A Presença de Deus
Qualquer um familiarizado com este exercício sabe que ele não tem nada com o “dizer muitas palavras” gastar muitas horas na igreja. Ao contrário, ele é um exercício que convida-nos primeiro a nos darmos conta que não há tempo, nenhum lugar, nenhuma circunstância na qual não possamos estar atentos a Deus. E se nós aprendermos a estar atentos a ele como a um amoroso e misericordioso Pai, então nós podemos aprender a conversar com ele de um jeito amoroso e amigável. Mas nós podemos estar atentos a Deus constantemente? Vozes de experiência nos dizem que nós podemos. Uma tal voz é Santa Teresinha como uma de suas irmãs, Maria do Sagrado Coração testemunhou.
Irmã Teresa amou Deus ardentemente e nunca cessou de pensar nele. Um dia eu perguntei a ela: “O que você faz em vista de pensar em Deus sempre?”
“Não é difícil,” ela respondeu; “nós naturalmente pensamos em alguém que nós amamos.”
“Você nunca perde sua presença, então?” Eu perguntei. “Oh, não; eu duvido se fiquei três minutos sem pensar nele” 1.
Interessante também é o testemunho de São Paulo da Cruz, fundador dos Passionistas. Um dia ele disse ao seu diretor, “se qualquer um me perguntasse a qualquer tempo em que eu estava pensando, parece-me que eu poderia responder que eu estava pensando em Deus… Parece-me impossível não pensar em Deus, desde que nosso espírito é totalmente preenchido por Deus e nós estamos inteiramente Nele.” 2
Os santos podem não ter tido grande dificuldade em pensar em Deus constantemente, mas esta não é a nossa experiência. Nós sabemos como nossas mentes vagueiam em tão absurdas fantasias, mas nós também sabemos que quando o nosso amor por alguém é verdadeiramente profundo então nossos pensamentos facilmente gravitam em direção da pessoa amada. A mãe, por exemplo, não tem problema para pensar no filho seriamente enfermo. Nossa tarefa então é crescer no amor a Deus, e nós acreditamos que o exercício da presença de Deus pode nos ajudar, porque seu propósito é focar nossa atenção no Senhor, assim que nós chegamos a conhecê-lo melhor e gradualmente saborear e ver sua bondade. Daí nos recomendamos a todos, e especialmente aos Carmelitas este exercício. Mais especificamente nós sugerimos os dois modos a seguir para praticá-lo: primeiro, ser atentos a Deus, nosso Pai; segundo, fixar nossos olhos em Jesus, nosso Senhor e Salvador.
A Presença de Deus
- O primeiro modo
Deus vive e está presente em todas as coisa. Ele vê e sabe todas as coisas; nada escapa ao seu olhar. Assim, nós deveríamos caminhar na sua presença como foi dito a Abraão: “Caminhe na minha presença e seja íntegro” (Gen 17,1). Elias seguiu este modelo: Vivo é Deus, a quem eu sirvo” (1Rs 17,1). O Salmista, cheio dos mesmos sentimentos, exclama/ prorrompe em canção: “Ó Senhor, você provou-me e me conhece, você sabe quando eu me sento e quando eu me levanto; você de longe compreende meus pensamentos… Onde eu posso me esconder do seu espírito? Da sua presença onde posso eu fugir? Se eu subo até os céus, você está lá; se eu me mergulho nos abismos da terra, você está presente lá. Se eu tomo as asas da aurora, se eu me coloco nos mais longínquos limites do oceano, mesmo lá sua mão me guiará, e sua mão direita logo me sustenta” (Sl 139, 12;7-10).
Nada, absolutamente nada escapa da atenção de Deus. Ele sabe cada um dos nossos nomes. “Nada lhe é oculto; toda mentira é descoberta e exposta aos olhos daquele a quem nós deveremos prestar contas” (Hb 4,13).
Mas este Deus todo-poderoso e todo-conhecente é misericordioso: “Porque eu o Senhor seu Deus, que tomo sua mão direita; sou eu que digo a você, ‘Não tema, eu ajudarei você’” (Is 41,13). Porque você é precioso aos meus olhos e glorioso, e porque eu amo você, eu dou homens em pôr você e povos em troca por sua vida. Não tema, porque eu estou com você” (Is 43, 4-5).
Este misericordioso amor de Deus é maior que o amor de uma mãe por seu filho. “Pode uma mãe se esquecer de sua criança, ser sem ternura pelo filho de seu ventre? Mesmo se ela se esquecesse, eu nunca me esqueceria de você. Veja, nas palmas das minhas mãos eu escrevi seu nome” (Is 49, 15-15).
Do visto acima nós podemos concluir que a escritura apresenta Deus como Vivente, ordenando todas as coisas, inteligentemente e sabiamente, amorosamente de fato. Mas a experiência humana também leva a isto. Por exemplo, os cientistas em seus estudos do homem e do universo desfrutam/apresentam eloquente testemunho da divina presença no universo. Einstein uma vez afirmou: “Eu acredito no Deus que se revela na ordenada harmonia do que existe”.
Kilian Healy O.Carm.
1 St Therese of lisieux by Those Who Knew Her, p 93 (Santa Teresa de Lisieux por Aqueles que a Conheceram)
2 Cf. Garrigou-Lagrange, O.P The Three Ages of Spiritual Life: Prelude of Eternal Life
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