JULIANNE CERASOLI
UOL/FOLHAPRESS
Quando se fala em decisões polêmicas na Fórmula 1 que acabaram beneficiando a Red Bull, é impossível deixar de lembrar da final do campeonato do ano passado, quando um procedimento de Safety Car foi chave para o mundial de pilotos. Mas dois exemplos recentes, bem menos famosos, seguem na mesma linha, e apontam para uma vantagem importante para o time que lidera ambos os campeonatos também fora das pistas.
Estes dois exemplos aconteceram nas duas últimas corridas. Na Espanha, os membros da Ferrari perceberam que o carro de Max Verstappen demorava a sair dos boxes para alinhar no grid, mesmo estando com o motor ligado. Logo observaram uma acalorada discussão entre membros da Red Bull e da Federação Internacional de Automobilismo.
O motivo era a temperatura do combustível, que deveria estar 10 graus abaixo da temperatura da pista declarada pela FIA 2h antes da largada. Ao manter o motor ligado, a Red Bull buscava aquecer o combustível para estar dentro das regras. E a discussão era se o carro tinha que estar dentro do regulamento assim que saísse da garagem, ou assim que fosse ligado.
No final das contas, a posição da Red Bull de que o combustível só tinha que estar na temperatura mínima regulamentar quando saísse da garagem foi a considerada pela FIA, e por isso não houve nenhuma punição.
Uma semana depois, a Ferrari não ficou só na observação e protestou o resultado do GP de Mônaco. Segundo o chefe da equipe, Mattia Binotto, o protesto “visou apenas buscar um esclarecimento, e não foi algo direcionado à Red Bull.” A discussão era sobre o que seria considerado ilegal na entrada e saída do box: pelo menos um dos pneus cruzar totalmente a linha, como diz o código desportivo da FIA a partir deste ano, ou apenas tocar a linha que delimita e entrada e saída dos pits, como as anotações do diretor de prova do GP de Mônaco determinavam?
Essa discussão era mais fácil para a Red Bull, pois o código desportivo está acima do documento da direção e prova, e tudo acabou apenas expondo a fragilidade do sistema da FIA, uma vez que o texto tinha simplesmente sido copiado de uma regra que já não é válida.
De qualquer maneira, é justamente quando há essas áreas cinzentas no regulamento que o time de Milton Keynes tem levado vantagem. Mas por quê?
Nos bastidores da F1, o que se comenta é que essa vantagem não é nenhuma preferência e, sim, fruto de um departamento jurídico forte. E bem representado na pista. Sempre que a Red Bull e seus pilotos são chamados para se explicarem para os comissários, é Jonathan Wheatley quem os acompanha. Ele é o diretor esportivo da Red Bull, tendo começado a carreira no automobilismo como mecânico. O britânico foi subindo dentro da Benetton nos anos 1990 até se tornar chefe dos mecânicos da Renault, indo para a Red Bull um ano depois que a empresa comprou a Jaguar, em 2006.
Seu papel na equipe é amplo. Ele chefia a equipe de pit stop, que inclusive é uma das melhores da F1, por exemplo, e também é o responsável por assegurar que a equipe está trabalhando dentro das regras. E por convencer a FIA disso. Apesar de não ser advogado, seu trabalho é não apenas conhecer as regras de cabo a rabo, como também escolher bem as palavras para defender a equipe justamente quando aparecem essas situações limítrofes.
Com a temporada esquentando, devemos ver Wheatley e o departamento jurídico da Red Bull mais vezes em ação. Inclusive, em mais brigas sobre o combustível, já que a expectativa é de um verão bastante quente na Europa. Dentro e fora das pistas.