O Atlas Mundial da Obesidade de 2023, divulgado nesta semana, pela Federação Internacional de Obesidade, aponta que mais de 50% da população mundial estará com sobrepeso ou obesidade em 2035. O número é preocupante e pode gerar um impacto econômico de US$4,32 trilhões ao ano se não houver mudanças significativas na prevenção e no tratamento.
No Brasil, a estimativa é que até 41% dos adultos estejam com obesidade no mesmo período. Esse aumento pode gerar um impacto econômico de mais de 75 milhões de dólares ao país, sendo 19 milhões de dólares apenas com assistência médica em saúde, na próxima década. A estimativa leva em conta não só o excesso de peso, mas o custo de consequências como a hipertensão, diabetes e outras comorbidades.
Para o presidente do Capítulo do Paraná da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Dr. José Alfredo Sadowski, é fundamental que as pessoas entendam que a obesidade é uma doença crônica multifatorial e que traz consequências e, como tal, precisa ser tratada com cuidado e acompanhamento multidisciplinar.
“A cirurgia bariátrica pode ser uma opção para quem não consegue emagrecer com dietas e exercícios, mas é importante lembrar que ela não é uma solução mágica. O paciente precisa continuar com acompanhamento nutricional, psicológico e médico para manter o peso e evitar complicações”, afirma.
A hepatologista Dra. Cláudia Ivantes, que atua no CIGHEP, explica que a gordura no fígado causada pela obesidade é a principal causa de cirrose e outras lesões no órgão. Estima-se que 25% da população adulta com excesso de peso apresente algum nível da doença, que se agrava conforme o Índice de Massa Corporal (IMC) aumenta.
“Observamos ainda depois de cinco anos de cirurgia bariátrica uma resolução e regressão da fibrose que é um componente de prognóstico importante da esteatohepatite não alcoólica. Pacientes com esteatohepatite não tratada podem evoluir para cirrose hepática e câncer de fígado, o hepatocarcinoma. Então a cirurgia bariátrica também traz grandes benefícios do ponto de vista da saúde do fígado”, explica a hepatologista.
O médico endocrinologista e presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Dr. André Vianna, também reforça a relação da obesidade com o diabetes tipo 2.
“Entre todos os casos de diabetes no mundo, 90% são do tipo 2, o qual pode surgir como consequência do acúmulo de gordura abdominal. O tratamento da obesidade é tão importante para o controle do diabetes, que hoje a perda de peso é a primeira recomendação no tratamento do diabetes descontrolado”, diz. Ele ainda alerta que a obesidade está relacionada a outras doenças, como hipertensão e dislipidemia.
Critérios para indicação da cirurgia bariátrica – No Brasil, a cirurgia bariátrica pode ser indicada quando os pacientes atendem a critérios de peso, idade e/ou doenças associadas. Estão aptos os pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 40 kg/m², independentemente da presença de comorbidades; IMC entre 35 e 40 kg/m² na presença de comorbidades como pressão alta, diabetes tipo 2, dislipidemia grave, apneia do sono, problemas articulares ou hérnia de disco por exemplo.
A idade também é fator a ser analisado. Pacientes entre 18 e 65 anos não têm restrição. Acima de 65 anos, o paciente pode ser operado, porém deve passar por uma avaliação individual. Em pacientes entre 16 e o 18 anos, o Consenso Bariátrico recomenda que a operação deve ser consentida pela família ou responsável legal e estes devem acompanhar o paciente no período de recuperação. Em menores de 16 anos apenas em situações bastante específicas.
“O principal objetivo da cirurgia bariátrica, além de promover a perda de peso, é combater e controlar as doenças associadas e promover qualidade de vida aos pacientes. Além da saúde física, a cirurgia apresenta bons resultados também na saúde mental. Pessoas com obesidade enfrentam graves problemas sociais, dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, e outros diversos tipos de estigmas devido ao preconceito pelo excesso de peso”, explica o cirurgião, Dr. José Alfredo Sadowski.