LUCIANO TRINDADE
DA FOLHAPRESS
Menos de três meses após o fim da Copa do Mundo, o Qatar começa a colher as primeiras impressões de seu ambicioso projeto de expansão global em busca de uma posição estratégica na geopolítica do Golfo.
Sediar o maior torneio de futebol do planeta em 2022 ajudou a nação do Oriente Médio a melhorar a sua percepção internacional, presente pela primeira vez no grupo das 25 nações com maior influência global, segundo a edição 2023 do Soft Power Index, divulgado nesta quinta-feira (2) em Londres.
“A organização de um grande evento esportivo pode realmente colocar uma marca nacional no mapa. Com melhorias registradas nos três indicadores chave de desempenho –familiaridade, reputação e influência–, o Qatar entra no top 25 pela primeira vez, ficando em 24º lugar no ranking geral do índice”, cita o documento.
O relatório da consultoria Brand Finance é baseado nas respostas de mais de 110 mil entrevistas com um público especializado, formado por governos, organizações da sociedade civil, diplomatas, comunidade de negócios e do público geral, em cerca de 100 países.
Todos responderam a questionamentos sobre 11 indicadores, incluindo a resposta dos países à pandemia de Covid-19.
Foram considerados, ainda, a familiaridade da comunidade global com a nação, os graus de influência e de reputação, além do desempenho em pilares do soft power: negócios e comércio, governança, relações internacionais, cultura e patrimônio, mídia e comunicação, educação e ciência, pessoas e valores e futuro sustentável.
O termo “soft power” (poder suave) foi cunhado pelo cientista político norte-americano Joseph Nye na década de 1980. Ele afirma que exercê-lo depende da expansão dos valores políticos e culturais de um país para outros. O índice divulgado nesta quinta, portanto, descreve as habilidades de um país exercer influência sobre outros.
Segundo o relatório da Brand Finance, apesar da cobertura crítica que o Qatar recebeu durante a Copa pelo histórico de desrespeito aos direitos humanos e supressão de direitos civis, sobretudo das mulheres e da comunidade LGBTQIA+, o país melhorou sua imagem nos indicadores que tratam desses temas.
O relatório aponta que, apesar das reclamações, a percepção global sobre como o país “respeita a lei e os direitos” subiu 11 níveis e o índice de “tolerância e inclusão” cresceu 12, resultados que fazem parte da métrica que fez a nação aparecer pela primeira vez entre as 25 mais influentes do mundo.
“O Qatar exibiu seus principais ativos de soft power para uma audiência global de fãs nos estádios e na frente das telas de TV, melhorando as percepções principalmente nos atributos de cultura e patrimônio”, cita outro trecho do documento.
Outras nações do Golfo também subiram posições no ranking global de soft power, num movimento que é explicado pela crescente relevância dos países da região no cenário de crise global de energia provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia.
A Arábia Saudita, por exemplo, passou a figurar pela primeira vez entre as 20 nações mais influentes, com o 19º lugar da lista, liderada pelos Estados Unidos.
A decisão de Vladimir Putin de invadir o território ucraniano também impactou o índice geral do país do leste europeu. A classificação de reputação da Rússia no estudo, um dos principais indicadores de soft power, caiu do 23º para o 105º lugar, resultando em uma queda de pontuação de de -1,3 pontos, fazendo com que a nação caísse do top 10 geral do ranking, ficando na 13ª posição.
Na contramão dos russos, a Ucrânia viu todos os seus indicadores subirem e aparece na 37ª posição do ranking ante o 51º lugar que ocupou na lista em 2022.
O estudo cita, por exemplo, que a popularidade do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, e de seus ministros, faz com que a nação suba 36 posições no indicador de “líderes admirados internacionalmente”.
Brasil perde força no soft power – De acordo com o estudo divulgado nesta quinta-feira (2), o Brasil caiu da 28ª para a 31ª no ranking global de soft power devido, sobretudo, à gestão da pandemia de Covid-19 e a política ambiental do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), além do conturbado ambiente político que marcou o período eleitoral em 2022.
O relatório diz que o “ambiente político volátil” do Brasil ganhou cobertura mundial e afetou sua posição de soft power. O país pontua abaixo da média global no pilar governança, no qual caiu 28 posições, figurando agora no 86º lugar globalmente, índices que afetaram sua posição no ranking geral.
Os brasileiros, contudo, mantiveram-se como os “líderes em esportes” do mundo e os mais “divertidos” do que qualquer outra nação globalmente.