LUCAS BOMBANA
DA FOLHAPRESS
A cirurgia a que o atacante Neymar terá de se submeter para corrigir a ruptura do ligamento cruzado anterior e do menisco do joelho esquerdo costuma demorar entre uma e duas horas e não deve deixar marcas no corpo do jogador, de acordo com especialistas consultados pela Folha.
O procedimento cirúrgico é comum. Ele é conhecido como videoartroscopia e é considerado pouco invasivo, com alguns pequenos cortes para que o cirurgião acesse a região lesionada.
A lesão do menisco, que funciona como uma espécie de amortecedor dos impactos no joelho, é mais simples de ser resolvida e exige uma costura e a aplicação de pontos para religar as partes rompidas. No caso do ligamento cruzado anterior, que conecta os ossos da tíbia e do fêmur, o processo é mais trabalhoso, sendo necessária a retirada de um tendão de outra parte do corpo que servirá como um enxerto para reestabelecer a conexão.
Mais do que o procedimento em si, no entanto, a recuperação da confiança para voltar a fazer os mesmos movimentos de antes da lesão é apontado como o principal obstáculo para que ele retome aos gramados.
O astro da seleção brasileira se lesionou na terça-feira (17), durante confronto entre o Brasil e o Uruguai pelas eliminatórias para a Copa no estádio Centenário, em Montevidéu, que terminou com a vitória por 2 a 0 dos donos da casa.
O ortopedista Luciano Pacheco explica que a cirurgia a que o jogador deve se submeter, a videoartroscopia, é um procedimento minimamente invasivo. Nele, o cirurgião se vale de uma espécie de tubo, semelhante a um canudo, com uma microcâmera na ponta ligada a um monitor, por meio da qual é possível visualizar as articulações internas do paciente.
Identificada a lesão, o médico faz pequenas incisões na região do joelho para fazer as reparações necessárias. Pacheco afirma que usualmente se aplica uma anestesia raquidiana, que bloqueia a sensibilidade apenas em uma parte específica do corpo.
“Essa técnica da videoartroscopia tem a vantagem de acessar todo o interior da articulação sem precisar fazer um corte grande na pele para chegar na articulação. Com isso, a recuperação pós-operatória é muito melhor, com menos dor e menor risco de infecção”, explica Pacheco.
Ele acrescenta que a lesão do menisco e do ligamento cruzado anterior é feito na mesma cirurgia, mas que é preciso esperar cerca de uma semana para a realização do procedimento após a ocorrência da lesão, para que a região desinche.
Segundo o ortopedista, a lesão no menisco pode ser tratada por meio de uma sutura, uma espécie de costura com pontos que permite a sua cicatrização. O menisco é uma estrutura cartilaginosa em formato de meia-lua localizada entre a tíbia e o fêmur, cuja principal função é amortecer os impactos no joelho.
No caso do ligamento cruzado anterior, Sérgio Mainine, ortopedista do Hospital Ifor (Instituto de Fratura Ortopedia e Reabilitação), explica que não é possível fazer a sutura. O procedimento envolve a retirada de um tendão, que pode ser da região da coxa ou da patela, para reestabelecer a ligação entre as duas pontas rompidas por meio de um enxerto.
O ligamento, acrescenta Mainine, é fixado de modo a permitir uma reabilitação precoce, impedindo a atrofia muscular da região afetada. “É vantajoso começar a reabilitação precocemente, embora haja todo um protocolo para esperar a cicatrização, o que pode levar de seis a oito meses”.
Finalizada a recuperação clínica, o astro da seleção terá de enfrentar mais um desafio, que é readquirir a confiança em realizar os mesmos movimentos que fazia antes de se lesionar. “O problema realmente é o paciente adquirir a confiança para fazer todas as atividades que ele fazia antes, chutar, correr, driblar”, diz Pacheco.
O jogador do clube saudita Al Hilal tem sofrido com um longo histórico de lesões nos últimos anos. Considerando a sofrida na derrota para o Uruguai, ele já soma 17 problemas mais sérios que o tiraram de ação desde 2014.
Em entrevista à Folha antes da confirmação da lesão pela CBF, Júlio Cerca Serrão, coordenador do Laboratório de Biomecânica da Escola de Educação Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo), estimou que o prazo para a volta do jogador aos gramados seja de, pelo menos, seis meses.
O mais provável, no entanto, é que sejam necessários entre oito e 12 meses até que o atacante retorne ao campo, afirmou o especialista. A depender da velocidade da recuperação, poderá ser o mais longo período de inatividade do atleta. Até hoje, a lesão que o deixou mais tempo fora dos campos (seis meses) foi uma entorse no tornozelo direito, com lesão ligamentar, entre fevereiro e agosto deste ano.