NICOLA PAMPLONA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Após a redução de preços anunciada nesta terça (17), o litro do diesel nas refinarias da Petrobras está R$ 0,14 mais barato do que a paridade de importação, conceito que simula quanto custaria para importar o produto.
A estatal anunciou que deixará de seguir o indicador em sua nova política de preços, que passará a olhar mais para o mercado local, considerando a competição pelos clientes e o custo de oportunidade de venda dos produtos.
A intensidade da redução anunciada pela companhia, de R$ 0,44 por litro, já reflete a nova política, questionada por concorrentes diante da ausência de referência que permita projetar o comportamento futuro dos preços no país.
Na média nacional, segundo a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), a defasagem no preço do diesel é de R$ 0,12 por litro.
A entidade avalia que a elevada diferença entre o preço interno e a paridade de importação fechou uma janela de oportunidade para importações privadas do combustível.
No caso da gasolina, embora o corte tenha sido de R$ 0,40 por litro, o preço nas refinarias da Petrobras está praticamente alinhado ao mercado internacional, situando-se apenas R$ 0,02 por litro abaixo da paridade de importação. Na média nacional, a diferença é de R$ 0,01 por litro.
O conceito de paridade de importação foi inserido na estratégia comercial da Petrobras durante o governo Michel Temer (MDB), com o objetivo de criar uma referência para os preços dos combustíveis no país.
Por um lado, tentava blindar a estatal de interferências políticas, como a que gerou prejuízos bilionários após o longo período de represamento de preços no fim do primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Por outro, tinha também como objetivo fomentar a abertura do mercado brasileiro de combustíveis, incentivando importações privadas e a chegada de novos agentes ao setor para, posteriormente, reduzir a participação da Petrobras no setor de refino.
Conhecido como PPI, o preço de paridade de importação passou a ser alvo de críticas com a escalada dos valores cobrados pelos combustíveis, que culminou com a greve dos caminhoneiros que paralisou o país por duas semanas em 2018.
Em 2022, com os preços internos atingindo recordes após o início da guerra na Ucrânia, voltou à mira tanto da oposição quanto do governo.
O fim do PPI era promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sob o argumento de que o Brasil é autossuficiente em petróleo e, por isso, não precisa cobrar preços internacionais sobre os combustíveis.
Para o setor, porém, a falta de uma referência de preços pode gerar impactos negativos na concorrência, reduzindo importações e beneficiando as maiores distribuidoras, e permitir novas ingerências políticas na gestão da estatal.