Tradicionalmente, essa categoria é dominada por produções de Hollywood, e poucas obras estrangeiras conseguiram quebrar essa barreira. O exemplo mais marcante é o de Parasita (2019), que surpreendeu ao vencer tanto Melhor Filme Internacional quanto Melhor Filme. Para repetir esse feito, Ainda Estou Aqui teria que superar gigantes como Conclave, Anora e O Brutalista.
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A indicação de Fernanda Torres como Melhor Atriz também marca um momento especial para o Brasil, trazendo de volta uma lembrança amarga: em 1999, sua mãe, Fernanda Montenegro, foi indicada por Central do Brasil, mas perdeu para Gwyneth Paltrow (Shakespeare Apaixonado), em um resultado contestado até hoje. A derrota de Montenegro é considerada uma das maiores injustiças do Oscar, já que sua atuação era considerada a melhor da categoria. Agora, 26 anos depois, Fernanda Torres pode fazer história ao conquistar o prêmio que escapou de sua mãe.
Apesar da força de sua interpretação, Torres enfrenta uma competição dura contra nomes como Demi Moore (A Substância) e Mikey Madison (Anora), que ganharam o Screen Actors Guild (SAG) e o BAFTA, respectivamente. Mas a crítica norte-americana especializada em cinema não descarta a vitória brasileira, pelo contrário, muitos críticos apostam em Fernanda Torres, que vem conquistando fãs por onde passa e cativando o público a cada entrevista internacional – ainda mais após a vitória como Melhor Atriz de Drama no Globo de Ouro deste ano.
Ao longo dos anos, o Brasil acumulou algumas nomeações ao Oscar, mas sem levar a estatueta para casa. Além de Central do Brasil, que perdeu Melhor Filme Internacional para A Vida É Bela (Itália), o país também teve Orfeu Negro (1960), O Pagador de Promessas (1963), O Quatrilho (1996) e Cidade de Deus (2004) entre os indicados. Este último, aliás, foi um caso raro: ignorado na categoria internacional, acabou sendo indicado em quatro categorias principais, incluindo Melhor Direção para Fernando Meirelles. Mesmo assim, o Brasil seguiu sem a vitória.
O país já foi indicado também em categorias como Filme de Animação com O Menino e Mundo (2016) e Documentário com Democracia em Vertigem (2020). Mas agora, com Oscar 2025, as chances nunca foram tão reais, por isso, a expectativa é grande. Caso a vitória venha, será um feito não apenas para Ainda Estou Aqui, mas para toda a produção cinematográfica nacional, que há décadas busca seu espaço definitivo na elite do cinema mundial.