Renato Benvindo Frata é advogado, professor e contabilista. Presidente de Honra da Academia de Letras e Artes de Paranavaí – Alap
Que paixão ou tara leva alguém, às escondidas, a colocar pixo agressivo ou reivindicatório em propriedades de terceiros? O que haverá no íntimo do indivíduo que se esconde por detrás de cada pichação que esparrama pela cidade? Difícil explicar as profundezas escuras da alma.
Talvez aja por necessidade de reconhecimento, de deixar um legado,promover denúncia social ou, simplesmente, praticar transgressão associadas a uma urgência, adrenalina e marginalidade. O fato é que a pichação enfeia não só o local, mas as adjacências e o dia de quem a lê; e a isso, nem o Freud explica.
Embora essa mania de rabiscar venha de tempos imemoriais, como os pictogramas rupestres, as paredes de banheiros e muros remonta à antiguidade, como em Pompeia (destruída em 79 d.C., pelo Vesúvio), as latrinas de Roma, os conventos na Idade Média etc., com xingamentos à propaganda política e poesias, prova que bens de terceiros inspiram manifestações sorrateiras.
De amor e ódio. Xingamento. Lirismo. Besteiras. É um caderno aberto que os olhos do passante se obrigam enxergar. E enxergam, para se porem a mastigar insatisfações.
Embora o objetivo do pichador possa ser o de extravasar desejos amargos ou febris, contidos por razões outras, sua manifestação, além do prejuízo material ao objeto, produz também danos morais e pode provocar processo judicial por dano ao ambiente.
Por que cito isso? Noutro dia, uma parede de minha cidade amanheceu pichada por um gaiato madrugador, que dizia: “Até o Papa peida”.
Espantado com a audácia e ausência de postura desse “filósofo-artista” rueiro, mas, com sorriso enviesado pela gaiatice da vadiagem, uma indagação se instalou: o que o teria levado a se imiscuir pelo pincel, a confirmação dos movimentos intestinais do Sumo Pontífice? Sugeriria, por acaso, que a santidade atribuída ao cargo eliminaria as necessidades fisiológicas do homem que o ocupa? Não obtive resposta. Não há explicação para pichações sem fundamento.
O tempo passou e agora, em visita à capital espiritual do mundo, vi que a Roma de belas construções, monumentos ilustres e igrejas espetaculares que fazem de sua história o renascer milenar dos feitos, está tomada por multidões que, se bem observarem, verão nas suas paredes e até em estátuas, inscrições desagradáveis. Roma está pichada, o que é um grande pecado.
Ao presente e ao passado! Mas o pior não é isso.
Em meio a rabiscos sobrepostos, em um lugar de rua movimentada, uma inscrição chama a atenção. Diz ela: “Anche il Papa scoreggia”.
Teria o pichador de cá, passado por lá?






























