Então é o fim do mundo? Lc 21,5-19
Salomão construiu o templo em Jerusalém, como “Casa de Deus”, Javé, lugar de encontro do povo de Israel com seu Deus, e proteção deste sobre o povo.
A primeira destruição, em 586/587 a.C. Por volta do 19º ano de Nabucodonosor em 587 a.C., Jerusalém foi destruída. Tanto as muralhas da cidade quanto o templo de Jerusalém (cuja construção era atribuída ao rei Salomão e que por isso era chamado de O Templo de Salomão) foram destruídos.
O Segundo Templo foi o templo que o povo judeu construiu após o regresso à Jerusalém, a vinda depois de anos no Cativeiro Babilónico, no mesmo local onde o Templo de Salomão existira antes de ser destruído. Foi reconstruído em 515.
Com a derrota da Grande Revolta Judaica contra o domínio romano, em 70, Jerusalém foi tomada pelas forças do comandante romano, Tito. Outra vez, as muralhas e o Templo de Jerusalém (que o rei Herodes, o Grande, ampliara e embelezara, tornando-o portentoso) foram destruídos, e o resto da cidade voltou a ficar em ruínas. A destruição de Jerusalém, também conhecida como Cerco de Jerusalém, ocorreu durante o governo do imperador romano Vespasiano. Portanto, no ano de 71 o templo foi destruído.
Lucas escreveu o seu evangelho por volta do ano 85, o templo já havia sido destruído pelos romanos. Aquele sistema opressor instalado no Templo e sustentado pelo Sinédrio que levou Jesus a morte e perseguiu os primeiros cristãos havia acabado. É próprio da linguagem apocalíptica tomar fatos passados e mostrá-los como ainda não acontecidos, com a finalidade de animar a resistência dos que são perseguidos diante de novos conflitos.
Os discípulos perguntam a Jesus qual será o sinal dos dias finais que hão de chegar. Isso porque Jesus se referiu a algumas coisas que para um judeu piedoso anunciavam o fim deste mundo passageiro e achegada do Reino eterno do Messias. Entre essas coisas finais – “o fim do tempo”, como se diz -, estava a destruição do templo. De fato, os apóstolos, ao chegarem a Jerusalém, juntamente com Jesus, admiravam essa bela construção que era o templo (Lc 21,5), mas Jesus anunciava que essa beleza era apenas passageira! Para essas pessoas simples, o fim do templo era o sinal do fim dos tempos, do fim do mundo. Mas o tempo passou, e o templo passou também, destruído pelo futuro imperador Tito, e o fim não aconteceu. (Lembrando que os fatos se deram por volta do ano 33). Mesmo assim, o que essas palavras de Jesus anunciam continua tendo sentido: apontam não tanto “o fim dos tempos”, mas o “o tempo do fim”, por isso são sempre validas, pois com a obra de Jesus já entramos no tempo do fim. Entre esses indícios do tempo do fim estão todas essas coisas que nos lembram da precariedade: as catástrofes, as guerras, as perseguições, as traições. De fato, na linguagem apocalíptica os abalos cósmicos (terremotos etc.) não são anúncio de catástrofes naturais. Pelo contrário, são indicações de que algo totalmente novo está sendo gestado na história, e esse novo não tardará em se manifestar. Em frente disso está a nossa fidelidade, que é chamada a ser para sempre: “É permanecendo firmes eu ganhareis a vida” (Lc 21,19).
Diante dos corrupção e impunidade, a impaciência dos que sofrem, de que Deus esteja sendo omisso ou conivente com a impunidade. Malaquias crê que a tolerância de Javé chegou ao fim. E por isso anuncia, na linha do profeta Amós, O DIA DE JAVÉ, dia em que a impunidade vai acabar e a justiça triunfará. Ele compara o Dia de Javé como um fogo devorado, diante do qual os arrogantes e malfeitores, serão como palha (Ml 3,19). Opõem os arrogantes e malfeitores aos que tem o nome de Javé. Para estes nascerá o sol da justiça, trazendo a saúde em seus raios(v.20). É a esperança de uma sociedade nova.
Escrevendo o evangelho, Lucas tem presente o que já aconteceu com as primeiras comunidades: os discípulos diante do Sinédrio, a morte de Estevão e Tiago, a resistência de Paulo etc. Esses acontecimentos, apesar de terem custado a vida de alguns, apontam para a nova sociedade que vai tomando corpo: “Assim vocês poderão reafirmar a sua fé” (v.13). A resistência dos cristãos há que ser inteligente e cheia de esperança, pois Jesus está com eles, dando-lhes linguagem à qual nenhum inimigo poderá rebater (v.14).
Os primeiros cristãos, diante dos ameaçadores sinais dos tempos, não cruzaram os braços, mas construíram as suas comunidades que, depois da desintegração do mundo de então, se tornaram semente de uma nova era, aqui na terra, além de abrirem as portas para a vida com Deus na eternidade.
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.