ANA BOTTALLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A ansiedade de se vacinar contra a Covid-19 supera até mesmo o medo da agulha. Foi assim, há um ano, quando teve início a campanha de vacinação nacional com muitos adultos, e agora esse mesmo sentimento se reflete nas crianças.
Para elas, o “ardidinho” que fica depois de uma picada vale muito depois de quase dois anos da pandemia no Brasil. É após tomar a vacina que as crianças ouvidas pela Folha vão voltar a ver seus amigos, familiares, ir ao cinema e até se sentir seguros para viajar.
Pelas recomendações do Ministério da Saúde para a campanha de vacinação de crianças de 5 a 11, as primeiras a receber o imunizante da Pfizer devem ser as com comorbidades, deficiência permanente, indígenas e quilombolas.
Em seguida, a pasta indica que sejam vacinadas as que vivem com pessoas do grupo de risco para Covid, como idosos e imunossuprimidos. Na sequência, é sugerido um escalonamento por faixa etária, começando pelos mais velhos.
Em alguns estados, como São Paulo, a imunização dos pequenos já começou na última sexta (14), após a chegada do primeiro lote de doses pediátricas.
Francisco Spanghero dos Reis Santos, o Chico, 10, diz que, a partir do momento que for anunciado que ele já pode se vacinar, não vai conseguir nem dormir de tamanha a expectativa.
“Eu estou esperando os segundos para tomar a vacina, só não estou contando os dias porque não sei quando é [a minha data]. Mas a ansiedade é bem maior do que a dor [da injeção]”, diz.
Segundo ele, a primeira coisa que vai fazer depois de tomar a vacina é juntar os amigos para uma festa. “Eu não fiz uma festa no meu aniversário do ano passado, eu só encontrei em outubro com oito amigos, mas o planejamento é chamar 17. Depois de tomar a vacina vai ser bem mais seguro.”
A expectativa de tomar uma injeção, nesse caso, supera a de qualquer outra vacina no passado. A campanha de imunização anual contra a gripe, que no último ano atingiu 71% do público-alvo infantil, leva milhares de crianças a tomarem a vacina todo ano, mas às vezes a contragosto.
“Eu não gosto que tenho que tomar a vacina da gripe todo ano e como eu não estou animado dói muito, mas nesse caso vai valer a pena”, conta Chico.
Já para a vacina da Covid, as crianças estão superando o medo, seja da dor, seja da agulha. “Ano passado acabou meu medo de tomar vacina, eu parei de chorar com a injeção e agora tomo qualquer uma”, conta Alice Faria Reale, 8, agora uma “expert” no tema.
“A vacina dá uma protegida muito forte para que a gente não tenha a doença muito grave, e por isso eu parei de ter medo, porque é uma coisa boa”, diz ela, que até deu dicas na sala de vacinação para um menino mais novo que estava com medo da vacina no último ano.
As gêmeas Gabriele e Paula Antunes Pires, 11, divergem quanto ao medo da dor. Gabriele afirma que não tem medo de injeção e está contando os dias para tomar a vacina, enquanto Paula torce um pouco a cara e confessa que está com receio.
“Eu fico com um pouquinho de medo da dor, porque nossa mãe tomou a segunda dose e ficou com o braço doendo, mas eu sei que vai passar rápido e depois vou ficar imune”, diz Paula.
Diego Alves dos Santos, 11, até se preocupa com alguns dos efeitos da vacina, pois a mãe relatou febre, cansaço e muito mal-estar após a segunda dose da vacina da AstraZeneca, efeitos que são esperados e somem em um a dois dias.
“Até fico com medo de sentir dor, mas acho a vacina com injeção mais segura, ela funciona melhor”, opina, numa comparação com a vacina no formato gotinha –como a contra poliomielite.
A experiência da gotinha, aliás, não fez sucesso com Alice Pacheco Sadoki de Freitas, 5, pelo “gosto ruim”. Já quando o assunto é injeção, a menina diz não ter medo de agulha e se acha mais corajosa que a irmã, Maria Clara, 7.
“Eu quero muito tomar a vacina da Covid para ficar bem!”, afirma Alice. Maria Clara, mais contida, acha que a agulha dói bastante, mas reconhece como é bom tomar a vacina para ficar protegida.
A imunização das crianças não será obrigatória no país, mas os pais que não levarem os filhos para se vacinar podem ser multados ou até perder a guarda, dizem especialistas.
A depender dos pequenos ouvidos pela reportagem, porém, a escolha é certa.
“Desde o ano passado eu vi que muitas crianças começaram a pegar [a Covid], aí eu fiquei preocupado. Por que não tinham lançado a vacina para criança, né? E tem o risco até de morrer, muitas crianças morreram”, explica Diego.
Alice Reale acha que todas as crianças tinham que tomar a vacina, principalmente as mais novas, “porque eles são muito pequenas e precisam ter bastante proteção”. “Agora não pode tomar escondido, né, tem que ter autorização dos pais. Eu acho importante tomar para não ficar doente”, diz.
Paula e Gabriele esperam poder tomar a vacina para ver pessoas mais velhas da família, como a bisavó de 94 anos, e viajar.
“Nós crianças temos risco de passar para eles [os mais velhos] e eles ficarem mal, então é uma coisa boa tomar a vacina”, reflete Paula. Gabriele é taxativa: a primeira coisa que quer fazer quando tomar a vacina é ir para Paris.
Já Alice Freitas, que fez um exame para Covid na última semana que deu positivo, diz que quer tomar a vacina “para não pegar de novo”. “Eu quero ficar bem, ver meus amigos e ficar com a família toda sem máscara”, conta.
A liberação da máscara, aliás, é um desejo de todos os entrevistas. Apesar disso, entendem que é preciso continuar usando a proteção mesmo vacinados.
“A gente ficou de máscara no encontro do Ano-Novo, só tirou um pouquinho, mas não dá para ver o rosto direito… Quando eu tomar a vacina vou poder ver melhor meus amigos [também vacinados]”, conta Maria Clara.
E, para os que não estão ainda tão animados com a vacina, os pequenos sugerem que, se houvesse uma campanha voltada para esse público para explicar e incentivar a imunização, mais crianças iam perder o medo de se vacinar.
“Seria legal com um desenho animado, algum personagem para ficar mais interativo, para as crianças se emocionarem e tomarem a vacina”, projeta Alice Reale. “Ou a campanha com crianças de verdade falando que não tem problema tomar a vacina, eu ia gostar.”
Gabriele logo pensa no Zé Gotinha. “Se as pessoas assistissem a um comercial com o Zé Gotinha, por exemplo, dizendo que precisa tomar a vacina, ia diminuir o medo dos mais novos”, reforça.
Procurado, o Ministério da Saúde disse em nota que a campanha está em desenvolvimento e a veiculação deve ser iniciada nesta semana.
Indagados sobre as declarações do presidente Jair Bolsonaro (PL), sobre não querer vacinar a sua filha Laura, 11, os pequenos acharam que é errado porque as crianças também podem pegar Covid.
“Eu acho uma hipocrisia porque a vacina é para te ajudar, ajudar os outros, e acho que quem não quer não conhece a ciência por trás das vacinas”, explica Paula.
Para Chico, é “irresponsável” recusar a vacina. “Estão dizendo que a vacina pode dar ataque cardíaco, mas é um número muito baixo [cerca de 0,0002%, de acordo com dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano]. E a Covid também pode dar problema no coração”, lembra.
Venha nos visitar
Av. Paraná, 1100 - Jardim América - Paranavaí - PR
CEP 87705-190
Fale com a Recepção: (44) 3421-4050