*Alejandro Wagner
O aço é um elemento essencial para o desenvolvimento econômico da América Latina. E, vem ganhando um protagonismo ainda mais importante dia após dia, uma vez que o mundo inteiro precisará de mais material – de melhor qualidade e mais sustentável. Por ser uma substância presente no início da cadeia produtiva de uma série de setores, a evolução do setor do aço tem um impacto positivo fortíssimo em toda a economia.
Não é nenhum exagero dizer que o aumento do consumo per capita de aço gera empregos, melhora a qualidade de vida da população e traz inovação. Considere, por exemplo, o setor de construção: a América Latina tem um déficit habitacional imenso – somente o Brasil tem há décadas um déficit de cerca de 8 milhões de residências – que só pode ser diminuído com o uso de técnicas construtivas mais baratas, rápidas e sustentáveis. A construção de casas e edifícios com base em aço, e não em alvenaria, traz vantagens nesses três pontos.
E há muito mais oportunidades: eletrodomésticos de linha branca, automóveis e equipamentos agrícolas são outras áreas em que o aço é um componente muito importante. O agronegócio representa, diretamente, entre 5% e 20% do Produto Interno Bruto de 20 países da América Latina – mas seu impacto vai muito além da colheita de alimentos. Todo um ecossistema fornece insumos, equipamentos e matérias-primas para o agro – incluindo o aço usado em tratores, colheitadeiras, silos, armazéns e até mesmo pregos e parafusos.
Sustentabilidade forte como aço
Uma das grandes tendências globais atende pela sigla ESG. Produtos, serviços e uma sociedade mais sustentável são um imperativo – ou a humanidade reduz seu impacto ambiental, ou os resultados serão trágicos. E, nesse sentido, o aço ocupa um lugar essencial, especialmente na América Latina.
O aço produzido na região é cerca de 30% mais sustentável do que o que é fabricado na China, uma vez que o uso de fontes de energia renováveis é muito mais intenso na América Latina. A abundante disponibilidade de recursos naturais, as condições para o desenvolvimento e a implementação de projetos de energia renovável e biomassa são diferenciais competitivos importantes – que dificilmente podem ser replicados.
O Brasil, especialmente, se destaca com uma capacidade instalada de produção de 160 gigawatts de energia renovável em 2021, o equivalente a 55% do total da região. Essa capacidade instalada depende do uso de aço nas pás e postes das usinas eólicas, nas turbinas das hidrelétricas, nas torres de transmissão de energia e em toda a infraestrutura que vai até as fábricas, comércios e residências.
Há uma vantagem imbatível: o aço é 100% reciclável, podendo ser infinitamente reutilizado. Por isso, de todos os elementos e substâncias necessários para que tenhamos uma pegada de carbono menor, o aço ocupa uma posição de destaque e é essencial na transição para uma economia circular.
Por isso, a indústria do aço na América Latina tem um compromisso declarado com a sustentabilidade e com a necessidade de redução das emissões de gases de efeito estufa. Entendemos que alcançar os objetivos definidos pelo Acordo de Paris é imperioso, embora também seja complexo e desafiador. Temos grandes desafios, pois trata-se de um setor com consumo intensivo de energia e que depende de soluções baseadas na disponibilidade de recursos naturais e na disposição de países e economias de realizar a transição para uma economia de baixo carbono.
No nosso caso, a velocidade de descarbonização da cadeia produtiva e de distribuição depende, acima de tudo, do preço e da disponibilidade de sucata, gás natural e energias renováveis. Por isso, acredito que a transição tenha de ser abordada a partir de responsabilidades comuns a todas as empresas e países, mas levando em conta a realidade econômica e social de cada região.
Temos certeza de que, com diálogo e colaboração entre empresas e governos, até 2030 a indústria do aço mudará muito e se tornará ainda mais sustentável. Essa é uma transição que exige investimento intensivo de capital em tecnologia, infraestrutura e P&D. Ao menos por enquanto, é o setor privado que tem liderado esse movimento na América Latina – mas a transição necessária será inviável sem apoio por parte dos governos.
O maior gap, hoje, está entre o que a indústria já sabe que pode fazer e o que atualmente é viável economicamente. As mudanças necessárias para alcançarmos os compromissos definidos até 2050 são imensas – e dependem de soluções que ainda não foram encontradas. Por isso, o setor privado está olhando para o futuro e buscando essas soluções, inovando constantemente ao mesmo tempo em que atua para reduzir custos, aumentar produtividade e reduzir seu impacto ambiental.
O que fazer rumo a um futuro mais sustentável?
No curto prazo, os passos rumo a um futuro mais sustentável e que garanta desenvolvimento econômico em todo o mundo são claros: aumentar o uso de energias renováveis; ampliar o uso de gás natural, bem menos poluente que o carvão vegetal, que domina a matriz energética chinesa e europeia, e otimizar o uso de sucata, reciclando todo o aço possível para fazê-lo circular.
A criação de processos cada vez mais eficientes nessas três áreas irá melhorar o uso dos recursos energéticos, permitindo que o setor avance para incorporar tecnologias que hoje não têm aplicação comercial em grande escala, como o hidrogênio verde e a captura de carbono. É preciso encarar a questão climática de forma ampla, adotando novas fontes de energia e processos para reduzir a geração de gás carbônico e capturando o que ainda for produzido.
Existe um grande potencial em tudo isso – mas essa é uma estrada longa. Acredito que a sustentabilidade é essencial ao desenvolvimento econômico, uma vez que somente a partir de uma abordagem neste sentido é que a América Latina e o mundo poderão construí-lo de maneira sólida e duradoura.
*Alejandro Wagner é diretor executivo da Alacero, Associação Latinoamericana de Aço