Aleksa Marques / Da Redação
O Paraná é um dos estados que possui legislação que estabelece a obrigatoriedade do manejo das formigas cortadeiras podendo gerar multa ou, dependendo da gravidade, interdição da propriedade de acordo com a Lei Estadual n11.200/95 (Lei de Defesa Sanitária Vegetal).
O professor doutor em engenharia agronômica Júlio César Colella, explica que um terço da biomassa terrestre é formado por formigas e que os únicos lugares no mundo onde elas não existem são nos pólos, na Cordilheira dos Andes e no Monte Everest, por conta da temperatura amena.
Como nossa realidade é outra, ele diz que devemos aprender a conviver com elas já que são essenciais para o bom funcionamento do meio ambiente. Tanto as saúvas (Atta spp.) quanto as quenquéns (Acromyrmex spp.) causam sérios danos às plantas devido ao corte de folhas, brotos e cachos.
“Existem os dois principais gêneros da formiga cortadeira, cada uma tem sua preferência por tipos específicos de plantas. Elas cortam as folhas e levam para os ninhos para alimentar um fungo presente dentro do formigueiro. Esse fungo decompõe essa matéria, que serve de alimento para elas. Uma verdadeira sociedade”, explica.
Importância no meio ambiente
O professor pede para a população não abominar as formigas. Elas são importantes pois levam nutrientes para certas camadas do solo que não acontecem naturalmente e isso ajuda a vegetação local. Além disso, as formigas trabalham como lixeiras da natureza, limpando a superfície e dando mais liberdade para as plantas crescerem. Mesmo assim, elas são capazes de acabar com o plantio, danificar a colheita, causar erosões, soterramentos e até “engolir” tratores, como aconteceu com um professor aqui da cidade durante trabalho de campo.
“Isso acontece porque o ninho é subterrâneo e pode chegar a 8 metros de profundidade e até 50 m² de extensão”, diz Bianca Bruning, mestranda em agroecologia e especialista em educação ambiental. Outro ponto interessante a ser levantado é a longevidade de um formigueiro. “Podem durar de 25 a 30 anos se não sofrerem ação humana. Um formigueiro como o que temos aqui, deve ter uns 13 anos e mais de 7 milhões de formigas”, comenta Júlio.
Quando há formigueiros assim em grandes propriedades e atinge enormes plantações, o engenheiro agrônomo é contratado e entra em cena para fazer um estudo do local, do tipo de formiga e espécies. “Cada situação pede uma forma de agir diferente. Às vezes, o dono da fazenda acha que tal fórmula vai acabar com as cortadeiras, mas não as atinge de forma certa e acaba multiplicando o número de formigas”, explica Bianca. Por isso, um profissional qualificado é importantíssimo em momentos como este.
Manejo e controle
O professor dá algumas dicas para diminuir o número de cortadeiras, mas lembra a importância de não exterminá-las, até porque seria praticamente impossível. A manipueira, que é o primeiro extrato da mandioca, é um controlador natural e tem apresentado um resultado muito positivo. Ele contém ácido cianídrico e intoxica o formigueiro.
“O vinagre também funciona bem. Infusão de hortelã e gengibre as formigas odeiam, pois são antifúngicos e matam o fungo alimentador dentro do formigueiro. Dessa forma, elas morrem de fome”, diz o professor. Bianca lembra que gergelim e batata doce também são ótimos. O ideal e sugerido pelos dois é usar uma seringa e colocar direto dentro do formigueiro, na fonte.
Outra dica é pegar o bolor da laranja, geralmente azul ou verde, rico em penicilina.
O professor ensina a fazer essa receita. “Pegue esse fungo, corte em pedaços e coloque em uma vasilha com água, 100 g de açúcar mascavo e deixe curtir por uns 3 dias em local seco com pouca luz. Feito isso, coe o líquido e jogue dentro do formigueiro. Está pronta a sua poção”, brinca.
Com esse líquido, os esporos do fungo ficarão lá. À medida em que a formiga passar por ali, ela leva esse fungo na patinha e a transporta até essa fonte de alimentação. Este é mais forte que o existente no formigueiro, que acaba matando a fonte de alimento e elas morrem.
Além destas receitas, Júlio disponibilizou gratuitamente para os leitores do Diário do Noroeste o livro “Pesticidas da Vovó”. Nele você encontra receitas naturais e caseiras para o controle de formigas e insetos.
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