LEONARDO VIECELI E EDUARDO CUCOLO
DA FOLHAPRESS
O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil perdeu força no terceiro trimestre deste ano, mas ainda apresentou leve variação positiva de 0,1% em relação aos três meses imediatamente anteriores, conforme dados divulgados nesta terça-feira (5) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado superou a mediana das estimativas do mercado financeiro, que era de recuo de 0,3%, segundo a agência Bloomberg. A seguir, entenda em quatro pontos o que ajudou e o que prejudicou o resultado.
- Consumo das famílias acelera com mercado de trabalho e transferências – Pelo lado da demanda por bens e serviços, o PIB do terceiro trimestre contou com a contribuição positiva do consumo das famílias, que subiu 1,1% após avançar 0,9% no segundo trimestre.
O desempenho do consumo, conforme o IBGE, foi puxado pela retomada do mercado de trabalho e pelas transferências de programas sociais. Neste ano, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recriou o Bolsa Família, que substituiu o Auxílio Brasil.
A alta do consumo das famílias ocorreu apesar do cenário de juros em patamar ainda elevado, o que dificultou a compra de bens e serviços, sobretudo aqueles mais caros e dependentes do crédito.
Ainda pelo lado da demanda, houve avanço de 0,5% no consumo do governo no terceiro trimestre e alta de 3% nas exportações, segundo o IBGE.
- Investimentos caem com juros altos – Os investimentos produtivos na economia brasileira, medidos pelo indicador de FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), não conseguiram escapar do impacto dos juros elevados. No terceiro trimestre, caíram 2,5%. Foi a quarta baixa consecutiva desse componente.
“É um reflexo da política monetária contracionista, com queda na construção e também na produção e importação de bens de capital. Todos os componentes que mais pesam nos investimentos caíram neste trimestre”, disse Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
- serviços e indústria sobem – Do lado da oferta de bens e serviços, o PIB do terceiro trimestre contou com avanços de 0,6% nos serviços e na indústria.
Nos serviços, os maiores destaques vieram das atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (1,3%), especialmente na parte ligada aos seguros, e das atividades imobiliárias (1,3%).
Na indústria, o IBGE ponderou que o único crescimento mais acentuado foi registrado pelo setor de eletricidade e gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos (3,6%).
Nesse caso, houve influência do crescimento do consumo de energia em meio a ondas de calor. Cidades como São Paulo bateram recorde de temperaturas em setembro.
“Está sendo um ano bom para o setor [de eletricidade e água], sem problemas hídricos e com bandeira verde. Também foi muito quente, o que favoreceu o consumo de eletricidade e de água”, apontou Palis.
- Agropecuária recua após impulso no início do ano – A agropecuária, por sua vez, teve queda de 3,3% no terceiro trimestre. A baixa era aguardada por analistas, já que o efeito maior da produção no campo aparece na primeira metade do ano.
A agropecuária impulsionou o PIB no início de 2023 e, segundo o IBGE, ainda é a principal influência positiva entre os grandes setores no acumulado do ano.
“A agropecuária atingiu o seu maior patamar no trimestre passado e neste há a saída da safra da soja, a maior lavoura brasileira, que é concentrada no primeiro semestre. Então há a comparação de um trimestre em que há um grande peso da soja com outro em que ela não pesa quase nada”, disse Palis.
“Portanto, essa queda era esperada, mas está sendo um bom ano para a atividade, que está acumulando alta de 18,1% até o terceiro trimestre”, completou.