LUCIANO TRINDADE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Apresentado na tarde de quinta-feira (11) como técnico da seleção brasileira, Dorival Júnior, 61, cobrou dos jogadores uma mudança de comportamento para ajudar a equipe a sair da crise que se instaurou ao longo de 2023, provocada, sobretudo, pelo fraco desempenho nas Eliminatórias da Copa do Mundo.
O treinador entende que, em momentos assim, o comum no futebol é a cobrança recair sobre técnicos e seus auxiliares. Para ele, os atletas também precisam assumir mais responsabilidades.
“O atleta não tem ideia do que ele representa, de quanto ele pode, das qualidades que ele possui, do diferencial que ele pode ser. É nesse sentido que eu peço que cada um assuma um pouco mais as responsabilidades. Dividindo, é natural que você torne o fardo muito menos pesado”, disse o treinador.
O Brasil vai mal nas Eliminatórias para o Mundial de 2026. A seleção verde-amarela figura, neste momento, apenas na sexta posição, a última que garante uma vaga direta na Copa, e encerrou o último ano com uma inédita sequência de três derrotas consecutivas na disputa do torneio classificatório.
A série abreviou a passagem de Fernando Diniz à frente da equipe. Ele havia sido contratado como interino – a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) esperava o italiano Carlo Ancelotti, que acabou renovando contrato com o Real Madrid -, e os resultados afastaram sua chance de ser efetivado.
Dorival não acredita que seja necessária uma reformulação completa, com uma mudança radical no elenco que vinha trabalhando com Diniz. O ex-comandante do São Paulo entende que seja hora de trabalhar mais o aspecto psicológico do grupo.
“Não é nem uma mudança de nomes, o que já vem acontecendo de uma maneira gradativa em relação à seleção que jogou a última Copa. É uma mudança emocional, postural. O atleta tem que entender que está aqui vestindo uma camisa muito pesada, referência no mundo todo”, disse.
Um dos atletas sob seu comando será Neymar, com quem teve atrito no Santos em 2010. Na ocasião, uma discussão para a definição do batedor de pênaltis do time acabou provocando a demissão do técnico. De acordo com o treinador, a repercussão do caso foi exagerada.
“Não tenho problema nenhum com o Ney. Aquela situação foi desproporcional”, disse ele, que chamou o jogador de “um dos três maiores do mundo”.
Mas Neymar teve problema grave no joelho e só voltará a atuar no segundo semestre. “O Brasil tem que aprender a jogar sem o Neymar porque agora ele tem uma lesão. Só depois vamos contar com ele.”
Dorival foi contratado pelo presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, um dia depois de o dirigente ter sido reconduzido ao cargo por decisão liminar do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
O cartola havia sido afastado em dezembro pelo TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), pelo entendimento de que era irregular o acordo firmado em 2018 entre CBF e MPF (Ministério Público Federal), que abriu caminho para a eleição de Ednaldo.
A decisão tomada por Gilmar Mendes ainda precisa ser ratificada pelo plenário do STF, o que deve ocorrer apenas em fevereiro.
Dorival não acredita que a turbulência política possa atrapalhar seu trabalho. “É um assunto em que eu não entro. Tenho a confiança do presidente para fazer meu trabalho daqui para a frente: preparar a equipe, ganhar jogos e chegar a uma Copa do Mundo que será muito disputada.”
À frente da seleção brasileira, além de conviver com a constante instabilidade na direção da CBF e buscar uma melhor pontuação nas Eliminatórias, Dorival terá como desafio recuperar a equipe para a disputa da Copa América deste ano, nos Estados Unidos.
Antes disso, o Brasil terá amistosos importantes, contra Espanha, Inglaterra e México, conforme anúncio feito pela CBF nesta quinta-feira.