DA FOLHAPRESS
Com uso em profusão da palavra “ética” e sem citar Carlo Ancelotti, o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ednaldo Rodrigues, apresentou de forma oficial Fernando Diniz como técnico da seleção. O treinador concedeu entrevista nesta quarta-feira (5) na sede da entidade, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Rodrigues fez apenas um pronunciamento em que enfatizou como a escolha de Diniz, também contratado do Fluminense, foi guiada pela ética. Ele não respondeu a perguntas.
A única informação concreta que é o treinador assinou contrato por um ano. Não foi anunciado se o substituto será o italiano Carlo Ancelotti, com quem a CBF tem um acordo verbal, quem vai comandar a seleção na Copa América de 2024, nos Estados Unidos e quais os planos para a equipe olímpica, que em janeiro vai disputar a classificação para os Jogos de Paris.
“Meu contrato é de 12 meses. Não se decidiu ainda se engloba Copa América. Eu sei do planejamento da CBF e não estou aqui para falar o que vai acontecer depois de mim”, afirma Diniz, desvencilhando-se das questões sobre Ancelotti, que tem acordo com o Real Madrid-ESP até o final da próxima temporada europeia.
Em entrevista que foi pautada pelos possíveis conflitos de interesse, já que vai continuar também como técnico do Fluminense, ele prometeu manter na seleção o mesmo estilo de jogo propositivo e de toque de bola que o fez chegar até ali.
Embora reconheça que a questão ética pode ser subjetiva e que vai se preocupar em primeiro lugar com a seleção, ele disse que vai olhar o cenário geral do futebol antes de montar as convocações.
“Vou reproduzir o que me trouxe aqui. Vou ter a melhor matéria-prima do mundo para executar da melhor maneira as ideias que tenho”, garante. “A ética vai pautar minhas decisões. Eu tenho de deliberar sobre o que eu posso deliberar. Estou bem tranquilo e nesse ponto a CBF apontou para a pessoa certa.”
“Meu critério subjetivo vai se basear na minha ética. Tem de ver o que é melhor para a CBF e ver o cenário todo. Sempre tem alguém questionando uma ou outra coisa. As pessoas presumem que vai ter conflito de interesse pensando que eu não tenho ética. Minha carreira é muito mais recheada de críticas do que elogios, pela minha maneira de ver o futebol e a vida.”
Isso significa a chegada à seleção do que ficou conhecido como “dinizismo”.
É a sua maneira de ver o futebol e o seu trabalho, o que ele reconhece transformar em personagem singular.
“Eu aceito a minha singularidade e não teria como fazer diferente. Faço exatamente aquilo que sinto, mas para mim é uma coisa comum. Procurar melhorar, enxergar o time. Pode ser uma coisa diferente aos olhos dos outros, mas procuro fazer simplesmente aquilo que acredito”, disse para a FluTV.
O dinizismo ficou mais conhecido pela resistência em sair da defesa com lançamentos longos. A ordem é troca de passes curtos, sem importar a circunstância da partida. Mas não é apenas isso. É a pressão constante, tentar se impor, a velocidade nos passes e movimentação. A crença no futebol ofensivo. São características que o fizeram ser louvado e criticado na mesma intensidade.
Elogiado pela filosofia, já foi ironizado pela falta de resultados. No Brasileiro de 2020, o São Paulo tinha sete pontos na liderança durante o segundo turno e a desperdiçou. Em clubes como Vasco, Santos e na sua primeira passagem pelo Fluminense (em 2019), acabou alvo de reclamações pela intransigência de ideias. Por não ter um plano B quando algo vai mal.
Embora tenha se recusado a falar sobre o Ancelotti, o novo técnico da seleção descartou buscar conselhos do italiano sobre esquemas de jogo e convocações. Disse ter autonomia total da CBF para isso.
A princípio, ele vai dirigir a equipe em seis partidas das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026. E deixou claro o quanto Neymar faz parte dos seus planos.
“Neymar é quase uma aberração. É um super-talento que demora muito tempo para aparecer outro. A gente tem de aproveitar ao máximo um talento como esse”, analisou.
O atacante deixou no ar a possibilidade de não disputar o próximo Mundial, quando terá 34 anos.
Com poucos títulos de expressão no currículo, mas campeão carioca deste ano com o Fluminense, Diniz pediu que se valorize mais o trabalho do que o resultado. Para ele, é infantil buscar heróis e vilões o tempo todo.
Em 14 anos como treinador, ele ganhou também a Copa Paulista e a Série A3 de 2009 (pelo Votoraty) e a mesma Copa Paulista de 2010 (Paulista de Jundiaí). Desde 2018 tem feito trabalhos em clubes da elite do país, como Athletico, São Paulo, Santos e Vasco, além do Fluminense.
“A gente fica demonizando todo mundo que perde, parece que é um desejo infantil de buscar heróis e vilões o tempo todo. A gente tem de valorizar quem faz as coisas direito, quem tem coragem de fazer as coisas. A vida nunca vai te dar certeza de ganhar. O trabalho do treinador é sempre aumentar a chance do seu time vencer. Mas a incerteza sempre vai fazer parte do jogo.”
O próprio técnico já brincou, nas poucas entrevistas que costuma dar, ter uma dupla personalidade. O Fernando Diniz à beira do campo é diferente do dia a dia. Quando se destacou como técnico, na campanha do Audax vice paulista de 2016, chegou a proibir a entrada de jornalistas nos treinos. Não por desejar esconder escalação ou opções táticas. Mas para a imprensa não ouvir os palavrões que gritava para os atletas.