RAFAEL BALAGO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A cada três meses, as empresas listadas em Bolsas de Valores precisam informar ao mercado como estão as suas finanças. Elas, então, divulgam demonstrações de resultados, apontando lucros e prejuízos naquele período.
Uma vez por ano, elas precisam publicar um balanço patrimonial completo, dando detalhes sobre os bens que possuem, as dívidas pendentes e como seus números se comportaram no ano anterior.
“O balanço não detalha todos os altos e baixos que uma empresa teve no ano, mas sim um momento específico, como em uma foto. E quando vamos tirar foto, a gente arruma o cabelo, coloca uma roupa mais bonita. Com as empresas, é a mesma coisa. Elas buscam mostrar números bons neste momento, mas seguindo as regras”, analisa Johnny Silva Mendes, professor de finanças na Faap.
Na quarta (11), a Americanas gerou um choque no mercado ao revelar que tinha cerca de US$ 20 bilhões em dívidas que não haviam sido registradas em seu balanço.
A seguir, entenda melhor como os balanços funcionam.
*
O QUE É UM BALANÇO PATRIMONIAL?
Um documento, geralmente anual, que aponta qual é a situação financeira de uma empresa em uma determinada data.
O material deve listar os valores de todos os ativos e passivos que a empresa tem. Ou seja: toda a riqueza que possui e todas as dívidas e pendências a pagar, como impostos, indenizações trabalhistas etc.
Na parte de ativos, entram bens como dinheiro em caixa, carros, instalações, imóveis, valores investidos em aplicações financeiras, estoques, valores a receber de clientes etc.
Em passivos, se somam as dívidas que a companhia tem a pagar. É normal que as empresas façam empréstimos de valores elevados, desde que demonstrem ter capacidade para honrar os compromissos.
A análise do valor de ativos e passivos permite saber qual o patrimônio líquido de uma empresa. Assim, se uma empresa tem R$ 1 milhão em ativos e R$ 400 mil em passivos, seu patrimônio líquido é de R$ 600 mil, por exemplo.
Além do balanço, há a DRE (Demonstração de Resultados do Exercício), que aponta se a empresa teve lucro (ganhou mais dinheiro do que gastou) ou prejuízo (gastou mais do que faturou) em dado período. É comum que grandes empresas divulguem DREs a cada trimestre.
QUEM TEM QUE APRESENTAR BALANÇOS?
Companhias que possuem capital aberto e são listadas em Bolsa. Empresas no regime do Simples, por exemplo, não precisam produzir balanços.
EM QUE CASOS OS BALANÇOS SÃO USADOS?
Investidores utilizam os dados para decidir sobre comprar ou não ações e títulos daquela empresa. Bancos e credores veem os dados para aprovar empréstimos ou renegociar dívidas.
O documento também é usado para determinar a entrega de participação nos lucros para acionistas e na avaliação do valor de mercado da companhia, em caso de venda.
COMO ELE É ELABORADO?
O setor de contabilidade das empresas faz um levantamento das informações da empresa e coloca os dados em um formato específico, chamado IRFS (normas internacionais de relatórios financeiros, na sigla em inglês). Essas regras determinam como os ativos, dívidas e outros itens devem ser apresentados.
E COMO É FEITA A AUDITORIA?
As grandes empresas contratam escritórios de auditoria para certificar que os dados dos balanços estão corretos. No entanto, as auditorias costumam fazer checagem por amostragem, e não conferem 100% dos balanços.
“As auditorias geralmente pegam 10% dos valores do balanço e os analisam em detalhes, como checar as notas fiscais, os detalhes dos contratos de dívidas etc. Se houver inconsistências, podem analisar mais dados, como 20% ou 30% do total. As auditorias podem sugerir às empresas que corrijam os dados errados e os eventuais problemas encontrados são citados nas notas explicativas, publicadas com os balanços”, detalha Mendes.
O QUE ACONTECE SE HOUVER ALGUMA INCONSISTÊNCIA NO BALANÇO?
Uma empresa que declarar valores diferentes dos reais pode sofrer processos em várias instâncias.
Na esfera tributária, pode ter ser cobrada por impostos que deixou de pagar ao declarar um faturamento menor, por exemplo. No âmbito civil, pode ser processada por investidores que perderam dinheiro por causa do erro. Credores podem alegar na Justiça que foram enganados e cobrar indenizações também.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) também pode investigar a empresa e estabelecer punições.
Estes processos podem gerar multas e indenizações milionárias, que somados podem levar a empresa à falência.
A AUDITORIA QUE NÃO IDENTIFICAR FALHAS PODE SER PUNIDA?
Sim. Elas também podem ser alvo de processos judiciais. “As empresas de auditoria costumam reservar recursos, em seus próprios balanços, para pagar multas sobre possíveis erros que cometam”, explica Mendes.
O professor aponta que os erros também arranham a reputação das auditorias, algo que pode ser difícil de recuperar após uma falha grande. Nos anos 2000, a auditoria Arthur Andersen, uma das maiores do mundo, quebrou depois de ter dado aval a relatórios da Enron, empresa americana de energia, que estavam repletos de fraudes. A companhia havia escondido dívidas de US$ 25 bilhões.
COMO ENCONTRAR SINAIS DE FALHAS EM UM BALANÇO?
Além de olhar as notas explicativas, Mendes indica analisar o formulário de referência, um outro documento elaborado pelas empresas de capital aberto, que detalha melhor seu patrimônio, dívida e outros itens financeiros.